sábado, 2 de julho de 2011



Transformers: O Lado Oculto da Lua

(Transformers: Dark of Moon)
Ação - 157 min.


Direção: Michael Bay
Roteiro: Ehren Kruger


Com: Shia LaBeouf, Rosie Huntington-Whiteley, John Turturro, Frances McDormand, John Malkovich e Patrick Dempsey


Transformers 2 em nada lembra o bacana filme original. Era tão ruim que Michael Bay se desculpou pelo trabalho, assim como os roteiristas Roberto Orci e Alex Kurtzman por terem deixado Ehren Kruger meter a mão no projeto. E quando o imbecil (tenho sérias dúvidas sobre sua condição mental) Kruger assumiu o roteiro de Transformers 3 sozinho, só pensei em uma coisa: no final da minha crítica pro segundo filme.


"Que Michael Bay deixe Alex Kurtzman e Roberto Orci trabalharem em Transformers 3. Eles são profissionais que não são limitados e que sabem escrever muito bem. Não são incapacitados como ele."


A Lei de Murphy existe ou eu sou mesmo tão azarado? Antes de ver Transformers 3, era fácil pensar assim. Mas é impressionante e engraçado ver que justamente quem salva esse complicado filme é... Michael Bay. E digamos que as frenéticas cenas de ação são, confortavelmente, as mais impressionantes visualmente do ano.




O diretor tem inegável olhar estético. Bad Boys II, filme de guerra travestido de policial, é um desbunde visual, com sua fotografia saturada e seus travellings estupendos. O travelling circular em Will Smith e nos haitianos é totalmente desnecessário, mas inegavelmente enérgico. Porém, se o diretor tem esse cuidado interessante com o visual, o mesmo não se pode aplicar a seu trabalho como diretor em si. Bay, o raro diretor que filma muito bem e dirige muito mal, infla seus filmes (e ego) com suas explosões e sub-texto pró-belicista, pondo em dúvida se a falta de qualidade deriva dos roteiros tapados que ele escolhe para dirigir ou se é pura incompetência mesmo. Quando trabalhava com menores orçamentos, Bay era mais tranquilo e controlado, tendo seus arroubos apenas nas horas certas. Assim, ele gerou o correto Bad Boys I e o guilty-pleasure A Rocha. Quando surgiu Armageddon, a patriotada de Bay aflorou e tivemos que aguentar exercícios puramente masturbatórios, como Pearl Harbor e o próprio Bad Boys II.


Mas eis que surge Transformers na carreira de Bay e tudo dá uma guinada. Mostrando um apuro narrativo bem maior que antes, o diretor se conteve e realizou um belo trabalho. Depois da bomba C4 que foi sua sequência, chegamos ao terceiro capítulo. E Bay começa com seu amor ao país ao trazer um prólogo totalmente dispensável da chegada ao homem a Lua. Que o evento lunar tem influência na trama é inegável, mas mostrá-lo de uma forma tão extensa pra depois largá-lo sem maiores explicações é uma falta de coesão notável. As próprias recriações históricas (o Kennedy está pavoroso) são nada além de corretas e poderiam ser mais bem acabadas. Porém, a sequência na Lua em si é interessante e muito bem registrada por Bay. Começa-se então o frenesi visual e narrativo de Transformers 3.


E após o título, o roteiro de Kruger já começa a mostrar as cartas. A falta de senso geográfico e de desenvolvimento de Transformers 2 não se nota tão descaradamente aqui, mas o roteirista continua sem saber o que é estrutura narrativa. Apresenta personagens no segundo ato pra deixá-los para trás, encaixa situações ridículas e só acrescenta bobagens à narrativa e a mitologia dos Transformers. 




Surge um novo Prime (que trás consigo um hilariante plot twist), mais segredos que foram escondidos dos Autobots e mais dezenas de incongruências que já se faziam presentes na Mitologia, que de resolvida com simplicidade no primeiro filme, virou piada no segundo. No núcleo humano, a família Witwicky nunca foi tão dispensável, aparecendo em ridículas duas cenas. E enquanto John Malkovich aparece para testar os níveis do significado da palavra "subaproveitado", Frances McDormand tem que aguentar as 10 falas que escreveram para ela. Já Ken Jeoung surge como um Mr. Chow pioradíssimo, fechando com chave de ouro o seu péssimo ano depois do fraco Se Beber Não Case II.


Ao não ter nem mesmo a decência de apresentar uma introdução que se diferencie do segundo filme (os Autobots continuam numa divisão especial do exército americano), Kruger continua errando em seu roteiro sem dó e sem nenhum senso crítico. E aí as incongruências começam a saltar na tela. O robô alienígena, que se julga tão avançado, trabalha para o governo americano contra o resto do mundo sem dó, demonstrando que seu apreço é pela América e não pela raça humana. 


O garoto que salvou o mundo duas vezes, formado numa das melhores universidades dos Estados Unidos, condecorado com uma medalha do presidente, é o mesmo que não consegue nenhum emprego, nem como office boy. E ainda é abandonado pelos aliens. O que aconteceu com a patacoada de "Escolhido" que o segundo filme pregou? O escolhido da raça Autobot não merece nem uma atenção do governo e dos robôs? Precisando ser sustentado pela namorada nova e tendo a ajuda do chefe garanhão dela para arranjar finalmente um trabalho, Sam é mesmo um personagem irreal e forçadamente derrotado, diferente daquele Sam do primeiro filme, que tinha toda sua personalidade delineada sem nenhum maior esforço do roteiro. Pelo menos, Shia LaBeouf tem carisma de sobra para sustentar tranquilamente suas patéticas cenas.




No outro espectro, o técnico, Michael Bay continua seu verdadeiro tour de force para salvar o filme. Em três cenas, consegue provar que pode dirigir um filme de batalha espacial, um da chegada do homem á Lua e a adaptação de Call of Duty 4 na passagem na Ucrânia (a semelhança com o game é gritante). Tendo planos mais extensos que nos seus outros filmes, muito em decorrência do excelente uso do 3D, Bay demonstra mais elegância, embora menos arrojo, nas filmagens. As cenas de ação, sua especialidade, estão lindíssimas e de tirar o fôlego, com os destaques por conta do clímax e da belíssima sequência na rodovia, que em conjunto com a bela fotografia de Amir Mokri e a trilha correta de Steve Jablonsky, transforma-se na talvez melhor sequência (analisando tecnicamente) do filme. E ainda vem o clímax, que demonstra bem onde o orçamento foi gasto e o talento que Bay tem para ação. Explosões á rodo, porrada descontrolada entre os robôs e soldados pra todos os lados. Câmera lentíssima pra mostrar todos os detalhes dos robôs "blocadões", o que só aumenta o esmero do trabalho da ILM e de Bay. 


Divertidíssimo e com um final abrupto, o clímax é perfeito no que se propõe. Porém, um belo prédio sendo despencado não torna Bay um excelente diretor. O americano faz o que parecia ser impossível: ser extremamente bem-sucedido em sua filmagem, mas ser um fraco diretor.


Por que fraco? Porque não dá pra levar a sério um sujeito que começa seu filme, após o prólogo, com o take gratuito da bunda de uma atriz. Não que eu esteja reclamando da belíssima visão de Rosie Huntington-Whiteley (quase tão boneco de cera quanto Megan Fox, sendo levemente superior), mas começar uma narrativa assim não dá. Além do mais, as danosas patriotadas de Bay afloram, ao mostrar os Autobots atacando iranianos e russos. 




Mas o ápice do prejuízo mental que Transformers 3 provoca, acontece quando Bay, mecânico viciado em masturbação, deixa uma narração falando sobre as características físicas de um carro enquanto filma a personagem de Whiteley. Que o conceito de mulher-objeto era subtexto velado dos filmes de Bay é claro, mas ao se tornar tão descarado, o filme se torna prejudicial. 


Nem deveria ser mencionada a estúpida metáfora do fim da liberdade que o diretor estabelece ao filmar Megatron atirar na estátua de Lincoln e sentar-se sobre ela, mas é necessário informar verdadeiros crimes contra a narrativa como se conhece dela. Não só errando nisso tudo, Bay ainda falha em desenvolver os personagens novos. O roteiro não ajuda claro, mas o que é aquela cena de Malkovich se debatendo para Bumblebee? Pelo menos, tiraram o desgraçado alívio cômico Leo, personagem do segundo filme.


Enrolando o quanto pode, ao criar cada vez mais sub-tramas ao longo da metragem (para que o tal Dutch serve na história?), Kruger investe em mais piadas horrorosas (sotaque italiano no robô alienígena só porque ele se transforma numa Ferrari?) que no segundo filme e vai entrando num espiral confuso, colocando tantas coisas na narrativa sem saber o que fazer com elas. Certo ponto, McDormand fala que Sam não é um soldado. O engraçado é saber que o Coronel Lennox disse justamente que Sam É UM SOLDADO no clímax do primeiro filme, enquanto o garoto ficava com o Allspark na mão. Não satisfeito em matar e desmentir a Mitologia e a lógica dos robôs, Kruger ainda faz questão de desmentir os fatos anteriores.




Dolorosamente expositivo e previsível desde o primeiro frame, o filme ainda traz Megatron pela terceira vez apenas para explicar o roteiro em sua cena da África e no Memorial Lincoln, repetindo e verbalizando o que já dava para entender naturalmente. A dor só se agrava quando o personagem do imbecil Patrick Dempsey, que é manjado desde sua primeira aparição, acaba revelando suas reais ambições (e não encare isso como spoiler: a menos que você não seja o Simple Jack do Trovão Tropical, você sacaria a reviravolta). A Mercedes e as dispensáveis narrações em off de Optimus também fazem parte do pacote-bomba. E fica difícil saber qual dos plot twists é pior, esse ou dois que envolvem os robôs.


Mesmo assim, é difícil dar uma nota péssima para Transformers 3. Michael Bay consegue livrar o filme da total mediocridade ao salvar o roteiro infantil, demente e extremamente burro de Kruger. Com um clímax daqueles, colossal, representando o Apocalipse Transformer, pelo menos a trilogia se encerra (abruptamente, como prova o ridículo epílogo) com mais dignidade que o segundo filme. Se existe algo que o filme tem de bom além da fantástica ação (e de ser superior ao desastroso antecessor), são as melhor resolvidas situações históricas e uma ou outra cena mais emotiva que, ainda que não provoque genuína emoção, ao menos lembra com carinho o espírito feel-good do primeiro filme. O tom bem mais épico da produção também ajuda na hora de descambar para a ação, ainda que faça o filme parecer ter 4 horas de duração. 


Saiba que presenciará as sequências de ação mais hipnóticas do ano, mas como consequência aguentará 1 hora e 50 de pura enrolação estúpida e colagem narrativa, com sub-texto nocivo. Tendo em mente ainda que o esplêndido clímax seja criticamente falho, ao apresentar péssimos diálogos e incongruências gritantes (soldados voadores?), o filme se prejudica mais e mais, em especial com a luta final entre Sentinel e Megatron, que é muito divertida, mas é provocada pelo motivo mais estúpido e previsível possível. Só Ehren Kruger mesmo para nos querer fazer acreditar que uma loira humana irá convencer o robô de 15 metros hiper-inteligente e mais perigoso do Universo. A veia trash toma conta. As coincidências começam a irritar. Esqueça os diálogos e apenas aprecie o espetáculo proporcionado por Michael Bay e a ILM. O design das criaturas nunca esteve melhor. Houve capricho visual. Afinal, são sobre efeitos, os robôs e seus confrontos de que tudo se trata mesmo.




É muita burrice e ignorância, mas embalada com uma anestesia gigantesca. Acha que a nota desse filme poderia ser menor? Não se preocupe, não é de todo errado. Apenas veja o melhor clímax do ano e a sequência da rodovia e você entenderá o maior espetáculo da rasa ação hollywoodiana, ainda que acompanhada do estupro mental causado pela estrutura e roteiro de Transformers 3. Estou cansado da sessão. É isso que 2 horas e 40 de tímpanos e retinas perfurados provocam.





Um comentário:

  1. o pior dos filmes da série,e a antiga namorada do menino lá ficou sem graça,ele nunca ia conseguir uma outra gostosa pra namorar

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