O Grande Gatsby
(The Great Gatsby, 2013)
Drama/Romance - 142 min.
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann e Craig Pearce
com: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Elizabeth Debicki, Isla Fisher.
Pedante, exagerado, muito histérico, com
problemas de ritmo enormes, O Grande Gatsby se arrasta como uma lesma por suas longíssimas
duas horas e vinte e dois minutos, que passam ainda mais lentamente do que a duração sugere. Essa é a
terceira vez que a obra de F. Scott Fitzgerald ganha as telas (quatro se
contarmos um filme para TV de 2000). Confesso que nunca vi a versão de 1926,
mas lembro-me da versão de 1974, vencedora de dois Oscar, que tinha roteiro de
Coppola e Robert Redford e Mia Farrow como protagonistas. O Gatsby de 74 é um
filme solene, "classudo" e que no meio da revolução da Nova Hollywood
americana é quase um alienígena. Não que seja um filme ruim (não o é), mas é
bastante datado.
A abordagem de Baz Luhrmann ao romance é
curiosa. Conhecido por seus exageros visuais de produções como Moulin Rouge e
Romeu e Julieta e do excesso de duração de abacaxis como Australia, Luhrmann
mistura o pior desses dois mundos em uma produção que acerta na reconstrução de
época, mas erra na forma como mostra esse mundo decadente.
Que se leve em consideração à ousadia ao
ignorar a forma como a música da época soava, e apostar em uma trilha moderna
(como Sofia Coppola fez em
Maria Antonieta ), é impossível para mim, não relatar um
completo desconforto com a ideia, já que esse mundo exagerado e histérico de
Luhrmann apenas camufla uma dificuldade crônica em apresentar seus personagens
de maneira convincente. Em maio a tanto barulho e cores e som e glitter, ele
tenta nos fazer esquecer da escolha equivocada do limitado Tobey Maguire para a
função mais importante da historia, a do narrador Nick Carraday.
Assim como em Moulin Rouge - e
sejamos justos, no livro também - a trama começa com o relato de Nick em um
sanatório, onde o rapaz se recupera de uma crise nervosa, causada pelo
desenrolar dos eventos que são relatados no filme. Luhrmann se apóia na muleta
irritante da narração em off, que em geral sempre significa que o sujeito que
fez o filme não tem muita confiança naquilo que filmou. Aqui, eu acrescentaria
o fetiche de narrar trechos de um livro clássico. Luhrmann leva seu fetichismo
ao pico quando ainda filma - no melhor estilo mensagens de corrente - as
palavras (literalmente) cruzando a tela em determinado momento da trama.
Trama essa que fala do misterioso Gatsby
(DiCaprio), um sujeito rico e que guarda segredos de seu passado, que envolvem
Daisy Buchanan (Carey Mulligan). Maguire/Carraday é o primo da garota que aluga a casa ao lado
da de Gatsby e se transforma em grande amigo e parceiro do milionário em sua
historia trágica. Sem dar muito detalhes da historia, basta dizer que
Gatsby está em busca de um amor perdido e que em sua ânsia de conquista
descobre que a diferença entre as classes sociais e o orgulho, se sobrepõe às
noções mais básicas da decência e de caráter.
A trama continua sendo muito interessante,
mas Luhrmann faz de tudo para transformá-la em uma experiência muito difícil de
ser apreciada. Quando não apela para o histerismo de cores e sons (em especial
na primeira metade do filme), usa e abusa dos muitos zooms e efeitos visuais de
gosto duvidoso para ilustrar os faraônicos cenários da historia, incluindo ai
uma cidadela empobrecida, que ganha ares de futuro pós-apocaliptico pelo
exagero nas diferenças entre os mais ricos e abastados e os trabalhadores
comuns.
Isso sem contar o excesso de lentidão com que
a trama se desenvolve. Apaixonado pelo texto de Fitzgerald, ao mesmo tempo em
que visualmente até ousa, é reverente aos diálogos e trechos do livro de forma
a transformá-lo em maçante, já que a experiência de saborear as palavras no
papel - ao seu ritmo - é muito diferente do que ver uma serie de atores (alguns
bastante questionáveis) vomitando sem muita noção as palavras do autor
americano. Isso ocasiona uma quebra de ritmo assustadora, que racha a estrutura
do filme em duas de forma muito clara. O histerismo da abertura - que eu até
aceitaria se fosse constante - cede espaço a reverencia chata e pedante da
segunda metade da trama quando os eventos emocionalmente mais expressivos
acontecem. Uma narrativa esquizofrênica e morosa que só é mais prejudicada pela
escolha equivocada de certos atores.
Não sou do tipo que ainda tem problemas
com Di Caprio, mas vejo-o profundamente deslocado nessa produção. O ator tem m
problema crônico (e genético) de nunca parecer ter a idade que tem de verdade.
Se isso era um problema - pra mim ao menos - em J.Edgar e sua maquiagem medíocre,
e em Ilha do Medo, aqui essa sensação ainda é mais intensa. Di Caprio
precisa nos convencer de ser um homem calejado pela vida e que venceu depois de
muita luta e de aproveitar suas oportunidades, o que não parece ser o caso, já
que o garoto - eterno - deixou o sex-appeal juvenil que fez suspirar platéias
em Titanic há tempos e hoje depende muito de um papel adequado a sua figura de
garoto que não fica velho nunca. Mas, apesar desse incomodo estético - digamos
assim - Leonardo é um bom ator e não compromete, embora não tenha o impacto do
livro e da figura de Redford na encarnação mais famosa do cinema.
Carey Mulligan graciosamente dividida
entre o presente/futuro e o passado acerta na composição, mas não é ajudada
pela forma com que Luhrmann contou sua historia, deixando-a ainda mais desagradável
que o é no papel. Uma garotinha mimada que não tem coragem para seguir um sonho
e se apega a obviedade do lugar comum. Joe Edgerton me pareceu caricato com seu
sotaque forçosamente exagerado, cheio de inflexões comuns às interpretações do
início do cinema falado, o que não ganhou eco em nenhum dos outros atores do
filme. E por fim Maguire, errado do inicio ao fim. Nunca fui do time que o
considera grande ator, embora goste de Regras da Vida, Tempestade do Século e
de sua versão sem sal para Peter Parker. Talvez por essa sensação constante de
sujeito insosso e de voz monótona é que não me convenci com seu Nick Carraday, que parece
constantemente inebriado e abobado diante dos fatos que ocorrem na sua frente.
A bela Jordan Baker (Elizabeth Debicki) e a elétrica Myrtle Wilson (Isla Fisher) completam o
elenco e não se destacam embora suas personagens sejam importantes - em alguns
momentos fundamentais - para o andamento da trama.
Baz Luhrmann fez aqui seu costumeiro
carnaval e novamente não conseguiu ir além do kitsch e excêntrico. Quando optou
pela ideia de deixar seu filme longuíssimo e com problemas de ritmo enormes,
rachando-o em duas produções de visual e forma praticamente diferentes (uma cheia de cores e
exagerada e outra "séria" e cheia de diálogos empolados e atores
medianos deslocados) transformou a experiência de Grande Gatsby é uma bobagem.
Sem o impacto de crítica aos mais ricos pretendido e sem emocionar como uma
tragédia anunciada. Tolo e vazio, como boa parte da filmografia de seu
realizador.
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