Terror/Comédia - 88 min.
Direção: Alexandre Aja
Roteiro: Pete Goldfinger e Josh Stolberg
Com: Jerry O'Connell, Eli Roth, Ving Rhames, Richard Dreyfuss, Elisabeth Shue, Christopher Lloyd
O filme Piranha foi um sucesso trash produzido por Roger Corman, em 1978, que agradou a crítica pelo humor negro usado em um filme aparentemente de terror. Porém, o filme de Joe Dante atravessou gerações e hoje é cultuado junto com uma leva enorme de filmes de um subgênero conhecido como exploitation. E o gênero é tão cultuado que Quentin Tarantino o homenageia em todos os seus filmes e até mesmo fez um filme exclusivamente sobre isso, o Top 10 de 2010, Á Prova de Morte. Mas os exploitation podem até ter envelhecido bem, mas não foram bem renovados. Hoje em dia, é raro ver um filme desse tipo entrando em cartaz, com pequenas aparições de um Machete ou o inédito no Brasil Black Dynamite, uma homenagem-sátira a Shaft, o grande policial negro que influenciou um tipo peculiar do exploitation, o blackexploitation. Agora, o 3D chegou á moda. E nada melhor que um filme que tem exagero em sexo, drogas e gore voltar á cena agora, usando o exploitation para fazer o "3Dexploitation". E um remake de um clássico trash seria o melhor a se fazer. Daí, chegou-se a pauta a produção de Piranha 3D.
O resultado, apesar de enrolado em alguns pontos, é engraçadíssimo e divertido para as pessoas de mais estômago. É vistoso na tela o que o antes diretor de filmes sérios de terror Alexandre Aja faz com o que tem em mãos. Depois de um filme censura R chegar às telas utilizando o 3D da melhor forma possível (Resident Evil 4), Piranha 3D vem para ser o primeiro filme que se faz presente apenas pela diversão sem história e gore na Geração 3D.
A trama, se o filme tiver mesmo uma, é um grupo de jovens que se reúne num lago todo ano. Mas nesse ano, um diretor de filmes pornográficos (Jerry O'Connell) resolve rodar um filme revolucionário e chama duas de suas atrizes (Kelly Brook e Riley Steele) para o lago. Junto, ele chama o jovem Jake (Steven R. Queen) e sua amiga Kelly (Jessica Szohr) para o passeio de lancha que irá para fazer o filme. Porém, o lago é atacado por piranhas geneticamente modificadas da Era Mesozóica (Deus...), o que causa terror aos jovens bonitos e seminus do lago. Enquanto isso, Julie (Elizabeth Shue), mãe de Jake, e Fallon (Ving Rhames) vão pro lado pra salvar gente e matar piranhas.
Como já deu pra ver, o roteiro da dupla do ridículo Pacto Secreto Josh Stolberg e Pete Goldfinger é profundo como uma piscina de 50 litros. A história é imbecil demais, com até mesmo a ordem das mortes sendo previsíveis. O desenvolvimento é nulo, refletindo o que a história mesmo propõe. A trama vai progredindo com cenas de dar horror a qualquer cineasta que saiba o que é edição, sendo bem arrastadas e apresentando não apenas clichês corriqueiros a qualquer filme de terror com jovens, mas tendo um ritmo truncadíssimo e nenhum atrativo para continuar na sala de cinema. E olha que Richard Dreyfuss já tinha aparecido nos 2 minutos iniciais, apenas pra morrer e apresentar a divertida homenagem a Tubarão feita pelos realizadores.
Porém, é pra se ter na cabeça de que aquele filme ali é um exploitation de essência e logo logo a bobagem vai acabar e as destemidas piranhas irão aparecer. Para tentar enrolar esse tempo das piranhas apenas rondarem o lago sem atacar, era necessário um maior polimento e talvez uma sátira melhor ao gênero, sem tentar contar uma história boba como essa com o tom trivial. O início de Piranha 3D é o maior defeito do filme, por apresentar personagens e situações como qualquer outro filme de terror. E isso cansa bastante, visto que os diálogos são terríveis e os personagens, arquetípicos. Em pensar que esses defeitos poderiam ser bem piores, se não houvesse a homenagem com Dreyfuss e as atuações de profissionais como Elizabeth Shue e Ving Rhames.
Até que, lá pros 45 minutos, um verdadeiro MILAGRE acontece. As piranhas atacam. E começa um dos espetáculos gore mais vistosos em anos. Sem aquelas restrições que Jogos Mortais provoca a si mesmo, Alexandre Aja libera o rio de sangue e corta cerca de 300 corpos com criatividade e reúne, partir dali, as referências exploitation do filme. E só a partir dessa genial seqüência que o filme faz valer o excelente cartaz que dizia: Suor-Sexo-Sangue. As piranhas comem todo mundo no lago, com destaque para o modo nojento como que Aja filma os ataques, nos mínimos detalhes. Espanta-se a censura 16 anos. Além disso, os sobreviventes que conseguiram subir no palanque e se livrar das piranhas não deixam de ser mero banquete pra Aja, que pouco se importa em identificar os personagens com o público, que conseqüentemente só quer ver eles morrerem mesmo. E tome palanque virando pelo peso extra e mais 100 pessoas viram vítimas das piranhas. E o filme se engrandece nisso. Divertido e sangrento, Piranha 3D se torna um espetáculo do grotesco, sem história e muito gore. Quanto ás homenagens, Piranha até mesmo atualiza algumas delas. Se uma clássica linha cortante atinge milimetricamente o biquíni de uma mulher para mostrar seus seios antes de cortá-la ao meio, o espírito contemporâneo devolve com uma participação de Eli Roth.
Após essa magnífica seqüência, poucas coisas merecem nota no filme. A genial cena final é divertida e o balé das atrizes nuas, com a lindíssima ópera The Flower Duet ao fundo vale o filme. A direção de Aja nada faz demais, mas serve bem para o propósito dela: enquadrar o maior número de belas mulheres e mortes que o filme exige. A edição de Baxter é lamentável, assim como a fotografia de John R. Leonetti. A trilha de Michael Wandmacher nem se fala também, sendo comum porém passável.
No resumo geral, Piranha 3D diverte demais. Se Steven R. Queen, Jerry O'Connell e Jessica Szohr não conhecem o termo atuação, ao menos Kelly Brook é uma maravilhosa mistura de Blake Lively e Jennifer Garner, visto que Elizabeth Shue segura suas cenas e as piranhas fazem o resto. Um filme com diversos defeitos, roteiro pífio e estapafúrdio, mas que diverte pelas suas homenagens e seu gore sem limites. Seus exageros também são uma bem-vinda volta do exploitation á moda, o que me deixa feliz pelo fato desse tipo de filme divertir de uma forma grotesca e incorreta. Piranha 3D faz o que se propõe, apesar do péssimo início. E isso basta ás vezes. Agora é esperar pela seqüência, já que o final deixa um gancho maravilhoso.
Exagero é mesmo o que define o filme. Não bastava fazer a Piranha engolir um pênis. Tinha que fazê-la arrotar ele também.
(Nota do Editor: Esse é o último post de 2010 aqui no Fotograma Digital. Chegamos ao nosso segundo ano com muita gente lendo e alguns comentando. Para 2001, esperamos melhorar, expandir e acrescentar. Voltamos dia 3 de Janeiro com nossas tradicionais listas de melhores de 2010. Abraços e Feliz Ano Novo!)
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