Amantes Passageiros
(Los Amantes Passajeros, 2013)
Comédia - 90 min.
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
com: Antonio de la Torre, Hugo Silva, Miguel Angél Silvestre, Javier Cámara, Carlos Areces, Raúl Arévalo, Guillermo Toledo, José Luís Torrijo, Lola Dueñas, Cecila Roth, Paz Vega
Marcando o retorno de Pedro Almodóvar as
comédias rasgadas que beiram o non-sense, Amantes Passageiros não chega a rivalizar
com as obras mais antigas do diretor (como Mulheres a Beira de
um Ataque de Nervos, Kika, De Saltos Altos, Ata-me, A Lei do Desejo), mas é uma
indicação de que Almodóvar talvez esteja voltando aos temas e ao clima dessas
primeiras produções. Um mundo mais ácido e irônico, onde suas críticas a
"moral do povo espanhol" eram diluídas pela comédia de diálogos espertos
e ágeis.
Amantes Passageiros coloca uma fauna de
personagens excêntricos presos dentro de um avião com problemas para pousar. Na
primeira sequência do filme, acompanhamos um imprevisto que envolve o
responsável por manter as rodas do avião "calçadas" (participação
especial de Antonio Banderas) e a responsável por levar as malas para a mesma
aeronave (Penelope Cruz). Por causa dessa confusão, o avião parte com o trem de
pouso avariado. Para conter o eventual desespero dos passageiros, toda a classe
econômica é sedada pela tripulação, restando acordados apenas os pilotos, os
comissários de bordo e alguns poucos passageiros da primeira classe.
Obviamente, essa também é uma estratégia para diminuir o numero de personagens,
deixando-os numa quantidade viável para que conheçamos cada um deles (pelo
menos superficialmente).
A partir desse evento - avião com
problemas que pode cair e todos morrerem - Almodóvar cria mais uma comédia onde
o amor (em todas as suas tendências) é explorado. Desde o capitão casado que tem
um caso com um dos comissários, passando pela vidente virgem sedenta pelo
passageiro digamos "bem servido", um empresário corrupto com sérios
problemas com a filha, o co-piloto que talvez esconda sua bissexualidade, o
comissário gay e carola, o outro comissário solitário, o sujeito que tem um
relacionamento complicado com uma mulher destrutiva, um misterioso homem, a
mulher que esconde segredos de vários poderosos e o casal de recém-casados
completamente apaixonados.
Essa fauna de personagens tipicamente
"almodovarianos", garante a diversão do publico com ótimos diálogos
que abordam a sexualidade, política, amor e sexo, sempre de forma leve e que
não cansam o espectador. Almodóvar acerta ao não focar-se em apenas um
personagem, e apesar de algumas historias serem mais interessantes que outras, nenhuma
delas é ruim. O relacionamento entre o empresário e sua filha e o do homem e
sua mulher complicada (que garante o único momento fora do avião após a
introdução com os famosos amigos do diretor) são os mais complexos e
interessantes, enquanto os demais variam entre a comédia non-sense (como a da
vidente virgem e seu interesse no "belo adormecido" na classe
econômica) e a comédia de situação.
Entre os atores, é impossível não destacar
o trio impagável formado por Javier Cámara, Carlos Areces e Raúl Arévalo, os três comissários quase alcoólatras
e gays que tem os momentos mais divertidos do filme, com direito até mesmo a
uma apresentação de dança ao som de "I'm so Excited", que apesar de
deslocada na história é divertida.
Porém, apesar de divertida, o filme não
vai muito além e não parece que Almodóvar queira algo mais do que apenas
diversão. Parece que se cansou de tantos filmes com algo muito mais complexo a
ser dito, ou de experimentar gêneros. Amantes Passageiros é Almodóvar se
divertindo com a situação. Fazendo uma historia leve para resgatar
algumas das ideias que eram parte integrante de sua filmografia no início de
sua carreira. Apesar de não ser nada demais, é sempre bacana ver um diretor
competente e que assina cada um de seus filmes de forma muito clara, produzindo
coisa nova.
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