Os Estagiários
(The Internship, 2013)
Comédia - 119 min.
Direção: Shawn Levy
Roteiro: Vince Vaughn e Jared Stern
com: Vince Vaughn, Owen Wilson, Rose Byrne, Max Minghella
A primeira reunião de Vince Vaughn e Owen Wilson fora bem produtiva. Costuma-se dizer que o bromance dos filmes de comédia voltados ao público masculino foi evidenciado por Se Beber, Não Case, com suas reviravoltas de trama que serviam tanto para unir o sentimento de amizade dos três protagonistas quanto para surpreender, mas a verdade é que
Oito anos depois, a dupla se reúne novamente
Bem na primeira cena, o roteiro de Vince Vaughn e Jared Stern tenta construir uma gag em cima do clichê dos “dois machões quarentões cantando uma música fofa”. É chato perceber quando uma comédia joga uma piada assim na cara, mas Vaughn e Wilson conseguem escapar com dignidade da exposição inicial. A participação de Will Ferrell, no papel rápido do arrogante de estilo bizarro, diverte por mostrar o ator mais a vontade num papel que está se tornando comum em sua carreira, mas a construção dos protagonistas como losers só funcionam porque os atores fazem essa expressão derrotista com destreza.
A partir daí que à aura da Crise Econômica se faz bastante presente. Como narrativa linear, Os Estagiários é um conto de como o Google pode salvar seu emprego nesse mundo de recessão e modernidade. E se a premissa já soa propagandista, quando o filme se dirige aos headquarters da empresa à coisa só se intensifica: o filme mostra como o local é agradável de trabalhar, como os lanches são de graça, como o empregado é valorizado e tem seus momentos de descanso; como é um ambiente igualitário. Nesse caso, a personagem de Rose Byrne entra na história e se encaixa no clichê em dois níveis: é tanto o interesse romântico de Owen Wilson quanto à executiva que demonstra a beleza que há no Google.
Como os estagiários vividos por Vaughn e Wilson são os mais velhos, os tiozões analógicos (não por acaso, trabalhavam vendendo relógios, o que não deixa de ser esperto), eles têm que se juntar às mentes brilhantes jovens para conseguir seu objetivo – e é claro que vão se juntar aos undergrounds. Para diversificar um pouco o núcleo loser, Vaughn e Stern colocam os outsiders juntos: temos o tímido, o descolado hipster, a patricinha inteligente e, é claro, o über-nerd (confesso que dei um leve sorriso com a referência a Game of Thrones) como chefe do grupo. E eles enfrentarão um adversário unidimensional, inescrupuloso, cercado de gênios, que fará de tudo para roubar o concorrido emprego dos mocinhos. Ao menos, o filme zomba visivelmente do clichê. Tremenda sacada, talvez a excepcional do filme, chamar Max Minghella como vilão; se tem alguém que entende do que é trabalhar com tecnologia e ter seu posto roubado, é o ator de A Rede Social e A Hora da Escuridão.
Essa tendência acaba fazendo à narrativa rumar para o clássico conflito de equipes dos adolescentes rivais, que povoa de filmes infantis até as comédias mais cretinas, como Gente Grande. Porém, aqui, o problema não se intensifica porque as melhores gags estão nos conflitos de geração que o roteiro cria. Por mais que não seja a iniciativa mais inovadora do mundo, nas mãos de um executor correto como Shawn Levy (que faz uma breve ponta) funciona. A cena do jogo, por exemplo, é uma exceção ao funcionamento, um porre em sua lição de moral (bastou o time se preocupar com o jogo que reverteram o irreversível placar) e com algumas das piores gags do filme, como emular Harry Potter, que é no mínimo atrasado.
Já as piadas mais ligeiras, que dependem mais do non-sense (o banheiro da boate) ou da dinâmica Wilson-Vaughn, que tornam Os Estagiários uma sessão agradável, que diverte e cria empatia com os personagens sem muito esforço. A cena da boate, por exemplo, é irretocável, com uma paisagem quase surrealista, localizando diversas situações verdadeiramente divertidas que quase fazem o espectador esquecer o problemático ato inicial. O desenvolvimento dos personagens, ainda que não seja o melhor textualmente, se apóia muito no carisma de Vaughn e, principalmente, no de Wilson, que sustenta sozinho a ótima cena no restaurante com Rose Byrne. E se o final trata a crise econômica como se fosse um mero anúncio esperando para ser comprado por alguma gigante visionária como o Google, torcemos para que a empreitada dê certo por criar algum laço com seus divertidos personagens, que rende instantes legais como a cena do horizonte da ponte, quando o menino tecnológico prefere ficar mais um pouco pra admirar a paisagem.
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