terça-feira, 5 de julho de 2011

A Garota da Capa Vermelha
(Red Riding Hood, 2011)
Romance/Fantasia - 100 min.

Direção: Catherine Hardwicke
Roteiro: David Johnson

Com: Amanda Seyfried, Shiloh Fernandez, Max Irons, Gary Oldman e Julie Christie



Catherine Hardwicke não cresceu. Continua achando que tem 12 anos de idade, e pior, dirigindo e escolhendo seus novos projetos com essa mentalidade. Ansioso em se mostrar crível, dotado de diálogos que beiram o ridículo, personagens fajutos e situações mal construídas, Garota da Capa Vermelha é um dos piores filmes de 2011 até o presente momento. Parece que Crepúsculo viciou a diretora no sucesso fácil das produções destinadas a pré-adolescentes que culmina nesse Garota da Capa, que só existe graças a aceitação popular das histórias dos vampiros que brilham.
 O roteiro (David Johnson) é uma adaptação "moderna" da fabula do Chapeuzinho Vermelho recheada daquilo que se imagina agradar a meninas de 10 a 14 anos, ou seja: protagonista "comum", dois homens que disputam seu amor e uma aura de mistério e "terror" para cativar as pequenas.



Os erros crassos da produção começam já na escolha de elenco. Amanda Seyfreid vem especializando-se em interpretar a mesma garota chata e assustada em todos os seus filmes, entre as comédias românticas e os dramas água com açúcar, e aqui sua Valerie é mais uma representante da escola Bella de ser: sem sal e sem graça, mas mesmo assim surgindo como a mulher mais desejada da vila.


Cobiçando seu amor está o lenhador Peter (o medíocre Shiloh Fernandez) que é mal construído em todos os aspectos. Hardwicke coloca o personagem usando preto EM TODAS AS CENAS, quase que esfregando em nossa cara a sensação de perigo e mau agouro que essa cor geralmente representa. Além disso visualmente Peter não convence a ninguém. Sejamos práticos: o filme é uma fábula medieval, onde tudo e todos deveriam vestir-se como os habitantes de tal período histórico. Mas não é isso que acontece com Peter. Além do uso exclusivo de uma única cor, Peter surge barbeado e tem suas costeletas perfeitamente aparadas, contrastando com o visual de todos os outros habitantes da vila. Outra questão está no fato de em pleno inverno, o personagem manter sua camisa (preta é claro) aberta expondo parte de seu torso (sexy, hein). Fora o cabelo, profundamente anos 2000, em plena era medieval. Detalhes visuais que fazem o personagem não convencer a ninguém de sua credibilidade. Por outro lado temos o ferreiro (sim, ferreiro) Henry (Max Irons) que mesmo tendo tal profissão nada glamorosa é intitulado "jovem mais desejado" da aldeia/vila. Sendo mais sensível que o "bruto" lenhador, faz às vezes de garoto bonzinho que quer o melhor para sua amada, mesmo que isso signifique abrir mão de seu próprio amor (coisa linda, né gente?)



Hardwicke é nada sutil e copia descaradamente até mesmo diálogos de seu filme "vampírico". Em determinado momento do filme, Valerie e Peter conversam e repetem praticamente as mesmas frases ouvidas em Crepúsculo. Peter diz: "eu não sou bom para você" e Valerie responde: "eu não me importo". Pois é...


O que enfurece o espectador é ver gente que tem algo a perder envolvida nessa bobagem. Atores do calibre de Gary Oldman (exagerado como o padre Solomon), Julie Christie (caricata como a avó de "chapeuzinho") e mesmo Virginia Madsen (sem tempo de tela como a mãe de Virginia, Suzette) passam vergonha ao atuar em uma produção tão fraquinha quanto esse Garota da Capa.


O filme é uma coleção de momentos pavorosos, como a rave medieval (sim, amigo, você não leu errado), em que no meio da festa da "colheita" a nossa Catherine "enfia" uma batucada e filma como se quisesse emular uma sensualidade e uma sensação de festa pagã que não combina com o clima do filme, lembrando a igualmente patética sequencia de dança em Zion no triste Matrix Reloaded.



Mais erros grosseiros estão nos cenários que surgem visivelmente construídos em estúdio, o que faz o filme perder profundidade de campo, e deixa os planos de Hardwicke sem espaço para explorar a ambientação mágica que o filme se propõe a ser. Mas se a idéia era realmente vestir a camisa do "filme fantástico" (deixando tudo com aura de fantasia quase infantil) faltou avisar a todo o resto do pessoal envolvido no filme, já que todo mundo leva a sério demais aquela história, e seus cenários farsescos não combinam com nenhum dos outros aspectos da produção (que é ruim). Isso sem falar nos figurinos copiados de A Vila e nos efeitos pavorosos que dão vida ao tal lobo, que fazem os da série Crepúsculo, exemplares magníficos da arte do CG Lupino.


Ainda que tente criar uma tensão na história que envolve o personagem de Oldman e a identidade do tal lobo misterioso, Hardwicke afunda tudo, com auxilio providencial do patético David Johnson (que também foi responsável por A Órfã e pelo vindouro Fúria de Titãs 2). O resultado dessa salada é muito infeliz e conta ainda com um plot twist ineficaz e que racionalmente nos faz questionar a sanidade da diretora e do roteirista, apelando para o clichê do "mordomo culpado", após dar pistas de que vários outros personagens poderiam ter a identidade do tal animal.



Garota da Capa é um erro do começo ao fim. Recheado de clichês baratos, repetindo a fórmula de um grande sucesso de público e dotado de um trio de protagonistas profundamente infeliz e mal resolvido.

2 comentários: