quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sombras da Noite


Sombras da Noite
(Dark Shadows, 2012)
Comédia/Fantasia - 113 min.

Direção: Tim Burton
Roteiro: Seth Grahame-Smith

Com: Johnny Depp, Eva Green, Helena Bonham Carter, Chloe Grace-Moretz, Jackie Earle Haley, Jonny Lee Miller

Tim Burton precisa urgentemente de uma reciclagem. Parece claro para quem acompanha a carreira do diretor de grandes trabalhos como Ed Wood e Edward Mãos de Tesoura que Burton esta vagando no limbo há alguns anos. Parece profundamente perdido entre seus mundos fantásticos, bonitos de se ver, mas cada vez mais vazios e absurdos.

Em Sombras da Noite, Burton concebe mais um mundo exagerado. Baseado na novela - sim, novela - americana de mesmo nome, o filme conta a historia do retorno ao convívio humano do vampiro Barnabas Collins (Johnny Depp), que fora amaldiçoado por uma bruxa ciumenta quando rejeitou o seu amor. Uma vez amaldiçoado com o vampirismo, foi caçado pelos habitantes locais e enterrado onde permaneceu inerte por mais de um século.

Quando o filme começa, somos apresentados à nova geração da família Collins, que outrora - e isso é explicado no bom prólogo do filme - havia construído e mantido a cidade de Collinsport (não por acaso batizada com o nome da família). A matriarca é a bela Elizabeth (Michelle Pfeiffer), viúva e que tem na excêntrica e profundamente antenada no que de mais pop acontece Carolyn (Chloe Grace-Moretz) sua única filha. Na casa ainda moram o irmão "vagabundo" Roger (Jonny Lee Miller) e seu filho, o assustado (e avatar do pequeno Burton imagino) David (Gulliver McGrath), a doutora alcoólatra vivida por Helena Bonham Carter, o caseiro-empregado-criado-pau para toda a obra Willie (Jackie Earle Haley) e uma senhora quase cega e surda, a Sra. Johnson.


A apresentação de todos esses personagens, que ainda incluem a misteriosa Angelique (Eva Green) e a desnecessária Victoria (Bella Heathcote), é divertida e recheada de uma trilha sonora excelente, direção de arte impecável e diálogos engraçados. Parecia que Burton finalmente tinha acertado.

Porém, Burton escorrega no que parece ser seu calcanhar de Aquiles: o desenvolvimento da historia e dos personagens. Se Barnabas, apesar dos irritantes tiques de Depp (a saber: sua mania de enrolar as palavras como o capitão Jack Sparrow, o olhar perdido como Willy Wonka e Sweeney Todd e seu olhar de cima para baixo quando quer passar a impressão de que se assustou com alguma coisa, assim como... todos os seus tipos criados com Burton) é bem resolvido e entendemos que a graça do filme será acompanhar um vampiro profundamente apaixonado por seu legado e seu nome familiar se habituando as modernidades do século XX, os demais personagens são rascunhados e sem nenhuma profundidade.

Angelique é a megera apaixonada, a doutora uma alcoólatra ranzinza, Roger é tão mal resolvido que na metade da projeção Burton não tem pudor em tirá-lo do filme sem maiores traumas, a menina interpretada por Moretz apesar de divertida é um pequeno estereótipo de uma época, o garotinho que deveria servir como ligação emocional com Barnabas tem pouco tempo de cena e Victoria, que tinha tudo para ser a personagem redentora e fundamental para a trama, é quase que completamente esquecida no pavoroso ato final, que tira explicações e ideias da cartola do Gato Félix para resolver alguns pontos de conflito.


Sem revelar o desfecho da trama, basta ao leitor saber que o humor non-sense permeia o filme, e que no final tudo se resolve em uma gigantesca batalha, que vai revelar a verdadeira natureza de um dos personagens, sem que, no entanto nenhuma referencia tenha surgido para corroborar essa mudança.

Apesar de um elenco que se esforça para se divertir com aquilo é difícil fugir do óbvio: Tim Burton precisa de um novo fôlego. Precisa parar de se auto-parodiar, de tentar reciclar ideias dos outros (no novo século, a exceção de Peixe Grande e Noiva Cadáver, todos os seus filmes são adaptações, remakes de obras conceituadas ou re-imaginações de universos: Planeta dos Macacos em 2001, Fantástica Fábrica de Chocolates em 2005, Sweeney Todd em 2007 e Alice no País das Maravilhas em 2010). Foi-se o tempo em que a indicação de Tim Burton ao lado de um roteiro sobre mundos fantásticos era sinônimo de diversão e bom trabalho.

Sombras da Noite é datado, mal construído, com personagens demais e mais um trabalho do diretor lindo de se ver e vazio como um poço sem fundo.



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