quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Instrumentos Mortais: A Cidade dos Ossos

Instrumentos Mortais: A Cidade dos Ossos
(The Mortal Instruments: City of Bones, 2013)
Aventura/Romance - 130 min.

Direção: Harald Zwart
Roteiro: Jessica Postigo

com: Lily Collins, Jamie Campbell Bower, Robert Sheehan, Lena Headey, Jared Harris, Jonathan Rhys Meyers

Pergunto-me com certa frequência qual o segredo para certas séries infanto-juvenis ou de realidade fantástica fazerem tanto sucesso. Em Harry Potter, J.K. Rowling pegou um elemento de conhecimento geral (os bruxos, magos) e partir dai produziu uma mitologia própria com regras e personagens únicos. Stephanie Meyer em Crepúsculo (mesmo não gostando dos filmes) também pegou elementos de conhecimento geral (vampiros, lobisomens) e transformou-os em uma coisa diferente do que estava presente no imaginário popular (para o bem e para o mal), além de rechear suas histórias com romance, o que atraiu um público novo ao gênero da fantasia. George R.R. Martin viu sua série das Crônicas de Gelo e Fogo serem catapultadas a best-sellers quando foi transformada em serie de TV. Nos livros (e felizmente na série) a mistura de ficção "histórica" com elementos de fantasia também pareceu diferente, somando-se a sensação de urgência constante na história, onde tudo pode acontecer. 

Pois bem, nos exemplos que dei acima o sentimento de frescor, de "ineditismo" talvez seja responsável pelo interesse de muitas pessoas pelas obras citadas. E é claro que a partir do sucesso dessas, muitas "cópias" e trabalhos de temáticas parecidas surgiram por aí. Além, de outros livros importantes no gênero que acabaram ganhando sua chance na tela grande (casos do mal sucedido "A Bússola de Ouro", dos "Crônicas de Nárnia" e do vindouro "Ender's Game"). E isso também vale para o mercado editorial, já que a quantidade industrial de lançamentos de realidade fantástica e fantasia é cada vez maior. 

Além da questão de popularidade, existe uma outra questão sobre a maioria dos novos autores de fantasia: parece que os mesmos leem apenas realidade fantástica, reproduzindo apenas versões inferiores de livros e contos mais cativantes. Todos os grandes autores do gênero leram mais do que apenas esse tipo de literatura e, portanto conseguiram criar mundos novos e criativos exatamente por sua variedade de influências. O caso da versão cinematográfica de Instrumentos da Morte é exatamente condizente a essa reclamação. Um dos grandes abacaxis de 2013 é uma coleção incontrolável de clichês, elementos requentados, ideias fajutas e protagonistas ruins num mesmo filme e que se for mesmo fielmente baseado em um livro, já o transforma também em uma bobagem gigantesca e dotada de pouquísima originalidade.


Os clichês e os elementos requentados começam pela própria história que é mais uma trama teen onde uma garota absolutamente comum se transforma na "escolhida", graças (nesse caso) a sua descendência milenar. Ela é filha de caçadores das sombras, sujeitos que caçam demônios e que originalmente surgiram com as bençãos de anjos. Nessa salada de referências ainda aparecem magos de sunga apertada (sério!), lobisomens (que obviamente precisam ser barbudos quando na forma humana) e até vampiros (que não brilham). O único momento de frescor é a utilização de marcas na pele como símbolos dos poderes dos tais caçadores. Até mesmo um triângulo amoroso acaba surgindo na trama que ainda incluem referências a Star Wars (sim, é isso mesmo que você leu) e uma serie de personagens desinteressantes.

Se a garota Clary (Lily Collins, esforçada) tem a clara motivação de encontrar sua mãe sequestrada por causa de um segredo milenar e o caçador bad boy (Jace/Jamie Campbell Bower) cumpre seu dever com a causa (e se apaixona no caminho), o mago líder do grupo e que deveria ser a epítome da seriedade e competência, mostra-se fraco e um personagem com problemas emocionais absurdos em se tratando da realidade da produção. O mesmo problema aflige um dos coadjuvantes apaixonados ou mesmo o mago de cueca. Até mesmo o amigo da protagonista (Simon, interpretado por Robert Sheehan) que serve apenas de alívio cômico fajuto, acaba ganhando um pequeno drama que deve ter consequências nas eventuais continuações da serie.

Mas nada é mais grave para uma produção de aventura/ação do que um antagonista que não cause nenhuma sensação de perigo para os protagonistas. Embora cheio de estilo e com um discurso empolado e recheado de frases feitas, Valentine vivido por Jonathan Rhys-Meyers acaba caindo no hall dos vilões gritalhões com muita pose mas com planos óbvios e "modus operandi" tão confuso quanto à quantidade de referências e clichês dos mais variados filmes/personagens que a produção tem.


Contando com efeitos visuais capengas e uma direção de arte que atira para todo lado (indo de catacumbas medievais, bibliotecas vitorianas, armazéns sujos e raves estranhas) a trama caminha pelo acumulo de ideias já vistas em diversas outras produções com diálogos bregas, falta de química entre seus protagonistas e um desperdício das poucas boas ideias, como a das marcas ou a participação de um coadjuvante que revela ser mais do que aparenta (uma dica: ele é barbudo).

Instrumentos Mortais: A Cidade dos Ossos é um caça níquel. Não faço a menor ideia se o livro é aquilo que foi transposto na tela ou não, mas se depender da experiência causada pela produção dificilmente o livro que deu origem a produção ganhará minha atenção.

Obs: a tal Cidade dos Ossos do título ganha seus dois minutos de atenção e... só.


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