sábado, 30 de julho de 2011


The Ides of March




O formidável trailer do novo filme de George Clooney apresenta de cara o seu conto sobre dilemas morais no mundo da política. Sendo outro filme do engajado ator/diretor, baseado na política, The Ides of March tem como trunfo nessa prévia a aposta em seu competente elenco. Ao dar espaço a Ryan Gosling, cada vez com mais presença cênica, o trailer ganha bastante ao deixar a tensão fluir e os tensos diálogos dos personagens se organizarem. Interessante notar que, além de um exímio cuidado com o visual, Clooney-diretor monta o trailer como um roteiro de filme, ao apontar pistas sobre o caráter dos personagens para depois debatê-los e estudá-los, como prova a cena breve do avião. A aura ameaçadora de Paul Giamatti, se contrapondo a natureza mais idealista do Clooney-ator, também contribui para aumentar a expectativa do drama político.



sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Casamento do Meu Ex
(The Romantics, 2011)
Romance/Drama - 95 min.

Direção: Galt Niederhoffer
Roteiro: Galt Niederhoffer

Com: Katie Holmes, Anna Paquin, Josh Duhamel, Candice Bergen, Malin Akerman, Adam Brody, Jeremy Strong, Rebecca Lawrence, Dianna Agron e Elijah Wood



Surpresas na seara do cinema sempre acontecem. Na maioria das vezes, infelizmente, são surpresas negativas. O trailer pode ser brilhantemente montado e ter uma trilha impressionante mas quando o produto final chega à tela, surge aquela decepção. Ou então, as fotos de divulgação são ótimas, o elenco ajuda, mas o filme é um desastre. Ou mesmo o material original é de seu agrado ou instigante a ponto de te fazer prestar atenção naquele lançamento em especial. É muito difícil manter-se alheio a influencias externas, principalmente quando se trabalha diariamente com isso. São e-mails de assessorias divulgando os filmes, notícias, trailers e tudo mais que faz o público salivar por cada lançamento e que reflete às vezes em nossas escolhas editoriais, deixando às vezes filmes mais interessantes do ponto de vista artístico de lado, para atender a demanda do mercado, ou do público que aguarda ansiosamente um grande lançamento.


O Casamento do meu Ex entra nessa categoria de surpresas também. Mas entra naqueles 8% (número fictício pessoal, não vão mandar mensagem perguntando de onde tirei, entendam como figura de linguagem) que surpreendem de maneira positiva. Sejamos honestos e claros. Sem ler nada a respeito (meu caso) e tendo como base apenas a sinopse e o título o que poderia imaginar que veria em Casamento do meu Ex?


Se o leitor mentalmente pensou em: comédia romântica com final moralizante, está certo. Mesmo com a sinopse em mãos a impressão pré-concebida era essa e não encaro essa minha impressão como uma coisa ruim. Assisti ao filme com as informações (poucas) que tinha em mãos e deixei o filme me convencer de suas idéias.



A sinopse citada, fala sobre a presença de uma garota (Laura/Katie Holmes de Batman Begins e da série Dawson's Creek) em uma festa de casamento. A noiva é sua amiga de faculdade (Lila/Anna Paquin da trilogia X-Men e da série True Blood) e o noivo é seu ex-namorado (Tom/Josh Duhamel da trilogia Transformers). A relação entre os dois parece não ter terminado totalmente, ainda existem alguns "fantasmas no sótão" que emperram a relação de Tom e Lila. Os coadjuvantes nessa história são os amigos Pete (Jeremy Strong de O Mensageiro e Fim dos Tempos) e sua esposa Triddie (Malin Akkerman de Watchmen), Jake (Adam Brody da série O.C.) e sua noiva de longa data Weesie (Rebecca Lawrence) e os irmãos da noiva Chip (Elijah Wood da trilogia Senhor dos Anéis) e Minow (Dianna Agron da série Glee). Todos sob as asas da matriarca Augusta (Candice Bergen da série Justiça sem Limites, Gandhi, Miss Simpatia entre outros).


O elenco estelar e que ainda dá espaço aos menos experientes é um dos vários destaques desse surpreendente drama indie com toques de cultura pop e sensualidade. Katie Holmes apresenta aqui seu melhor desempenho em sua carreira. Até mesmo seus detratores (eu me incluo nesse grupo) terão de dar o braço a torcer diante de seu desempenho sutil e poderoso. A sequencia final é um desbunde de interpretação e uma catarse para a personagem. Paquin por sua vez, abusa dos tiques para fazer de Lila, uma maníaca depressiva neurótica e viciada na bizarra mistura de vodka com chocolates e cigarros. Surgindo sempre pisando em ovos e notavelmente incomodada é um bom trabalho, embora não faça frente ao excelente desempenho de Katie Holmes. Fechando o trio de protagonistas, Josh Duhamel pode mostrar ao grande público que também sabe atuar e que não é sparring de robôs gigantes. Um trabalho interessante também, fazendo de Tom um camarada confuso entre o certo e o duvidoso e que caminha de forma tênue entre dois mundos.


Os coadjuvantes estão todos muito bem. Malin Akkerman é outra que pode dizer a quem quizer ouvir: "finalmente me deram um papel interessante". Embora Triddie seja uma mulher fútil e exagerada, a atriz consegue transformar uma personagem abertamente sexual em uma divertida "maluquinha" que tem uma relação conflituosa com seu marido, o metido a descolado Pete. Jeremy Strong talvez seja o mais fraco do elenco, pois não consegue se impor diante dos demais atores masculinos e principalmente diante da "deusa loura" Malin Akerman. Já Adam Brody se sai muito bem como o abobalhado e tenso Jake. Outro que parece viver em um relacionamento marcado por uma crise maquiada, mantém uma relação de aparente felicidade com a travada e sempre preocupada Weesie, interpretada com diversos cacoetes pela novata Rebecca Lawrence, que não compromete embora seja a mais fraca do cast feminino.


Do lado da família da noiva, os Hayes, Elijah Wood fora da zona de conforto interpreta um sujeito chato e inconveniente que infelizmente tem pouco tempo de tela. A lindíssima Dianne Agron não tem muito que fazer com sua personagem, limitada a ser a irmã mais nova da noiva, mas convence em uma cena importante que envolve o vestido de noiva da irmã. Fechando o elenco, a sempre competente Candice Bergen trás classe e bom humor como a profetiza do caos, que pressente as nuvens fechadas que se aproximam de sua casa e do casamento de sua filha.


A diretora Galt Niederhoffer, conhecida por produzir diversos filmes indie e alternativos como Geração Prozac e o tocante Grace is Gone, apresenta um trabalho muitíssimo interessante na forma com que conta sua história. Sua história mesmo, já que dirige um roteiro de sua autoria baseado em seu próprio livro.


Aposta na câmera na mão, lembrando O Casamento de Rachel, e nos interlúdios musicais, que servem para apresentar o ambiente e ilustrar com música os personagens, criando temas para cada um dos atores. Além disso, brinca com a gramatura da película, usando de grãos mais grossos nas seqüências noturnas, dando o aspecto de ainda mais crueza as cenas. Um acerto enorme, em especial na conversa na árvore entre os personagens de Holmes e Duhamel.



O filme tem pelo menos uma sequencia memorável - daquelas para entrar na lista de grandes de 2011 - que envolve os discursos dos padrinhos antes do casamento de Lila, num jantar na noite anterior ao evento. Constrangedor e brilhantemente montado por Jacob Craycroft (de Última Noite o derradeiro filme de Robert Altman), a tensão parece poder ser cortada com uma faca. Tudo ali funciona, os atores, a forma suja de filmar e a montagem enérgica que não dá chance ao espectador se acomodar com os discursos.


O único problema do filme é que ele parece teatral por alguns momentos, com fades entrando e saindo da tela, emoldurando conversas entre dois ou três personagens. Isso atrapalha um pouco a fluidez da história que é muito boa e bem amarrada.


Mais são detalhes que não atrapalham essa história sobre as complexidades das emoções humanas e nossa constante dificuldade de entender o que sentimos, quem amamos e de conviver com nossas escolhas.

PS: A tradução do título original é triste, camuflando uma das boas sacadas sobre a personalidade dos personagens.

quinta-feira, 28 de julho de 2011



Capitão América: O Primeiro Vingador
(Capitain America: The First Avenger, 2011)
Aventura - 124 min.


Direção: Joe Johnston
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely


Com: Chris Evans, Tommy Lee Jones, Hugo Weaving, Hayley Atwell, Stanley Tucci, Dominic Cooper e Sebastian Stan

Os maiores temores da adaptação de Capitão América para o cinema eram bastante claras. Vivemos em um período histórico profundamente antiamericano, e toda e qualquer manifestação de patriotismo vinda do "Tio Sam" é recebida com pauladas sem nenhuma piedade. Qual foi a sacada da Marvel Studios, dos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeally (da série Narnia) e do diretor Joe Johnston (Lobisomem, Jurassic Park III e Rocketeer)? Ambientar o filme em um momento histórico em que seria quase imoral não torcer para o pessoal de azul e vermelho e que o personagem soasse razoavelmente crível: a segunda guerra mundial.

Essa sacada faz de Capitão América uma mistura do melhor da diversão escapista oitentista, com um clima divertidíssimo que não se leva a sério e que rende duas horas de entretenimento de qualidade (coisa rara).O roteiro usa e abusa das referências a dois dos mais importantes filmes de matinê da história do cinema: Indiana Jones e Star Wars. Reparem na sequencia de corrida de motos em que além da óbvia referência a clássica sequencia (passada em época semelhante) de corrida em Indiana Jones e a última Cruzada, ainda lembra bastante a igualmente clássica corrida de speedster em O Retorno de Jedi, sem contar o uso descarado (que encaro como homenagem) dos efeitos sonoros da saga de Lucas para ilustrar os acidentados.


A Marvel usa de forma inteligente a questão da guerra, já que apesar de dar todo o destaque para o conflito não se esquece de apresentar o Capitão América como símbolo da propaganda de guerra da época. É nesse ponto que o filme talvez tenha realmente atingido em cheio o público não americano. Zombando claramente dos esforços coloridos e bandeirosos de trazer uma falsa realidade da guerra, contrastando com a sombria realidade. Nesses poucos mais de cinco minutos, o filme de Joe Johnson consegue com maestria homenagear a origem dos quadrinhos do Capitão (apresentando um traje spandex com o escudo em formato original e exemplares da revista do personagem sendo lida por uma molecada da época), apresentar um dos grandes fenômenos do período (os musicais da Metro e o teatro de variedades) e ainda inserir de forma inteligente a critica quando sobrepõe toda essa sequencia colorida (e iluminada em tons de dourado para intensificar ainda mais essa idéia de "maior que a vida") a uma apresentação do personagem para tropas já na Europa. A fotografia muda drasticamente, apostando com grande sabedoria no naturalismo que choca o espectador e aponta a verdade da vida dura durante a guerra. Tudo isso, é claro, seguindo a cartilha do filme de matinê de qualidade.

A direção de arte (trabalho da equipe de Rick Heinrichs, John Dexter, Chris Lowe, Andy Nicholson e Josh Bush) é deliciosa. Apesar do apuro técnico claro, que apresenta durante o filme, retratando o período histórico em que o filme se passa com grande competência, tem um que de arrogância ao não tentar ser 110% correto. Lembra uma versão melhor acabada (e com mais dinheiro) de cenários e do climão nostálgico de Capitão Sky (lembram desse?). O mesmo vale para a fotografia que não tenta criar um filme de época tão verossímil quanto os tradicionais dramas históricos.


Por sua vez, os efeitos visuais se não são perfeitos, são muito bem empregados. Não surgem como "ruídos" exagerados em meio à história, mas empregados de forma orgânica. Reparem na arma utilizada pela vilania nazista no filme. Um recurso batido para diminuir a censura e mesmo assim apelar para a violência necessária para contar uma história como essa, que aqui está organicamente empregada no filme. A transformação de Chris Evans em um raquítico e asmático personagem, talvez incomode a principio já que notamos uma ligeira incompatibilidade entre o tamanho da cabeça do ator e seu diminuto corpo, mas é um desconforto momentâneo que não compromete a movimentação do personagem e sua interpretação. Os efeitos sonoros são outro destaque, sem também parecerem fora de lugar. O exagero típico das aventuras está presente aqui, com socos que soam muito mais altos do que deveriam soar, armas que atiram de forma muito mais violenta do que deveriam atirar e explosões que produzem efeitos maiores do que o esperado.

Ainda no campo visual, é inegável constatar que a maquiagem do grande vilão do filme Caveira Vermelha (ou seria efeito digital, honestamente não descobri) é inacreditável de tão perfeita. Um dos mais impressionantes trabalhos que já vi na tela de cinema, causa repulsa, medo, asco e consternação e é tremendamente crível. Não é a toa que o filme demore a mostrar o resultado visual, criando uma expectativa em que assiste para ver o personagem "em todo seu esplendor" em tela.


Hugo Weaving, que interpreta Joachim Schmitt (vulgo Caveira Vermelha) é um grande ator e entrega mais um de seus típicos vilões agressivos e cheios de estilo. Dono de um plano mirabolante e que é tão calcado em quadrinhos quanto é possível (para se ter uma idéia do exagero, no meio de uma instalação de combate esconde um possante carro esporte com direito a "booster" que parece tinindo de novo), o personagem é um vilão interessante, embora não seja tri-dimensional. É a versão do diretor para o mal encarnado.

Chris Evans vivendo o franzino Steve Rogers (com ajuda da tecnologia como citei acima) tem uma sólida interpretação, convencendo o espectador de que pretende agir pelo bem maior. Evans não é um ator de grandes papéis, embora em Sunshine e em Scott Pilgrim esteja muito bem. Aqui ele não compromete e está em um momento muito melhor do que Chris Hemsworth em Thor, para ficar no panteão dos heróis Marvel. 




A história (para quem não conhece) coloca o desnutrido Rogers como um postulante a soldado, que é encontrado por um cientista (o personagem de Stanley Tucci que tem função semelhante ao de Yinsen no primeiro Homem de Ferro) que desenvolve com o pai de Tony Stark (o magnata e playboy como o filho, Howard Stark, vivido aqui pelo competente Dominic Cooper) um soro que dará ao escolhido super força. O detalhe é que o cientista não busca apenas um soldado típico (e meio estúpido segundo a lógica do filme), mas alguém capaz de aliar força de vontade, bondade, inteligência, perspicácia e compaixão. Uma vez escolhido, Rogers tem injetado em seu corpo o tal soro, e torna-se o Capitão América, embora demore para ser um "herói" na concepção da palavra, segundo a história que o filme apresenta.

Entre os coadjuvantes, além dos já citados e que tem papéis pequenos, o de maior destaque é o do Coronel Chester Phillips vivido com bom humor pelo grande ator Tommy Lee Jones. Misturando o mau humor de seu personagem K em Homens de Preto com a genérica imagem do militar "casca grossa", Lee se não tem um interpretação estupenda, faz o feijão com arroz com muito talento. É responsável pelos alívios cômicos do filme, que não ficam perdidos e são todos bastante funcionais.


E Joe Johnston? Tem um trabalho danado na história. Primeiro ao notar o plano de dominação global da Marvel, e ter a humildade de perceber que seu filme é só mais uma peça no evento Vingadores, programado para o ano que vem. Tendo que seguir certas regras da mitologia da empresa, faz um trabalho delicioso de se acompanhar que lembra bastante Rocketeer. Se o leitor tiver visto o filme, terá por antecipação uma idéia geral do trabalho de Johnston no filme. Tanto para as soluções visuais quanto para o clima e o tom da história.

O que faz com que Capitão América perca pontos é seu final corrido. Tudo acontece de maneira apressada e não convence totalmente. É claro que a idéia de que o filme faz parte de um universo maior ajuda essa sensação de capitulo intermediário, que talvez seja completo em Vingadores. Embora o final seja inteligente ao deixar em dúvida o espectador (a intenção é essa, mas o fã de quadrinhos vai talvez "pescar" a idéia mais rapidamente) sobre o que está acompanhando, é inconclusivo e deixa muitos pontos sem resposta.

Teríamos visto o verdadeiro final do Caveira Vermelha? E o Capitão Steve Rogers como sobreviverá com sua nova condição? Como os Vingadores entram nessa história?

Não percam no próximo capítulo de Marvel World Domination as respostas para essas intrigantes perguntas. O meu eu de 12 anos feliz da vida com o Capitão Bandeira agradece.



quarta-feira, 27 de julho de 2011


La Piel Que Habito




O último trailer do novo longa de Pedro Almodóvar, La Piel Que Habito, tem tanta estranheza quanto aquele exibido em Cannes, com duração de 30 segundos. Um pouco mais extenso, este novo teaser monta um emaranhado de imagens que ainda não fazem sentido completo, seguidas de uma trilha, no mínimo, inusitada. Adaptando o livro Tarantula, do escritor francês Thierry Jonquet, o filme acompanha um cirurgião plástico (Antonio Banderas) obcecado em criar a pele perfeita, depois de ter perdido a esposa incinerada, num acidente de carro. Elena Anaya interpreta a sua paciente. É também válido lembrar que esse é o primeiro projeto que Almodóvar e Banderas trabalham juntos em quase 20 anos - o último foi Ata-me! , em 1990.

terça-feira, 26 de julho de 2011


The Iron Lady




Adaptando a vida de uma das políticas mais controversas da história recente, The Iron Lady vem contar a história de Margaret Thatcher, e de como essa mulher veio a se tornar a famosa Dama de Ferro, primeira-ministra da Inglaterra entre os anos de 1979 e 1990, com todos seus - muitos - erros e acertos. O teaser trailer que demora para mostrar o rosto da genial Meryl Streep - aposta de jogo-ganho pelos realizadores - não impressiona por sua fotografia, ou diálogos - que não fogem do convencional - mas sim por sua trilha. Retirada descaradamente do tema do recentíssimo Moon (2009), a música do teaser dá a impressão de que Streep pode aparecer a qualquer momento trajando uma roupa de astronauta. Mesmo sem esse acontecimento, este é desde já um lançamento no mínimo curioso, e que cria dúvidas sobre o modo que abordarão Thatcher no cinema .

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Aterrorizada
(The Ward, 2011)
Suspense/Thriller - 88 min.

Direção: John Carpenter
Roteiro: Michael Rasmussen e Shawn Rasmussen

Com: Amber Heard, Mamie Gummer, Daniele Panabaker, Lyndsy Fonseca e Jared Harris



Chegando apenas em home vídeo no Brasil, The Ward marca o retorno do mestre (esse merece o título com honras) John Carpenter ao cinema. Listar suas obras mais importantes é como passear por um museu das grandes realizações do cinema de terror e suspense do século XX. A exceção de suas duas últimas produções: Vampiros e Fantasmas de Marte, quase todos os filmes do "carpinteiro" são obras inteligentes, marcantes e dotadas de personagens e situações que permanecem na retina do espectador.


The Ward fala de uma garota (Kirsten) que quando o filme começa está queimando uma velha casa de madeira incrustada no meio do nada, em uma típica paisagem do interior norte-americano. Ela é presa e enviada a um sanatório onde é mantida em uma espécie de tratamento (que nunca é explicado especificamente) junto a quatro outras meninas, igualmente presas e que também não sabem os motivos de estarem por lá. Aos poucos Kirsten conhece as garotas e descobre que a antiga moradora de seu quarto morreu de forma misteriosa.


Carpenter mistura Ilha do Medo (manicômio/mistério/personagens confusos perdidos) com Sucker Punch (garotas bonitas enfrentando um mal maior) e ainda recheia o filme com um serial killer que pode ser mais do que aparenta. O diretor ainda consegue criar tensão e desenvolver uma história que mantém o espectador ligado em seus movimentos, por mais óbvio que pareça o filme. E sim, o filme não esconde com grande capacidade suas intenções, e se o espectador for um pouco perspicaz mata a charada do mistério por trás do filme.



O filme apresenta quatro belas atrizes, mas que interpretam estereótipos em produções do gênero. Além da protagonista Kirsten (Amber Heard de Fúria sobre Rodas) que é forte, segura e decidida a descobrir os mistérios do lugar onde se encontra presa, fazem parte do elenco: Mammie Gummer como a hiperativa e "moleca" Emily, Danielle Panabaker (da série Shark e de A Epidemia) como a desinibida e sexy Sarah, Laura-Leigh como a infantilizada Zoey e Lyndsy Fonseca (Kick Ass) como a inteligente e talentosa Iris.


Não se sabe os motivos daquela instituição estar lá, e o roteiro mergulha os personagens e o espectador em uma espiral de mistérios que ao final fazem sentido, em especial na forma com que Carpenter apresenta sua história. Pouca coisa é realmente "mostrada", já que nossa perspectiva é a mesma da de Kirsten e nossa visão de mundo é a dela. Tudo é muito subjetivo e isso ajuda a manter o filme em constante estado de tensão.


Tecnicamente, o "carpinteiro" continua a criar como poucas seqüências de suspense utilizando-se de som, montagem e da atmosfera construída pelos personagens. Notem como a partir de um clichê primário do cinema de horror (a noite chuvosa e os relâmpagos) Carpenter cria a atmosfera que será perceptível por todo o longa. Sempre que o filme apresenta os relâmpagos, sabemos instintivamente (por já termos visto isso em diversos outros filmes) que algo de ruim vai acontecer aos personagens. Mesmo assim, o diretor consegue programar suas seqüências e encontrar os sustos necessários e a tensão esperada.



Evidentemente que um filme apoiado em clichês do gênero, tem dificuldade para se sobressair frente aos outros exemplares da categoria. Além de apelar para um serial killer com aspecto semelhante a uma dezena de outros filmes, o mesmo ainda é retratado com qualidade duvidosa, devido à maquiagem datada e em certos momentos mal realizada. Em compensação, os efeitos práticos - realizados com pouco dinheiro como fica claro em alguns momentos do filme - são funcionais.


Ainda não foi dessa vez que Carpenter conseguiu alcançar a excelência de seus lançamentos do passado, mas The Ward é o primeiro passo para seu retorno aos bons tempos, quando o diretor nos apresentou Michael Myers e Snake Plissen, o enigma do outro mundo, o carro assassino...

domingo, 24 de julho de 2011


As Aventuras de Tintin




O outro filme de Spielberg, baseado na extensa obra do quadrinista belga Hergé, tem um novo trailer empolgante, que mantém o tom aventuresco do teaser. Tendo um visual interessante pela caricatura de personagens e o belíssimo realismo das construções da direção de arte, Tintin ainda é satisfatório com o tratamento ao material original, tendo passagens e diálogos muito parecidos com uma das HQs que inspira o filme, o arco de O Segredo do Licorne. O terreno da aventura, já bastante explorado por Spielberg nos anos 80, com Indiana Jones e as produções da Amblin, se alia a inocência marcante das histórias de investigação do repórter e seu cachorro. Porém, se a trilha e a fotografia ficam espetaculares na ótima prévia, fica a ressalva sobre o arriscado visual (ainda que belo e coerente com as HQs) do Motion Capture animado adotado por Spielberg, que além de não dar o realismo que o público espera, ainda torna Tintin um projeto mais arriscado do que já é por natureza.

sábado, 23 de julho de 2011

War Horse



Sendo um dos dois filmes que Steven Spielberg lançará esse ano, War Horse mostra que o cineasta continua com um imenso vigor. Ainda que um drama mais fácil de ser feito que a aventura grandiosa que será Tintin, o filme ganha uma prévia que sugere um tom épico tão grande (ou maior) quanto a do aventureiro belga. Soando um tanto exagerado, denunciando o glamour que o diretor acrescenta até às suas menores obras, o trailer mostra uma montagem eficaz mesclando a edificante trilha de John Williams com a fabulosa fotografia de Janusz Kaminski, dois colaboradores frequentes de Spielberg. Promessa de uma obra bem emocionante e que explore a trama de amizade de um garoto e seu cavalo, o que, em suma, é uma trama típica do diretor. O tom grandioso demais poderia diminuir bastante a expectativa, mas sendo um roteiro escrito por Lee Hall (Billy Elliot) e Richard Curtis (Simplesmente Amor), a expectativa mantém-se (quase) inabalada.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Inquilina
(The Resident, 2011)
Suspense - 91 min.

Direção: Antti Jokinen
Roteiro: Antti Jokinen e Robert Orr

Com: Hillary Swank, Jeffrey Dean Morgan e Christopher Lee



Hillary Swank parece viver no limbo eterno entre elogiosas atuações. A cada Garotos Não Choram e Menina de Ouro, Swank entrega O Núcleo, Amélia, Colheita do Mal entre outros. Essa irregularidade em sua carreira é que a mina (mesmo tendo dois carecas na estante) de ser sempre incluída na lista das estrelas de sua geração. A Inquilina não mudará essa impressão já que não passa da versão Hammer (censurada) do clássico Psicose.


A Hammer Films que ressuscitou nos últimos anos com o remake de Deixe Ela Entrar, Wake Wood e que em 2012 lançará The Woman in Black (um conto de horror estrelado por Daniel Radcliffe), é a mais tradicional produtora/distribuidora de filmes de gênero do planeta. Foi responsável pela catequização de uma geração de cinéfilos com suas versões recheadas de sensualidade e de horror de monstros clássicos como Frankenstein e Drácula.


Psicose é o maior filme sobre voyeurismo e um dos mais importantes filmes sobre serial killers do cinema mundial. Imortalizado por suas cenas intensas, personagens que povoam o imaginário popular, sua montagem inteligente, soluções criativas e por subverter a expectativa do espectador matando sua protagonista com menos da metade do filme.



A Inquilina tenta misturar essas duas escolas em uma mesma narrativa, com resultados medianos. O filme apresenta Juliet, uma médica que decide encontrar um novo apartamento após ter pego "no flagra" o namorado e outra em sua cama. Isso a leva até Max (Jeffrey Dean Morgan) um senhorio que cuida do tio adoentado August (Christopher Lee) e que tem um de seus apartamentos locado pela personagem de Swank. Obviamente a relação dos dois torna-se obsessiva e Hitchcock se revira no túmulo pelas semelhanças na forma de contar à história que Antti Jokinen (egresso dos vídeos musicais e da tv finlandesa) coloca em seu filme.


A fotografia é óbvia e os enquadramentos e a atitude do personagem de Morgan são mais que semelhanças ou homenagens. Parecem ser cópias "suecadas" do clássico suspense. Para quem não conhece, o termo "suecada" vem do filme Rebobine, Por Favor quando após uma confusão que deleta o acervo de uma locadora de vídeos, dois caras resolvem re-filmar todos os filmes em versões caseiras e paupérrimas.


Não chega a tanto em termos de produção. O filme é bem feito, apesar de profundamente óbvio, mas é na forma como ele é construído e em suas "idéias" que as "suecadas" estão presentes. Temos o perturbado homem que se apaixona pela mulher e se torna obcecado. Gradativamente o foco do filme muda dela para ele, e é sua historia que se torna mais interessante de ser acompanhada. O voyeurismo dá lugar a ação que faz o personagem (olha a "grande" diferença para o filme de Hitch) tentar conquistar a garota em apuros.



Isso sem mencionar as obviedades do gênero, que funcionam quando vem embaladas por algo diferente, uma grande performance ou mesmo é apresentado de maneira convincente. Não é o caso de Inquilina que além de ser derivado, força a barra ao tentar transformar em uma deusa sexy uma atriz que não tem perfil físico para tal coisa. Existem longas seqüências de banho de Swank, com pouca roupa e até mesmo se masturbando (sem qualquer sentido narrativo, apenas para ilustrar talvez a obsessão do personagem psicopata que observa tudo). Personagem esse que abusa dos clichês (chegando à comédia involuntária) quando usa a escova de dente e reproduz o ato da personagem de Swank na banheira, talvez tentando entrar em "comunhão" com a garota.


Swank não está mal, mas também não a muito mais o que fazer em uma história tão óbvia. Existe um grande momento no filme, mas que é mal montado e que tem a ver com a revelação do personagem obcecado por ela (que o público conhece já que o filme subverte o "eixo" narrativo, nos dando conhecimento sobre a identidade do mesmo). Ao invés de apostar na reflexão sobre sua descoberta e na emoção da mesma, Jokinen entra numa espiral óbvia de perseguição gato e rato por túneis avermelhados (e vermelho aqui significa luxuria e sexo, já que o voyeur se esconde em ambientes iluminados por essa cor) que culminam em um final previsto por todos os espectadores.


A Inquilina é um exemplar óbvio do cinema - dito - de suspense das ultimas décadas. Não assusta, não prende a atenção, brinca com filmes melhores e mais bem realizados e tenta chocar com o sexo pudico e com personagens estranhos. Só não é pior, por que apesar da sexualidade exagerada e não funcional de sua personagem, Swank não é (muito pelo contrário) uma atriz ruim, e Dean Morgan parece divertir-se em seu papel, funcionando como casal em tela. Pena que todo o contorno seja tão repleto de clichês reciclados.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Assalto ao Banco Central
(Assalto ao Banco Central, 2011)
Thriller - 100 min.

Direção: Marcos Paulo
Roteiro: Renê Belmonte

Com: Eriberto Leão, Hermila Guedes, Milhem Cortaz, Lima Duarte, Giulia Gam, Tonico Pereira, Gero Camilo, Vinicius de Oliveira, Heitor Martinez e Fábio Lago.



O Brasil tem uma notória dificuldade em realizar os chamados "filmes de gênero". Talvez (e aqui conjecturo) pela dificuldade imensa na produção de um filme no país, cada nova obra lançada no cinema tende a tentar ser muita coisa, atirando para todos os lados na tentativa de marcar seu nome na história.


Até o advento da chamada retomada, e da aparição dos conglomerados televisivos que investem demais no cinema, o cinema nacional era pontuado por esse tipo de produção, e o filme policial ou de terror, ou mesmo o thriller eram sempre deixados de lado, em virtude dos filmes de "autor". Quando o dinheiro começou a fazer parte dessa conta, imaginou-se (pelo menos eu pensei dessa forma) que teríamos iniciado uma nova era, onde o filme de gênero fizesse parte do cardápio habitual do cinema nacional. Infelizmente, esse filme de gênero construído por aqui passou a ser muito mais, um piloto de série de tv (cômica) do que um espaço para que o Brasil construísse um entretenimento variado e rentável.


Assalto ao Banco Central merece respeito, por em meio ao infindável desfile de chanchadas platinadas que povoam o cinema, tentar fazer alguma coisa diferente, apostando no thriller e no filme policial, sem abrir mão das óbvias intenções populares.



É uma pena constatar que esse respeito a "coragem" do filme seja uma das pouquíssimas coisas que realmente valem a pena positivamente em Assalto ao Banco Central, que narra a história do maior assalto a bando do século, quando mais de R$ 160 milhões foram roubados do Banco Central no Ceará. Conduzido com a mão pesada de Marcos Paulo (conhecido diretor de novelas e ator) tenta a todo jeito não parecer um episódio longo de uma série de tv, e não consegue em muitos momentos. Repleto de "fades" desnecessários, enquadramentos típicos da televisão e uma direção de atores pobre e corrida. O assalto, grande momento do filme, é porcamente registrado, dando a impressão que o mesmo não aconteceu no Banco Central, mas em um banco do interior, tamanha falta de escopo que Marcos Paulo utiliza para registrar a ação. Falta ousadia na sua forma de filmar e por conseqüência seu filme padece dessa criatividade visual típica do cinema.


O elenco é repleto de caras conhecidas do público. De Lima Duarte, passando por Giulia Gam, Eriberto Leão, Milhem Cortaz, Gero Camilo e Hermila Guedes e ainda participações de Antônio Abujamra, Cássio Gabus Mendes, Daniel Filho entre outros.


Desse mundaréu de gente, existem alguns que conseguem se superar negativamente. O limitado Eriberto Leão, que funciona quase como o protagonista do filme é impagável em todas as suas cenas, realmente achando que está realizando um grande trabalho. Profundamente artificial, não convencendo em momento algum de que: a) é um criminoso e b) um dos criminosos realmente perigosos. Declamando cada uma de suas frases como se recitasse Fernando Pessoa, é patético e candidato a pior atuação masculina no cinema nacional em 2011. É dele a patética frase "Tenho orgulho de ser brasileiro" que já causava desconforto no teaser trailer do filme.


Os coadjuvantes não ajudam e o bando responsável pelo assalto é quase todo fraquíssimo. Excetuando-se alguns momentos de Gero Camilo (um grande ator), Fábio Lago (notabilizado pelo primeiro Tropa de Elite) e Tonico Pereira (com um bom timing cômico), o resto é triste e involuntariamente engraçado, incluindo ai a participação nula de Heitor Martinez e de Hermila Guedes, uma atriz muito talentosa, mas relegada aqui a ser o "filé do dia", surgindo apenas para mostrar que é a única mulher interessante da terra e que está em ótima forma e o personagem tacanho e abobalhado (imagino que deveria servir como alivio cômico) de Vinicius de Oliveira, que protagoniza momentos de profunda vergonha alheia. Milhem Cortaz tendo a chance de interpretar um chefão em vez de um bandidinho tem bons momentos e é dos poucos que não abusa das (muitas) frases de efeito em seus diálogos.


Frases de efeitos essas que poluem o péssimo roteiro do filme. Renê Belmonte é o "culpado". Seu roteiro é recheado da maior coleção de frases cretinas do cinema nacional em muitos anos. Momentos impagáveis do humor involuntário são protagonizados por personagens que tem de dizer : "Eu sou Cosme, ele é Damião e você é a oferenda" ou "Dente de jegue não é arroz doce", por exemplo. Fico pensando se ninguém possa ter pensado que essa coleção de frases ruins pudesse fazer mal ao filme e irritar o espectador.


O "núcleo policial" é mais interessante e é por isso que Assalto ao Banco Central é suportável. Giulia Gam, apesar de não manter a regularidade durante o filme, tem ótimos momentos e Lima Duarte parece à vontade e se divertindo muito com a chance de interpretar um policial em um thriller, coisa rara para atores mais veteranos. De longe, Lima é a melhor coisa do filme, e consegue passar por cima dos inúmeros defeitos de um roteiro ruim, para apresentar uma divertida interpretação desse policial que se enxerga como analógico em um mundo cada vez mais digital.



Tecnicamente o filme aposta numa montagem cheia de idas e vindas no tempo ("inspirada" em Plano Perfeito de Spike Lee) para mostrar os preparativos do assalto e as conseqüências dele. Instigante a principio, mantendo o filme com um ritmo bom, deixa de ser interessante a partir da metade do filme quando torna-se truncado e as muitas idas e vindas do roteiro prejudicam a percepção do "momento" do filme. A fotografia é óbvia e não tenta fazer nada além do que a novela das nove faz todos os dias.


Outro problema sério (uma bobagem enorme) é a trilha sonora que sofre de esquizofrenia profunda. Atirando com uma bazuca para todos os lados, mistura temas sacros, com música eletrônica com violões e até rock pesado numa salada indigesta e sem muito sentido.


Marcos Paulo seguiu caminho de seu amigo Daniel Filho e se aventurou no mundo do cinema. Em seu primeiro longa o que fica claro é que Marcos é sem dúvida, um diretor de telenovelas, e que é difícil lembrar de um elenco tão numeroso e talentoso sendo tão mal aproveitado no cinema nacional como esse. Uma triste constatação de que no Brasil, cinema de gênero de boa qualidade tem de ficar a cargo dos heróis do underground que levantam as bandeiras e defendem com amor e sem um milionésimo da grana gasta nesse filme, o cinema bom, barato e eficiente. Tudo que Assalto não é.


quarta-feira, 20 de julho de 2011


Amazing Spider Man



O primeiro trailer do novo filme do Amigão da Vizinhança é preciso ao mostrar todos os rumos que o reboot deve seguir. Com a fotografia bem mais sombria de John Schwartzmann, lembrando a de A Rede Social, o filme promete falar de um Peter Parker mais realista, um nerd atual do que o herói idealizado dos filmes de Sam Raimi. Igualmente válido, afinal tanto os primeiros filmes quanto o reboot se adequam ao contexto e agora teremos duas versões do Aranha em telas: A da Era da Prata das HQs e a versão Ultimate da Marvel. Combinando uma melancólica trilha com passagens de um Andrew Garfield solitário, o trailer promete um protagonista que encare de uma maneira mais séria sua condição de super-poderoso, o que contrasta com a inocência de Tobey Maguire ao encher seu quarto de teias no primeiro filme. Acertando desde já ao colocar a tridimensional (e trágica) Gwen Stacy, interpretada pela excelente Emma Stone, o reboot da saga promete ser uma versão totalmente diferente da original, mas não menos interessante. Vamos ver se o tal "herói sombrio" do Cinema atual funciona também com o Homem-Aranha.

terça-feira, 19 de julho de 2011


The Dark Knight Rises


Depois de tanta expectativa sobre o aguardadíssimo teaser do novo filme do Cavaleiro das Trevas, enfim é divulgado oficialmente na internet o primeiro vídeo da produção. Com um minuto e meio, a prévia de The Dark Knight Rises é breve, mas suficientemente impactante. Iniciando-se com frases e cenas dos espetaculres filmes anteriores  o trailer mostra um Comissário Gordon hospitalizado e enfraquecido, pedindo a Bruce Wayne que o Batman retorne. Caso contrário, Gotham poderá sucumbir perante um inimigo poderoso - e então, de relance, aparece a figura de Bane (intepretado por Tom Hardy). Como já mostrava o belo teaser poster, vemos a imagem do morcego sendo formada perante edifícios destruídos, que então cede lugar ao título  Será esse o apocalipse de Batman no cinema? Como toda boa campanha de Christopher Nolan  o teaser só multiplica as indagações e injeta mais expectativa - principalmente após a cena que encerra o vídeo, onde o Batman recua perante o montanhoso Bane. Impossível ficar mais ansioso.

segunda-feira, 18 de julho de 2011


A grande diferença entre um grande clássico e um filme cult é simples: Cult é aquele filme que você gosta e não necessariamente é tão bom assim (alguns até são), mas que por algum motivo você adora, se diverte e indica aos amigos. O caso é que na ânsia de encaixar esses filmes em alguma sessão, o Fotograma resolveu criar essa nova sessão, onde aqueles filmes amados e cultuados serão aqui comentados. Sempre de maneira leve e divertida, como pede um filme cult.


Cidade das Sombras
(Dark City, 1998)
Nos anos 80, a ficção-científica apostava em uma abordagem mais aventuresca, como as aventuras de Spielberg, a ópera espacial de George Lucas e blockbusters para toda a família, como De Volta para o Futuro. Nos anos 90, a lógica se seguiu, com filmes que usavam a ficção pra diversão, como Independence Day, Armageddon e O Quinto Elemento. Claro que esse espírito mais descompromissado era bem mais respeitável que os monstros e fantasias de zíper das sci-fi dos anos 40 e 50, mas estava longe de ser o tour de force intelectual proporcionado por 2001 - Uma Odisseia no Espaço. E se tínhamos inteligentes sci-fis como Gattaca, era apenas no circuito mais restrito. Porém, em 1999, um filme abalou as estruturas do que se conhecia como "ficção-científica blockbuster": Matrix. Encaixando conceitos filosóficos e sendo hábil em tudo que se propunha, o filme dos Wachowskis se revelava um belo longa que fazia referências pop, desenvolvia bem seus personagens e ainda criava todo um mundo enquanto segurava suas cenas de ação incríveis. Mudando a ficção pra sempre, Matrix iniciava uma tendência tão visual (o cyberpunk estilosíssimo) quanto narrativa (qualquer sci-fi filosofa a partir dali).

O que nos traz a Cidade das Sombras, do diretor egípcio Alex Proyas. Se Matrix mudou o gênero dali pra frente, Cidade foi o precursor da mudança. Não apenas no contexto histórico, mas avaliando de um modo geral. O filme, lançado em 1998, não tinha as referências nem a ação frenética do longa de 99, mas continha todos os conceitos que tornaram Matrix tão famoso. E ao criar uma atmosfera densa, com personagens diferentes e uma trama que impressiona pela complexidade, Dark City se mostrou um exemplar impecável do gênero, ainda que tenha cometido um suicídio comercial quando comparado a Matrix. Enquanto os Wachowskis descomplicavam seu mundo e estilizavam sua ação, Proyas não dava concessões ao espectador, o que é inegavelmente mais ousado.

Quando Kiefer Sutherland surge numa boa (ainda que desnecessária) narração em off, a atmosfera misteriosa já começa a dar as cartas. Com seu estranho figurino, o doutor Daniel Schraber, a primeira figura humana que o filme enfoca após o fade in no céu estrelado, olha angustiado para o seu relógio, já dando seus primeiros sinais de personalidade - o que representa bem a brilhante construção de personagens. O que se segue é uma das cenas de "morte" coletiva mais intrigantes que se presenciou no cinema. Ao utilizar os competentes efeitos, com uma belíssima fotografia escurecida e a direção de arte impecável, a atmosfera criada nessa cena é inquietante e deixa o espectador perplexo de uma maneira incrível.

Essa atmosfera continua sendo construída com destreza por Proyas na primeira cena que mostra John Murdoch (Rufus Sewell). Dariusz Wolski constrói um ambiente esverdeado, baseado em sua fotografia essencialmente noir, para representar visualmente o problema de memória do protagonista. Esse clima se associa com a direção de arte, de influência expressionista, com seus tons amarelos opacos e suas construções exageradas. Não se restringindo apenas a uma época da humanidade, a direção de arte busca mesclar várias épocas de nossa história. Porém, a maior competência do filme é criar essa beleza técnica e encaixá-la na narrativa de maneira orgânica e funcional. Quando o quebra-cabeças começa a ser resolvido (e as explicações, sempre enigmáticas e eficientes, surgem), o esmero de Alex Proyas com seu visual e narrativa se explicita.

Emma, interpretada por Jennifer Connelly, tem sua primeira cena cantando "Sway", em uma casa de shows. Essa primeira cena, aliada aos figurinos sempre sóbrios, já entregam a influência noir que o projeto tem. A presença das prostitutas e de crimes as envolvendo, de um departamento de polícia com um astuto detetive e a iluminação baixa na rua são vitais para o filme, naquela meia hora inicial, de absoluto mistério. A cada caso não resolvido, a cada assassinato, o círculo (uma recorrente figura no filme) vai se fechando. E o roteiro, escrito por Proyas, Lem Dobbs e David S. Goyer, é feliz em causar uma imersão absoluta na atmosfera do filme, com o espectador reconhecendo (e estranhando) aquele mundo junto do personagem de John Murdoch. E mesmo ao solucionar esse mistérios, o filme se mantém fiel a sua proposta ao conceder apenas as respostas que os personagens descobrem. Sendo assim, questões ficam elegantemente ambíguas ou sem resposta. Como, afinal, os humanos chegaram até ali? A cena da canoa já nasce clássica por debater de maneira honesta e emocionante esse desespero pelo conhecimento quando só há a falta dele. A tocante desolação pela busca sem resposta é o grande trunfo de Dark City.


O perfil noir da produção se aplica também, principalmente, ao seu protagonista. Se nos filmes noir clássicos o detetive de valores corretos acabava se desvirtuando pelo seu envolvimento com a mulher fatal, nos noir contemporâneos o subtexto é mais conceitual e subjetivo que propriamente físico. Em Veludo Azul, não é o envolvimento de Jeff com Dorothy que torna o protagonista mais pervertido, são as experiências observando Frank Booth e Dorothy. Em Blade Runner, não é o envolvimento com Rachel que faz Deckard questionar seus valores morais, são os discursos filosóficos com Roy Batty. Em Cidade das Sombras, não é diferente. Temos o noir visual (nunca é ensolarado na Dark City), os personagens do gênero, as tramas de assassinato envolvendo mulheres fatais. Mas temos, principalmente, o subtexto moral, nesse caso filosófico. Blade Runner era um neo-noir futurista e Veludo Azul era um neo-noir surreal. Logo, Cidade das Sombras é um neo-noir de realidade simulada, baseada no Mito da Caverna de Platão (o que, "curiosamente", é utilizado em Matrix também).

Os conceitos científicos apresentados auxiliam mais ainda o primor sci-fi que é Cidade das Sombras. O implante de memórias são explorados ao máximo pelo filme, que cria variações e regras para o conceito, podendo desvirtuá-lo em nome de um bom clímax. O mesmo se aplica a telecinese, que é apresentada de maneira tão natural á narrativa que quando ela é explicada, entendemos o conceito sem estranhar. A primeira cena em que os efeitos especiais são utilizados pra representar a ideia de realidade que o filme tem são impressionantes por causar a mesma surpresa no espectador que a que se causa no protagonista da história.

O clímax, por sinal, representa bastante as qualidades técnicas do filme. A trilha de Trevor Jones, que no início era intrusiva e abusava das notas altas pra exagerar a tensão (numa bela homenagem ás trilhas de época, algo parecido com a trilha do recente A Caixa), agora aposta num ar mais techno, se parecendo bem com as composições de Marco Beltrami (destaque para a música nas cenas de delírio). A ação é registrada por Proyas da mesma maneira arrojada com que ele dirige as cenas calmas (repare na sensacional aproximação rápida de câmera que o egípcio realiza em seus personagens), com os efeitos especiais satisfatórios e surpreendentes de um orçamento minúsculo de 20 milhões. O destaque da direção de Proyas, porém, é sem dúvida o take em que ele se afasta da Dark City, revelando o que estava "por trás" dela.

O maravilhamento técnico, aliado (e incrivelmente eclipsado) a um excelente e desafiador roteiro, tornam Cidade das Sombras um dos filmes de ficção mais competentes, tanto emocionalmente quanto racionalmente, das últimas 3 décadas, assim como o recente Source Code (crítica em breve). Com personagens inteligentes, situações misteriosas e questões filosóficas válidas e instigantes. Liberando no final as cenas de ação, que não prejudicam o filme em nada (levando em conta o caminho que o filme trilhou), Cidade das Sombras ainda é satisfatório por conseguir o que raramente se adquire em uma ambiciosa ficção-científica.

Responde as suas grandiloquentes perguntas de uma maneira igualmente intelectual.