Em cinema existem fãs para todos os gostos: cineclubistas fanáticos correndo atrás de produções independentes dos locais mais distantes do mundo onde se produza sétima arte de qualidade (Irã, Malásia, Nigéria, Índia), adoradores de westerns, pessoas como minha prima viciadas em comédias do tipo Monty Python e Mel Brooks, os que gostariam que o mundo fosse uma grande ficção-científica (acho que eu me encaixo bem nessa categoria) e tantos outros. Porém, há uma classe distinta que, independente do gênero que assista, presta atenção num detalhe importantíssimo: as musas. E é exatamente esse o objetivo dessa nova coluna: enaltecê-las. E não poderia começar esse novo espaço por outra atriz que não fosse Marion Cotillard.
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Encarnando (quase de forma mediúnica) Edith Piaf |
Minha primeira experiência com um filme em que atuou não apresentava nenhum atrativo estético, pois toda a sua beleza estava debaixo de uma expressiva maquiagem, usada para compor a silhueta da eterna diva da música francesa em Edith Piaf: um hino ao amor, de Olivier Dahan (filme esse, aliás, que apresentou a atriz para o mundo, além de consagrá-la com o Bafta, o César, o Globo de Ouro e o Oscar de melhor atriz). Bastou uma interpretação e o estrago estava feito! Pois eu sou assim: quando viro fã é de uma vez só, não tem esse papo de dois pesos e duas medidas.
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Deslumbrante em "Um Bom Ano" |
Passada a encarnação quase mediúnica da eterna diva francesa, vieram seus trabalhos com Ridley Scott (em par romântico com Russell Crowe em Um bom ano. Dificilmente esquecerei pelo resto da minha vida a cena em que ela aparece de cinta-liga!), Abel Ferrara (no polêmico Maria, em que contracena ao lado de feras como Juliette Binoche e Forrest Whitaker), Michael Mann (divindo tela num amor bandido com Johnny Depp em Inimigos Públicos e todo o glamour oferecido pelos anos 30), Rob Marshall (certamente o grande destaque ao fazer a esposa do protagonista Daniel Day-Lewis em Nine, uma produção cujo único mérito até o presente momento foi ter sido líder de críticas negativas) e, mais recentemente, com Christopher Nolan (como pseudo-esposa, podemos assim chamar, do agente Leonardo Dicaprio em A Origem). Entre seus projetos pendentes contam futuras participações nos novos longas de Steven Soderbergh (Centurion) e David Cronenberg (Cosmopolis), entre outras produções.
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Em "Nine" |
Filha do dramaturgo Jean-Claude Cotillard e de uma professora de artes dramáticas, Marion divide sua vida entre o cinema e as causas ecológicas (é porta-voz do Greenpeace). Avessa a esse mundo célebre onde o mais importante são as páginas de revistas e as entrevistas de cunho sensacionalista, Já deixou bem claro que o momento mais difícil em cena para ela são as cenas de nudez. O que em nada diminui sua elegância e seu charme. Muito pelo contrário!
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Com o ator Ken Watanabe em cena do filme "Origem" |
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Em "Inimigos Públicos" |
Existe algo em Cotillard que me lembra a Capitu (personagem antológica do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis) dos meus tempos de ensino fundamental quando leitura era silenciosa, obrigatória e, na maioria das vezes, enfadonha. O diferencial da saga de Bentinho era justamente aquela mulher dissimulada com olhos de ressaca, de "cigana oblíqua", como bem definia o autor. Pois Bem: Marion tem isso em sua essência e é exatamente por isso que fiquei tão encantado com ela. Diferentemente de muitas das atrizes siliconadas e cheias de botox que infestaram a indústria cinematográfica contemporânea nos últimos anos, essa petit française precisa de muito pouco para encantar os marmanjos mais apaixonados. E esse é seu maior e inegável mérito.
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