sábado, 30 de março de 2013

Jack: O Caçador de Gigantes


Jack - O Caçador de Gigantes
(Jack the Giant Slayer, 2013)
Aventura/Fantasia - 114 min.

Direção: Bryan Singer
Roteiro: Darren Lemke, Christopher McQuarrie e Dan Studney

com: Nicholas Hault, Eleanor Tomlinson, Ewan McGregor, Stanley Tucci, Ian McShane

Vez ou outra me pego num dilema: como escrever sobre aqueles filmes que te irritam em níveis cromossômicos? Cair na óbvia provocação e desfilar uma serie de argumentos sobre o quão irritado você ficou com aquilo? Ou apostar na ironia e no bom humor, já que cinema é uma grande fábrica de magia e sonho (filosofei agora).

Sempre acabo optando pela segunda opção por mais irritação que um filme me provoque e será dessa forma que essa "coisa" chamada Jack, o Caçador de Gigantes será abordada por aqui. A produção de Bryan Singer é pavorosa, não conseguindo acertar na composição dos personagens, no escopo da história e no visual dos gigantes.

Vamos começar com a trama e os personagens. Essa é mais uma daquelas historias que pretende "dar um ar moderno" a um conto clássico, como fizeram Garota da Capa Vermelha, João e Maria - Caçadores de Bruxas e as duas versões de Branca de Neve lançadas ano passado. No caso, a história não foi tão vilipendiada assim, e continua falando sobre Jack (ou João) e o pé de feijão. O que muda é a quantidade enorme de coadjuvantes que - se minha memória não me engana - não apareciam na historia original. Casos da princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson), do rei Brahmwell (Ian McShane), do capitão da guarda Elmont (Ewan McGregor) e do pretende da princesa e primeiro ministro Roderick (Stanley Tucci). O filme começa com a criação de uma ligação quase espiritual entre a princesa e o humilde fazendeiro em um prólogo que mostra a paixão dos dois (ainda criança) pelas histórias mágicas sobre os gigantes vencidos por um antigo rei.


Jack é interpretado por Nicolas Hoult, um ator interessante, mas que está perdido sem saber se seu personagem é um jovem em busca de seu lugar ao sol ou se simplesmente foi vítima do acaso, já que sua suposta paixonite pela princesa surge de forma tão gratuita como as cenas que o filme apresenta a rebeldia da princesa. Ewan McGregor como o chefe da guarda está em modo Alan Rickman (lembram-se do ator naquele Robin Hood todo errado de Kevin Costner? Pois é), tentando extrair graça de uma trama infeliz que não aproveita a presença do que deveria ser o grande vilão da história, em papel bastante ingrato de Stanley Tucci.

Os problemas do escopo da historia estão na montagem das sequências de ação, que tentam dar uma dimensão de grandiosidade que a produção e os atores simplesmente não conseguem fazer funcionar. Quando você tem uma tropa de dezenas de gigantes correndo por campo aberto e que é impedida de avançar por uma dezena de humanos e um portão de ferro, você começa a questionar o quanto daquilo não está na tela apenas para esticar a projeção e fazer com que os heróis da historia tenham momentos de bravura.

E os gigantes? Quando os vemos a longa distancia, nesse tipo de sequência de ação onde os mesmos surgem correndo e pisoteando, as criações digitais até funcionam, mas quando somos presenteados com closes enfocando expressões faciais a coisa é bem diferente. Quando se atinge o nível de um Gollum é difícil crer em criaturas digitais que tenham qualidade de realização inferior.



O ritmo do filme é talvez (acreditem ainda fica pior) o mais grave das questões negativas da produção de Bryan Singer. Se ele até começa com bom ritmo, com o prólogo bem construído com animação e um primeiro ato que flui muito bem, a partir do momento que Jack pega os feijões e os grãos crescem, o filme só vai perdendo fluência. O meio do filme é tedioso com o desperdício de personagens e a consolidação da ideia dos gigantes serem puramente cruéis.

Bryan Singer já fez coisas muito melhores e parece ter se esquecido de como comandar um filme com tantos focos e personagens diferentes. É sintomática que a única boa piada da produção seja aquela que encerra o filme, que se não é um primor de inteligência pelo menos é divertida. O oposto desse arremedo de conto de fada.

sexta-feira, 29 de março de 2013

A Hospedeira



A Hospedeira
(The Host, 2013)
Romance/Ficção Científica/Aventura - 125 min.

Direção: Andrew Niccol
Roteiro: Andrew Niccol

com: Saorsie Ronan, Max Irons, Jake Abel, Diane Kruger, William Hurt

Falar mal de qualquer coisa escrita por Stephenie Meyer é uma diversão de muita gente. Além de não ver necessidade dessa perseguição (que me parece bem infantil na verdade) acho que se você simplesmente não gosta de uma coisa, ignorar a existência do objeto é a melhor forma de demonstrar sua insatisfação. Por isso, prevejo uma coleção de "haters" (profissionais ou não) que sequer viram ou leram A Hospedeira vociferando internet afora simplesmente pelo filme ser uma adaptação de um livro da referida escritora.

Isso significa que A Hospedeira é bom? Não. Essa não é uma defesa do filme, mas uma constatação de que se perde tempo demais "falando mal" de coisas que não se gosta e pouquíssimo tempo elogiando coisa que se ama. Dito isso, vamos ao filme.

Hospedeira guarda algumas ligações com a obra anterior de Stephenie Meyer. Assim como em Crepúsculo, a protagonista é uma garota e em determinado momento (embora isso aconteça de forma mais criativa) divide seu amor entre dois homens. Na trama a Terra vive em paz, harmonia e felicidade, depois que foi invadida e quase totalmente absorvida por uma raça de criaturas que usam os corpos humanos como hospedeiros. Os poucos humanos que não foram assimilados vivem foragidos. Uma dessas garotas é Melanie, que ao tentar fugir de uma tropa de alienígenas cai de um prédio e fica a beira da morte. Recuperada recebe seu implante alien, mas, mantém consciência da sua "vida anterior" e a partir dai começa um dialogo entre a mente da garota e a entidade alien que a "ocupa".


Aos poucos, a consciência da garota convence a alienígena a procurar seu irmão pequeno que fora deixado no lugar onde ela havia se acidentado e seu namorado/amante. Diante da dos sentimentos da garota, a entidade acaba se afeiçoando aos hospedeiros de sua espécie e parte para o encontro do restante dos humanos.

A vilã da vez é Diane Kruger obcecada em descobrir os segredos da garota, já que sua companheira alienígena tem acesso às memórias da humana. Sua vilã é razoável apesar de conseguir encontrar a pista da Hospedeira (mais tarde chamada de Peregrina) da forma mais boba possível: a saída do mapa escondido que indica o paradeiro das personagens que fora escondido em uma roupa. Da mesma forma, o filme a partir da metade tem uma enorme dificuldade de fazer a trama andar já que parece engessada no mesmo problema de Crepúsculo: o triangulo amoroso que não funciona e chega às raias do risível em cenas como a que envolve o personagem do galã Max Irons (Jared) que é "obrigado" a beijar Melanie para fazer com que a consciência da humana que habita se revolte com a situação e retorne de uma espécie de exílio espiritual (ou algo assim). Deu pra entender? Pois é, são cenas de vergonha alheia que tentam criar uma atmosfera de bom humor e leveza e não conseguem. O filme para movimentar-se cria uma justificativa igualmente piegas que envolve um acidente com um dos coadjuvantes, daqueles que fazem os protagonistas largarem suas vidinhas tranquilas e entrar em conflito com os vilões.

Por outro lado, existem coisas bem interessantes no filme. A protagonista de Saorsie Ronan é boa, principalmente se levarmos em consideração que ela interpreta duas personagens que tem linguagens corporais, vocabulários e atitudes diferentes em relação ao que estão enfrentando. William Hurt que vive seu tio também é outro destaque importante conseguindo extrair bons momentos de um texto que não é grande coisa. 



O clima asséptico e clean que o diretor Andrew Niccol utiliza desde Gattaca, aqui ganha momentos de ironia com inserções visuais como a que trata do desapego ao consumismo na mais que genérica "Store" (loja/armazém em inglês), onde todos os humanos absorvidos entram e pegam os produtos que precisam sem nenhum tipo de merchandising ou glamour.

Outro acerto é o fotográfico que explora bem o deserto norte-americano do Novo México com seus horizontes infinitos e as formações rochosas únicas o que dá um ar ainda mais desolado para a nova morada dos sobreviventes humanos. O visual dos alienígenas em sua forma original é simples e apesar de apostar em um conceito bem batido (os parasitas), a forma com que são apresentados é elegante e até bonita em alguns momentos como nas cenas finais quando são vistos por um viés emocional que convence. 

A Hospedeira já nasce com a rejeição de parte do público graças a quem escreveu a obra adaptada. Justificado? Em termos, já que a obra guarda semelhanças com a série de Bella e Edward, como a existência de mais um triangulo amoroso que não funciona, alguns diálogos bem pobres e a falta de tensão na trama que só é quebrada com um evento absolutamente genérico. Por outro lado o pano de fundo é mais interessante e a presença de algumas assinaturas visuais de Andrew Niccol seguram a historia. Mesmo com um epílogo desnecessário (embora sirva para sacramentar o discurso de inclusão dos personagens) o filme não é esse apocalipse anunciado.

quinta-feira, 28 de março de 2013

G.I. Joe: Retaliação


G.I. Joe: Retaliação
(G.I. Joe: Retaliation, 2013)
Ação - 110 min.

Direção: Jon M. Chu
Roteiro: Rhett Reese e Paul Wernick

com: Dwayne Johnson, Jonathan Pryce, Channing Tatum, Adrianne Palicki, D.J. Cotrona, Ray Stevenson, Bruce Willis, Ray Park, Byun-hun Lee

Sou uma cria dos anos 80. Durante minha infância tive uma dieta de Toddynho, chocolates Lollo e Charge, bolachas Negresco e muito Changeman, Gavan, Jaspion, Transformers, Thundercats e Comandos em Ação na tv. Além de assistir, tinha (e ainda tenho) brinquedos da maioria dessas series e desenhos que acompanhava na infância. Portanto, falar de um live-action de "Comandos em Ação" (sim, pra mim sempre serão Comandos em Ação) é um misto de nostalgia e dever profissional.

Aqueles molequinho de 12 anos que vibra a cada blockbuster divertido que assiste sempre me cutuca para que eu dê crédito a essas aventuras coloridas e cheia de explosão. Por outro lado, meu profissionalismo me impede de entrar no "modo fã xiita e maluco" e ignorar os muitos problemas que essa segunda aventura dos Joe's tem.

A própria ideia de uma força tarefa norte-americana (nos desenhos isso foi expandido a uma força tarefa internacional, mas enfim isso não vem ao caso) que patrulha o mundo contra o terror é uma ideia absolutamente datada e que só tinha realmente ressonância nos anos 80 quando Rambo, Schwarzenegger, Top Gun e os demais símbolos da força bélica americana eram considerados inatingíveis e reais protetores da paz da humanidade.


Hoje é muito mais complicado adaptar esse conceito a uma realidade que impede uma "polícia do mundo", portanto o conceito inocente e até ingênuo de uma organização que salva a humanidade não funciona mais. Por isso, a opção desse segundo G.I. Joe é a da conspiração nos mais altos níveis governamentais dando sequência aos movimentos orquestrados no primeiro filme da franquia. Para quem não lembra a substituição do presidente americano por um membro da organização Cobra que imita os trejeitos e com ajuda da tecnologia é transformado no já citado presidente.

A partir daí com os Cobra no comando do governo americano, os Joes são perseguidos e depois de uma operação, praticamente destruídos. Os remanescentes decidem revidar apelando para o primeiro dos Joe (na participação breve e desnecessária de Bruce Willis, que parece estar fazendo todos os filmes do mundo) na tentativa de salvar o mundo. Previsível até o último frame.

Quem continua roubando a cena é o ninja favorito de toda uma geração (não, não era o Jiraya) Snake Eyes, o calado personagem que se veste de preto e usa espadas melhor que ninguém. É dele a sequência mais impressionante da produção e que envolve uma fuga no monastério/casa de cura mais mal localizada do planeta, parkour por montanhas, briga de ninja praticamente na vertical e um corpo ensacado.


O protagonismo da trama cabe a The Rock (ou Dwayne Johnson) que faz o que se espera de um herói de ação: desce o braço sem dó, tendo direito a uma cena onde atira com sua arma apoiada na cintura no melhor clima anos 80. Por outro lado, os coadjuvantes da vez Flint (D.J. Cotrona) e Lady Jane (Adrianne Palicki) não são marcantes como eram os do primeiro filme.

E mesmo com a presença visual interessante do Comandante Cobra, o plano de dominação global é genérico e rende momentos de vergonha alheia como uma sequência - já na parte final da projeção - que envolve bombas nucleares, ou mesmo a indefectível coleção de piadinhas que causam sorrisos amarelos. Por outro lado a ação é bem orquestrada embora não passe de genérica, ou seja, você já viu aquilo antes muito melhor.

Em meio à nostalgia de rever seus brinquedos de infância (de novo) na tela grande, essa segunda aventura dos soldados da polícia do mundo é divertida por esse fator, por momentos de referência aos anos 80 (como o famigerado jipe dos Joe's que finalmente deu seu ar da graça) e por ter sequências de ação que não incomodam. Por outro lado, o texto continua absurdo, pobre e resvalando no ridículo. Mas, o que se pode esperar de um filme que adapta bonecos para o cinema?


sexta-feira, 22 de março de 2013

A Caça


A Caça
(Jagten, 2012)
Drama - 115 min.

Direção: Thomas Vinterberg
Roteiro: Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg

com: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp

Crianças nunca mentem? Esse é o mote da produção de Thomas Vinterberg sobre um pacato e simpático professor que tem sua vida destruída a partir de uma mentira contada por uma criança frustrada. A posição do diretor é ousada já que a afirmação mentirosa envolve um dos assuntos mais dolorosos e asquerosos do mundo: o abuso infantil.

Ao apostar nisso, Vinterberg consegue com que o público entenda até mesmo as motivações para com que os envolvidos nessa historia acabem agindo de forma condenatória em relação ao protagonista. Essa é a atitude normal diante de acusações tão virulentas. Automaticamente nos solidarizamos com as vitimas e atacamos os acusados mesmo sem termos provas a respeito. A óbvia lembrança ao ocorrido com a Escola de Base em São Paulo (quem lembra?) onde os responsáveis pela escola foram acusados de toda uma serie de abusos e depois se comprovou que nada daquilo era verdade. Porém, a vida dos donos já tinha sido destruída e os traumas sofridos por essas pessoas são certamente sentidos até hoje.

Esse é o caso de Lucas, que tem sua vida devassada e que realmente emociona o espectador com seu drama. A interpretação de Mads Mikkelsen é poderosa, intensa e emocionante conseguindo transitar pela sensibilidade de seu personagem e a tristeza profunda com as acusações infundadas que recebe. Acusações que ele (e o diretor inteligentemente ilustra em diversos momentos) sabe que dificilmente serão realmente perdoadas. Sua descrença em ver que sua vida está sendo destruída é comovente e conseguimos facilmente nos colocar na angustia que é ser injustamente acusado de algo que não se fez.


Vinterberg é ácido na posição com que coloca os adultos envolvidos naquela trama, já que mesmo com a simpaticíssima e carismática Klara dizendo que mentiu e que aquilo não é verdade, ninguém passa a acreditar nela também, tornando o fato uma espiral sem fim de tragédias.

A montagem é espetacular, fazendo de A Caça uma jornada rumo à tragédia onde os vencedores e perdedores não existem. Se Lucas perde sua vida, a população da pequena cidade jamais conseguirá enxergar o professor da mesma forma que o via antes das acusações ou talvez deixar de sentir-se envergonhado pelas acusações infringidas.

O filme tem momentos de grande sensibilidade como a que envolve a missa de Natal, quando o professor enxerga toda a população da cidadezinha dentro da igreja e sente-se absolutamente deslocado, como se de fato fosse um criminoso condenado. A alegada falta de ambição do personagem, em manter-se como um simples professor de jardim de infância amplia nossa simpatia para com ele, já que Vinterberg nos convence de forma inequívoca de que ele é uma pessoa de caráter que não está sequer pensando em bens materiais e que ama seu trabalho. Por isso, assim que a acusação surge, jamais sequer pensamos que exista ali alguma possibilidade para uma "revelação de último minuto", provando que ele de fato abusou da garotinha.


Somos "time Lucas" desde a saída e ver a espiral da decadência que Vinterberg produz - de forma quase masoquista - sobre a vida de seu protagonista é assustadora e muito tocante. Vinterberg explora nossa simpatia pelo personagem e nossa profunda indignação ao perceber que ninguém levantará um dedo em sua defesa.

A Caça é monumental. Um espetáculo de interpretação de Mads Mikkelsen, uma direção sóbria, inteligente, segura e que jamais apela para a solução óbvia ou instiga dúvida no espectador. Os planos finais, desnecessários ao ilustrar de forma até gratuita a tal "caça" não chegam a destruir o filme, mas enfraquecem a análise mais cerebral que Vinterberg vinha fazendo até ali. Uma pequena concessão gráfica a ideia de que ele jamais será perdoado e para todo o sempre viverá sob ameaça daqueles que não conseguem acreditar em sua verdade.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Os Croods


Os Croods
(The Croods, 2013)
Aventura/Comedia - 98 min.

Direção: Chris Sanders e Kirk DeMicco
Roteiro: Chris Sanders e Kirk DeMicco

com as vozes de: Emma Stone, Nicolas Cage, Ryan Reynolds, Catherine Keener, Cloris Leachman

Em pleno século 21, ainda tem gente que tem medo/ódio do que se apresenta como "diferente". Parece que continuamos na idade da pedra quando a "fuga" do sol durante a noite era encarada como um prenúncio do pior. É só abrir a janela e perceber como vivemos um momento ignorante de nossa historia. Por isso vem a calhar - principalmente ao ser destinado as crianças majoritariamente - que uma produção como Os Croods chegue ao cinema.

No cerne da trama, não temer o diferente e o novo. Os Croods são uma "tipica família" neandertal que vive numa caverna escura e enfrentam a morte todos os dias apenas para conseguir o café da manhã. Sua rotina diária é essa e não existe perspectiva de mudança, já que tudo que é novo ou diferente é logo vetado pelo pai da família, o intransigente Grug. A protagonista Eep é uma garota que como toda adolescente adora desafiar os conceitos de seus pais em busca de suas próprias verdades. Ela está cansada de apenas sobreviver por mais um dia e é curioso o bastante para ansiar ter mais do que isso.

Entra em cena Guy, que é um rapaz a frente de seu tempo. Criativo, original, dominando os segredos do fogo e de outras tecnologias, ele surge para revolucionar o mundo dos Croods, que sofrem com as mudanças climáticas que destroem seu refúgio (caverna). Sem casa, eles precisam vagar pelo mundo em busca de um novo lugar.


No fundo, é um road movie com essa família atravessando os belos cenários criados pela equipe da Dreamworks que criam uma realidade cheia de cores e criaturas divertidas. No meio disso, o filme retoma o tema da dificuldade de convivência entre pais e filhos assim como Sanders (um dos diretores do filme) havia estabelecido em Como Treinar seu Dragão. Como na produção viking, Eep e seu pai não conseguem se entender e é sobre essa base que a trama caminha. Os personagens - apesar de cartunescos - são bem realizados e de personalidade bastante diferente. Se a garota é pro - ativa e curiosa, seu irmão é preguiçoso e pouco inteligente. Sua irmãzinha é quase um bichinho de estimação da família, sendo voraz e agressiva. Quem rouba a cena é sua avó que está em todos os momentos engraçados da produção, com o excesso de piadas sobre a velha máxima de que a sogra não se dá bem com o genro.

Dentro dessa historia de não temer o novo ainda existe espaço pra boa ação com especial destaque para a fantástica sequência de abertura com um tema divertido criado por Alan Silvestri. Em poucos minutos o público consegue compreender a difícil rotina da família Crood para conseguir sobreviver e ainda ganha uma excelente apresentação dos personagens, muito bem realizada e divertida. Outra característica interessante é o fato de que a protagonista ser - digamos - o "sexo forte" na relação , sendo agressiva fisicamente e não tendo medo de usar da força para ameaçar seu par.

Sendo um irmão pré-histórico de Como Treinar seu Dragão com mais humor, ele foge da característica da Dreamworks em fazer mil referencias a cultura pop, deixando-as (sim, elas existem ainda) muito sutis e integradas a história que está sendo contada. Os diálogos são muito bons, misturando um humor quase cáustico com a mensagem a ser passada (já citada aqui de não temer o novo) e que dão ritmo ao filme.


Embora destinada ao público mais jovem, Os Croods acerta ao tratar de um tema importante e que ressoa a todas as idades. Além disso, relações entre pais e filhos resistem a todas as encarnações possíveis. O filme prova o quanto a Dreamworks acertou em trazer Chris Sanders a sua equipe. Tendo produzido os dois melhores filmes do estúdio até aqui é uma prova que a fórmula "bichos coloridos + citações modernosas" não funciona mais e merece ser revista.

segunda-feira, 18 de março de 2013


Duro de Matar - Um Bom Dia para Morrer
(A Good Day to Die Hard, 2013)
Ação - 98 min.

Direção: John Moore

Roteiro: Skip Woods

com: Bruce Willis, Jai Courtney, Sebastian Koch, Mary Elizabeth Winstead


Rambo, musculoso e menos atormentado com a guerra, se transformou uma máquina de matar em sua cinessérie. John Matrix, portando uma bazuca de quatro canos, destruía seus inimigos sem dó, visando salvar sua filha. O esquisito alienígena na selva até destruiu seus inimigos sem dó, como um legítimo Predador, mas não foi páreo para o destruidor ... e seu esconderijo na lama. Os bandidos de Los Angeles nunca representaram perigo para os óculos escuros de Marion Cobretti. E Nico, sempre acima da lei, mostrava que a economia nas palavras tornava o machão dos filmes dos anos 80 ainda mais ameaçador.

E tinha aquele policial de Nova York, pai ausente e marido equivocado, que foi obrigado a caçar, descalço, o vilão. E sangrar muito no processo.

Se há algo claro que transformou Duro de Matar em clássico, foi a vulnerabilidade do nada bombado Bruce Willis. A persistência do policial tornava a ação mais envolvente que nos exemplares da década. Para a segurança e força descomunal de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, Willis tinha ansiedade e falibilidade.




Uma pena, portanto, que John McClane tenha se tornado um super-soldado nas mãos de Skip Woods e John Moore. No novo exemplar da série, indubitavelmente o pior filme da série, McClane sai de suas férias para entrar em uma intriga internacional ao lado de seu filho. Seria confortante se a trama fosse ruim apenas sozinha, mas Woods faz questão de deturpar a própria série.

A começar pela estruturação da narrativa: de longas de ação não se espera muita inovação em carpintaria do roteiro, mas dividir um filme em três grandes cenas frenéticas com poucos respiros é abusar da boa fé do espectador.

O roteiro de Woods se inicia com uma sequência de créditos iniciais que mostra o plano de Jack (Jai Courtney) para assassinar um criminoso e, com isso, se aproximar de uma importante testemunha para a CIA. Se a cena já não impressiona sozinha, e é melhor para o público pensar que John Moore não quis copiar Saul Bass nos letreiros, se torna mais implausível como parte do plano inteligentíssimo que Woods constrói. Logo após a primeira explosão do filme, Jack tem que escapar com seu protegido. O problema é que seu pai, ah esse velho rabugento e teimoso!, veio para a cidade, atrás de soluções para a prisão súbita do filho, arrumando muita confusão. Viva o entretenimento para toda família.




Chega a ser cômica a cena que John McClane chega a Moscou. É o velho recurso do herói mundano porque está preso no trânsito, mas aplicado após uma apresentação nula do herói. Já conhecemos o personagem, obviamente, mas era mesmo necessário introduzi-lo através de uma mera conversa num estande de tiro? Logo após, já em solo russo, e depois de enfrentar o trânsito, McClane parece simplesmente INTUIR onde seu filho está, achando-o em questão de minutos. Não se cobra muita verossimilhança de um filme do gênero, e McClane já sobreviveu a um acidente de caça, mas o policial novaiorquino não poderia abordar seu filho com tanta certeza. A única explicação possível é a que Bruce Willis leu o roteiro e descobriu tudo. Além disso, as reviravoltas são absolutamente dispensáveis e, seguindo o exemplo de Salt, apenas servem para dilatar a narrativa. E por dilatar me refiro à meia hora de filme, já que há cerca de 65 minutos de ação na película.

Já que o fiapo de história não se sustenta, Duro de Matar 5 se apoia nas sequências de ação: a do início (nas ruas de Moscou), a do meio (em um prédio) e a do final (em Chernobyl [!!!]). Nesse fator, o olho estético de John Moore para coordenar uma ação estilizada funcionaria na teoria. Os problemas começam quando o diretor investe em câmera na mão e recursos realistas para criar uma perseguição totalmente cartunesca pelas ruas da cidade. É difícil temer pelo herói quando cerca de 30 bilhões de carros são destroçados ao seu redor, enquanto Bruce Willis nem ao menos sangra. O esforço de Woods em soar cool é tão grande que, além de obrigar McClane a gritar "estou de férias" como se fosse algo hilário, o roteirista escreve passagens que questionam sua sanidade mental, como a de McClane conversando com a filha no celular enquanto foge dos capangas.

Mas há, no clímax, uma epifania sobre esse novo capítulo na vida do policial. A certa altura, um personagem vê que está sem balas e, subitamente, acha válido arremessar seu helicóptero para dentro de um prédio. É um senso de urgência falso, um gatilho nervoso onde a primeira solução possível é a melhor, que rege Duro de Matar 5. Na melhor tradição do filme B, todos os obstáculos da narrativa são eliminados em prol da ação. Se os heróis estão sem armas, há um carro com o porta-malas destrancado cheio delas; para escapar, sabendo que se jogar de um prédio seria muito absurdo, os heróis usam um tubo estrategicamente localizado para a descida.




E, por último, não podemos esquecer. Pra que Jack iria chamar seus superiores da CIA, que poderiam liquidar a missão com facilidade, para combater o vilão? Porque é missão de pai e filho, ora. Está no cartaz: pai e filho, no céu e no inferno. A primeira solução possível é a melhor, lembra?


A fotografia acinzentada realista, sem vida até, não é suficiente pra transformar o filme em um exemplar da série. Se Skip Woods não sabe quem é seu protagonista, não é o medíocre fotógrafo Jonathan Sela que saberá. John McClane sempre se destacou porque era rabugento, insistente, humano. Diante de tramas banais (no 1 e no 2) ou de tramas elaboradas (3 e, principalmente, o 4), o policial sempre caía muito antes de conseguir perseverar. O segredo da série era saber dar um tratamento arcaico, mesmo na mais tecnológica das tramas; em Duro de Matar 5, John McClane é um soldado espião, à altura de seu filho. É um tratamento tecnológico para uma trama "elaborada".

O fato da ascensão de McClane a Exterminador do Futuro é meramente acidental e demonstra a falta de tato de Woods e de Moore. John McTiernen, melhor diretor que Renny Harlin e Len Wiseman (e uma profissão de distância de John Moore), resolveu a questão vulnerável do policial apenas ao fazê-lo descalço. Já aqui, Willis nem ao menos troca de cartucho para disparar sua metralhadora.




Ao colocar em pauta a falibilidade de McClane como pai novamente, após um belo desfecho no ótimo Duro de Matar 4, o roteiro de Woods dilui o personagem até em seus problemas pessoais. Não há um acerto sequer: ao assumir as falhas como pai, McClane fala enquanto Jack o ouve escondido.

Não é querer dizer que sou fã de John Moore, o pior esteta autoral em Hollywood, ou que seu leve olho visual o isenta de culpa, mas se há algo que seus filmes tem em comum é justamente a péssima escolha de roteiros. Característica que Skip Woods também mantém. Coerente, ao menos.

Diferente da ótima série Duro de Matar, que logo agora que conhece seu primeiro ponto fraco, vai direto ao fundo do poço.


sexta-feira, 15 de março de 2013

A Busca


A Busca
(A Busca, 2012)
Drama

Direção: Luciano Moura
Roteiro: Luciano Moura

com: Wagner Moura, Mariana Lima, Brás Antunes, Lima Duarte

Vem sendo vendido como um thriller esse novo filme estrelado por Wagner Moura. De fato ele tem até essa premissa inicial e primeiros movimentos, mas no cerne é uma "busca" (trocadilho inevitável) pela verdadeira face de um filho, visto pelos olhos de um pai severo, duro e que guarda uma mágoa muito profunda.

Montado como um road movie (a estrutura de roteiro mais simples de ser produzida e a mais complexa de dar certo), acompanhamos a jornada de Theo atrás de seu filho Pedro, que some de sua casa sem deixar vestígios em meio a uma tumultuada separação entre seus pais. Branca, a mãe, está tentando reconstruir sua vida enquanto Theo parece não ter conseguido esquecer a relação.

Mas, A Busca é de fato um road movie tradicional, que durante a jornada pela estrada sem fim, vai fazendo com que os personagens mudem sua percepção do mundo em que vivem e sobre si mesmos. É nesse tipo de busca que Theo parte: uma busca por si mesmo, por encontrar seu espaço no mundo. O personagem de Wagner Moura é uma personificação de tantos tipos comuns em nossa sociedade moderna: o tipo nervoso, estressado e que não consegue encontrar alegria na vida e que possivelmente deve ter destruído sua própria felicidade graças a sua personalidade forte.


Apesar de praticamente não aparecer durante quase toda a trama, é o garoto Pedro que movimenta toda a produção. Seu sumiço e subsequente "jornada" o fazem uma espécie de sujeito oculto que guia todo o desenvolvimento dos personagens especialmente o de seu pai.

A Busca passa por uma série de ambientes. Sai da cidade grande e passa por favelas, plantações, raves em plena natureza, cidadezinhas esquecidas pelo mundo e culmina na praia, com uma bela vista e uma resolução para os traumas e problemas até ali vistos. Tudo com escopo, diferenciando cada momento dessa longa estrada.

O filme não faz muita questão de esconder seus mistérios e se o espectador for perceptivo (não precisa nem ser muito, pra ser sincero) vai entender facilmente para onde a história estará caminhando. Isso aliado a um excesso de melodrama na parte final da produção faz com que a A Busca não alcance o potencial que prometia, mesmo com Wagner Moura novamente acertando o tom de seu personagem. Por outro lado, muitas informações mais simples, como a profissão do personagem de Wagner Moura, ou os reais motivos para seu casamento estar em crise, ou mesmo o porque uma piscina ganha tanta importância na trama são deixados de lado, para que o público talvez tente achar essas respostas.


Praticamente sozinho durante boa parte da história, é nele que toda a responsabilidade pelo filme é colocada. Sobre seus ombros está toda a credibilidade da produção, já que ele é a pessoa que está em busca de alguma coisa. A principio de seu filho desaparecido, mas essa busca transfigura-se em algo muito mais pessoal. Encontrar seu filho passa a ter um significado muito mais metafórico do que real. Claro, que ele quer encontrar seu filho fisicamente, mas o filme propõe que ele encontre-o também de forma metafórica. Que ele o conheça de fato.

Não é nada novo, nem diferente do que muitos filmes já exploraram com mais competência, mas o desempenho de Wagner compensa a falta de originalidade da produção. A capacidade do ator estar sempre no tom certo é de uma felicidade enorme para todo diretor que quiser trabalhar com ele. Aqui sua transformação vai de sujeito irritável e arrependido por suas bobagens que deram fim ao seu casamento a homem sereno e que compreende finalmente seu filho.

A Busca não chega a ser uma produção de grande destaque, muito por causa de desses problemas na parte final da trama, quando as muitas coincidências vão se somando e o uso de alguns elementos de suspense - forçados - chegam a incomodar. Mas, na seara de produções nacionais ditas populares e que tem um mercado maior, é de longe uma opção mais agradável.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Anna Karenina


Anna Karenina
(Anna Karenina, 2012)
Drama - 129 min.

Direção: Joe Wright
Roteiro: Tom Stoppard

com: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Johnson, Matthew MacFayden, Domhnall Gleeson, Alicia Vikander

A primeira meia hora de Anna Karenina é espetacular. Original, misturando cenários teatrais e cinematográficos, por onde personagens entram e saem de portas colocadas por figurantes, desfilam pelas coxias como se andassem em ruas de verdade, numa mistura muito bem pensada (e executada) das duas artes, que não parece teatro filmado e é diferente para os padrões cinematográficos.

Esse visual absolutamente impecável e extremamente criativo faz com que a versão de Anna Karenina de Joe Wright (mesmo diretor de Desejo e Reparação e Orgulho e Preconceito) seja diferente de todas as outras que já chegaram aos cinemas.

Esse é um trunfo do diretor, profundo conhecer da construção cênica, rígido em seus planos, usando e abusando dos ambientes que tem em mãos e sendo responsável por sequências de alta complexidade como a que envolve uma corrida de cavalos encenada dentro do teatro que serve de base para a grande maioria das cenas do filme. O mesmo cenário com seu palco iluminado transforma-se de salão de baile, escritório comercial, fábrica e a já citada pista de corrida. Nesse último segmento, o chão forrado de serragem (ou palha, algo do tipo) é todo realizado com contraluz, fazendo a corrida parecer verdadeiramente assustadora. O fato do palco dar visão a apenas uma área do circuito fictício faz com que o espectador que presencia aqueles homens e mulheres observando o ir e vir dos cavalos sinta a aflição daquela situação. E quando um violento acidente acontece, o impacto é visualmente doloroso e sentimentalmente forte.


Ainda sobre a qualidade técnica do filme, vale mais uma consideração sobre Joe Wright e a segurança com que ele controla grandes sequências, com muitos extras, sejam nos salões de baile (com figurantes congelando suas posições), sejam nas grandes fábricas onde a trilha sonora é o bater dos carimbos, ou na ferrovia onde a fumaça e a neve permeiam a visão. Mas, a qualidade das suas tomadas e da fotografia atinge o ápice nas sequências do campo em que o personagem de Domhnall Gleeson (Levin), lida com sua rotina de trabalho nos campos dourados de trigo. A coordenação técnica da fotografia auxiliada pela coreografia dos movimentos das foices devassando o campo são imagens maravilhosas e das mais perfeitas que o cinema recente registrou.

A qualidade de produção ainda resvala nos figurinos de Jacqueline Durran, que acerta em todos os modelos. Desde os belos vestidos de baile que fazem de Anna/Keira Knightley uma mulher segura, mas respeitosa a principio, passando pelo garbo e seriedade emanada pelas vestes de seu marido, Karenin/Jude Law , na simplicidade do campo de Levin ou na audácia do Conde Vronsky, vivido por Aaron Johnson em uma impecável roupa militar azul clara.

Uma pena que Anna Karenina, um dos mais belos filmes plasticamente produzidos na última década, careça do mesmo esmero em sua história que esmaga o texto original, transformando-o em uma coleção de momentos sem coesão. Os momentos da história vão entrando e saindo de cena sem impacto, sem que exista uma ligação emocional com aquela beleza vista em tela. Chega a resvalar na esterilidade. Para quem não conhece o livro, em resumo Anna Karenina versa sobre o tórrido caso de amor entre uma mulher casada e da alta classe da Rússia e um vigoroso capitão do exército.


Que se faça o registro que essas observações nada têm a ver com a similaridade do texto de Tom Stoppard com o clássico de Tolstoi, mas com questões mais simples como o desenvolvimento da trama, seus personagens e motivações. A começar pela própria Anna Karenina, em uma interpretação engessada de Keira Knightley, que parece ser a única atriz jovem no planeta que faz filmes de época. Nunca conseguindo transmitir a emoção necessária a uma mulher em sua posição, Knightley não comove.

Em compensação, Jude Law é comedido em sua interpretação do passivo Karenin, que tolhido em um trabalho complexo e difícil se afasta da mulher a quem ama de tal maneira que auxilia o trabalho do Conde Vronsky em cortejá-la. Em resumo, Anna é uma mulher que precisa de amor, coisa que Karenin está longe de conseguir dar.

O ponto mais baixo de Anna Karenina reside na infeliz escolha do mediano Aaron Johnson como o mítico Conde que tem de ser visto como a encarnação da luxuria e da sedução. O conde de Johnson é só um garoto mimado de bigodinho ridículo e nem de longe (muito longe) consegue inspirar alguma espécie de sentimento. É insípido, sem nenhuma inspiração.


Curiosamente, a história que corre paralelamente a trama principal e que envolve o já citado Levin e seus dramas pessoais sobre sua condição financeira diante de uma civilização de fazendeiros humildes e seu posterior casamento é muito mais interessante. Tanto Gleeson quanto a jovem Alicia Vikander acertam na composição de seus personagens. Levin é um jovem inteligente, mas muito sensível e que é profundamente apaixonado por Kitty, uma jovem de posses que é mais uma encantada (de forma inexplicável) por Vronsky, o que magoa o jovem rapaz. A cena onde os jovens se reencontram e se declaram é simples, silenciosa, tímida como ambos os personagens, mais muito mais forte e verdadeira do que todas as que envolvem o casal protagonista.

Outra inconsistência na trama é que apesar de começar de forma intensa, inventando formas de apresentar sua história, a partir do meio do filme, passamos a acompanhar uma estrutura mais linear e - porque não - comum na forma de contar um drama histórico. Saem os cenários teatrais, e voltamos aos tradicionais casarões, quartos e a estética cai na vala comum. Tudo feito com habitual esmero, mas, sem a mesma originalidade do início.

Joe Wright mostra - mais uma vez - porque é um dos diretores mais competentes do mercado. Seu apreço visual e firmeza na direção são notáveis, pena que suas escolhas de elenco se mostrem equivocadas. Talvez a ideia seja a de aproximar a historia de um publico mais jovem - com a inclusão de estrelas jovens - mas, por favor, que o faça com atores qualificados. Ao não conseguirmos crer que Vronsky representa toda aquela atração irresistível que o filme tenta vender fica difícil aceitar a força do personagem e por consequência sua relação com a personagem de Knightley, que é fundamental para toda a trama funcionar.


Anna Karenina é essa mistura de visual impecável com um casting bastante questionável, o que faz com que a avaliação do filme seja prejudicada apesar de todo o esforço - visível - de Joe Wright para fazer de sua versão da obra de Tolstoi única diante do vasto oceano de adaptações feitas pelo cinema.