Para Roma com Amor
(To Rome with Love, 2012)
Drama/Romance/Comédia - 102 min.
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Com: Jesse Eisenberg, Alison Pill, Alec Baldwin, Penelope Cruz, Roberto Benigni, Ellen Page, Woody Allen
Parece regra:
basta Woody Allen juntar muitas historias em uma mesma narrativa para que o
filme desande. Embora, não seja só isso que faça de Para Roma com Amor um filme
consideravelmente inferior a Meia Noite em Paris, ou mesmo outros filmes de
Allen que não estão no mesmo patamar de seus filmes mais intrigantes,
inteligentes, divertidos ou dramáticos.
O problema de Para
Roma, reside no mesmo que catapultou Meia Noite para o topo das listas de
melhores do ano de muitos críticos ao final do ano passado: seu roteiro. Se
Meia Noite não era um desbunde de direção, tinha um roteiro afinado que
funcionava muito bem, bons personagens e uma historia ao mesmo tempo mágica e
realista, que relacionava a nostalgia com vultos do passado, num coquetel de
cultura e diversão.
Para Roma tem um
roteiro episódico, recortado entre uma serie de personagens diferentes que
povoam o filme. Em suma, o primeiro erro de Allen foi conceber em um mesmo
filme tantas subtramas, tantas histórias diferentes que em momento algum se
inter-relacionam, permanecendo únicas. Talvez se cada pequeno conto se se
transforma em um filme teríamos novos e bons filmes do diretor, embora essa ideia episódica surja como uma homenagem do diretor ao cinema italiano, popular nos anos sessenta e setenta por lançar diversos filmes que tinham essa ideia de apresentar várias pequenas historias unidas em um único filme.
Iniciando com um
plano em um guarda de trânsito que funciona como apresentador da
"ode" de Allen a cidade italiana, o filme intercala as diversas
historias presentes em seu roteiro. Temos o casal do interior que
chega a cidade de Roma e diante do iminente encontro com os tios do "noivo",
acabam se perdendo, envolvendo-se com atores famosos e garotas de programa. A historia - digamos - principal coloca uma jovem turista americana que ao se apaixonar por um italiano traz seus pais para conhecer a
família do namorado e possível marido. O filme ainda critica a indústria das
celebridades com a historia do homem que sem motivo alguma se torna famoso e
ainda tem espaço (em teoria) para colocar um espelho diante de um homem de meia
idade (ou de um jovem) para analisar a passagem do tempo e as consequências de
nossas escolhas na vida.
A historia do
casal interiorano é que apela mais diretamente para o humor. A jovem Milly (a bela Alessandra Mastronardi)
se perde na complexa Roma - e Allen ilustra isso com diversos figurantes
tentando informar a garota, que obviamente não consegue compreender as
informações - enquanto seu noivo, o travado Antonio (o espirituoso Alessandro Tiberi) recebe a visita da
garota de programa Anna (Penelope Cruz estonteante), que funciona como
professora para o personagem. Essa é a historia que melhor
funcionaria como apoio para uma outra maior e mais elaborada, pois a natureza
da montagem (com cenários diversos e muitos figurantes) ajuda a historia a parecer
maior do que na verdade é. Apesar do humor não funcionar na resolução da
historia, que parece ter saído de um filme ruim de Almodóvar, diverte pela
comédia de erros que proporciona.
A historia da
jovem americana (Alison Pill) que se apaixona é a que tem mais tempo de
tela e que por consequência pode ser encarada como principal, embora seja a
menos interessante delas. Simplória em sua construção, tenta ganhar pontos com
a entrada dos pais da "noiva", vividos por Judy Davis e Woody Allen. Phyllis (Davis) é
uma psiquiatra cética que vê o marido como um homem que pode ser dominado, já
que em sua profissão (ele trabalhava na divisão de musica clássica de uma
gravadora e dirigiu algumas operas) sempre foi considerado excêntrico,
portanto, um material vasto para uma análise. Allen, por sua vez, repete pela enésima
vez o personagem neurótico e cheio de manias que o consagrou. Longe de ser um
grande ator, Allen funciona nesses papeis, pois eles representam muito do que
Allen sente e pensa, portanto não parece absurdo imaginar que os discursos de
Jerry a respeito da aposentadoria sejam o que Allen verdadeiramente pensa. Jerry detesta estar aposentado e enxerga "parar" como morrer. Será essa a visão
de Allen? Sem seus filmes rapidamente morreria, mesmo que não de forma física?
Outra questão muito debatida no filme é o fato do personagem ser por diversas
vezes chamado de "a frente de seu tempo". O que seria isso? Uma sátira
de Allen aos intelectualóides, que acham que seus trabalhos são realmente
especiais? Uma constatação de que a arte muitas vezes antecipa-se a sociedade?
Ou um reflexo de si mesmo? De todo caso, o foco da historia não é o personagem
de Allen diretamente, mas o sogro de sua filha, um legitimo cantor de banheiro
que é usado por Allen como ultima esperança para manter-se ativo. Apesar de
funcionar no começo e da trilha e produção serem impecáveis, é cansativo
revermos a mesma ideia sendo repetida. O bom humor do começo da história vai se
perdendo, transformando os sorrisos (Allen nunca fez filmes em que as pessoas
gargalham compulsivamente) em indiferença.
A melhor das pequenas
historias é a que critica sem piedade a indústria da fama. Roberto Benigni é um
sujeito sem graça, que tem uma família absolutamente comum e um emprego banal.
Sem nenhum motivo aparente, passa a ser perseguido pelos papparazzi que estão
interessados em tudo e qualquer coisa que ele faça. Tudo vira motivo para
notícia, de seu café da manhã até seu corte de cabelo, sempre com o viés
crítico. Porém, o personagem de Benigni como muitos que são tocados pelas
facilidades da fama, passa a aproveitar o "bem-bom". Allen deixa de
lado a crítica quando nos momentos finais da trama subverte a situação, quase
que se rendendo a fama.
E a mais confusa
dos pequenos contos envolve Jesse Eisenberg e Alec Baldwin, que nunca fica
exatamente claro, se são amigos reais ou imaginários. Seria Eisenberg o reflexo do
passado de Baldwin? Ou seria Baldwin um vislumbre do futuro de Eisenberg? Allen
dá dicas sobre o realismo da historia. Enquanto todas as historias seguem
praticamente uma mesma linha cronológica, essa historia tem saltos no tempo, o
que demonstra que algo ali não está certo. O fato de Baldwin estar sempre
presente ao lado de Eisenberg também é outra indicação da natureza da historia,
tornando-o quase a representação da consciência do personagem.
Para Roma com Amor
é um amontoado de historias, algumas razoáveis, nenhuma notável e algumas mal
resolvidas. Na tour mundial de Allen, dessa vez na Itália, o diretor homenageia
a cidade e seu cinema, é verdade, mas diferente de seu ultimo filme, esqueceu-se de unir o
guia turístico a uma narrativa sólida.
A mocinha é a Alison Pill, não Lohman.
ResponderExcluirEu gostei do filme, embora a metade seja emperrada e a história do Eisenberg-Baldwin-Page seja a pior (a Ellen Page é especialista em personagens irritantes, pelamor rs). Mas eu acabo me satisfazendo com o "mais do mesmo" de Allen, aqueles diálogos sarcásticos e neuróticos e a Judy Davis maravilhosa, que andava sumida.
Dos últimos do Woody Allen achei o mais fraco dele desde Scoop. Só salvou pelo Benigni e a Penélope Cruz. No mais, muito aquém do que o diretor é capaz de produzir.
ResponderExcluirO novo Jukebox na área:
http://neojukebox.blogs.sapo.pt/
Tenho dificuldades em assistir a um filme do Woody e não achá-lo mediano, uns dois ou três despertaram verdadeiramente a minha simpatia. Mas, eventualmente, apesar de não querer, acabarei assistindo a esse nova produção.
ResponderExcluirAcho que os críticos e os fãs super valorizão os filmes do Woody Allen,a maioria são chatos do começo ao fim.Mais por curiosidade eu acabo assistindo e m arrependendo.
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