Sombras da Noite
(Dark Shadows, 2012)
Comédia/Fantasia - 113 min.
Direção: Tim Burton
Roteiro: Seth Grahame-Smith
Com: Johnny Depp, Eva Green, Helena Bonham Carter, Chloe Grace-Moretz, Jackie Earle Haley, Jonny Lee Miller
Tim Burton precisa
urgentemente de uma reciclagem. Parece claro para quem acompanha a carreira do
diretor de grandes trabalhos como Ed Wood e Edward Mãos de Tesoura que Burton
esta vagando no limbo há alguns anos. Parece profundamente perdido entre seus
mundos fantásticos, bonitos de se ver, mas cada vez mais vazios e absurdos.
Em Sombras da
Noite, Burton concebe mais um mundo exagerado. Baseado na novela - sim, novela
- americana de mesmo nome, o filme conta a historia do retorno ao convívio
humano do vampiro Barnabas Collins (Johnny Depp), que fora amaldiçoado por uma
bruxa ciumenta quando rejeitou o seu amor. Uma vez amaldiçoado com o
vampirismo, foi caçado pelos habitantes locais e enterrado onde permaneceu
inerte por mais de um século.
Quando o filme
começa, somos apresentados à nova geração da família Collins, que outrora - e
isso é explicado no bom prólogo do filme - havia construído e mantido a cidade
de Collinsport (não por acaso batizada com o nome da família). A matriarca é a
bela Elizabeth (Michelle Pfeiffer), viúva e que tem na excêntrica e
profundamente antenada no que de mais pop acontece Carolyn (Chloe Grace-Moretz)
sua única filha. Na casa ainda moram o irmão "vagabundo" Roger (Jonny
Lee Miller) e seu filho, o assustado (e avatar do pequeno Burton imagino) David
(Gulliver McGrath), a doutora alcoólatra vivida por Helena Bonham Carter, o
caseiro-empregado-criado-pau para toda a obra Willie (Jackie Earle Haley) e uma
senhora quase cega e surda, a Sra. Johnson.
A apresentação de
todos esses personagens, que ainda incluem a misteriosa Angelique (Eva Green) e
a desnecessária Victoria (Bella Heathcote), é divertida e recheada de uma
trilha sonora excelente, direção de arte impecável e diálogos engraçados.
Parecia que Burton finalmente tinha acertado.
Porém, Burton
escorrega no que parece ser seu calcanhar de Aquiles: o desenvolvimento da
historia e dos personagens. Se Barnabas, apesar dos irritantes tiques de Depp
(a saber: sua mania de enrolar as palavras como o capitão Jack Sparrow, o olhar
perdido como Willy Wonka e Sweeney Todd e seu olhar de cima para baixo quando
quer passar a impressão de que se assustou com alguma coisa, assim como...
todos os seus tipos criados com Burton) é bem resolvido e entendemos que a
graça do filme será acompanhar um vampiro profundamente apaixonado por seu
legado e seu nome familiar se habituando as modernidades do século XX, os
demais personagens são rascunhados e sem nenhuma profundidade.
Angelique é a
megera apaixonada, a doutora uma alcoólatra ranzinza, Roger é tão mal resolvido
que na metade da projeção Burton não tem pudor em tirá-lo do filme sem maiores
traumas, a menina interpretada por Moretz apesar de divertida é um pequeno estereótipo
de uma época, o garotinho que deveria servir como ligação emocional com
Barnabas tem pouco tempo de cena e Victoria, que tinha tudo para ser a
personagem redentora e fundamental para a trama, é quase que completamente
esquecida no pavoroso ato final, que tira explicações e ideias da cartola do
Gato Félix para resolver alguns pontos de conflito.
Sem revelar o
desfecho da trama, basta ao leitor saber que o humor non-sense permeia o filme,
e que no final tudo se resolve em uma gigantesca batalha, que vai revelar a
verdadeira natureza de um dos personagens, sem que, no entanto nenhuma
referencia tenha surgido para corroborar essa mudança.
Apesar de um
elenco que se esforça para se divertir com aquilo é difícil fugir do óbvio: Tim
Burton precisa de um novo fôlego. Precisa parar de se auto-parodiar, de tentar
reciclar ideias dos outros (no novo século, a exceção de Peixe Grande e Noiva
Cadáver, todos os seus filmes são adaptações, remakes de obras conceituadas ou
re-imaginações de universos: Planeta dos Macacos em 2001, Fantástica Fábrica de
Chocolates em 2005, Sweeney Todd em 2007 e Alice no País das Maravilhas em
2010). Foi-se o tempo em que a indicação de Tim Burton ao lado de um roteiro
sobre mundos fantásticos era sinônimo de diversão e bom trabalho.
Sombras da Noite é
datado, mal construído, com personagens demais e mais um trabalho do diretor
lindo de se ver e vazio como um poço sem fundo.
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