Jobs
(jOBS, 2013)
Drama - 128 min.
Direção: Joshua Michael Stern
Roteiro: Matt Whiteley
com: Ashton Kutcher, Josh Gad, Dermot Mulroney, Matthew Modine, J.K. Simmons
Falar da importância de Steve Jobs para a
humanidade é chover no molhado. E se você acha que a expressão "importante
para a humanidade" é exagerada, imagine que sem o tio Steve você jamais
estaria lendo esse texto em seu micro-computador da forma como está fazendo
nesse exato momento. Talvez o micro-computador viesse a existir, mas não do
jeito que conhecemos hoje. Steve Jobs era um revolucionário, um dos sujeitos
que pensava sempre "fora da caixa" e um modelo para todo mundo que quer de fato, fazer a diferença. É uma inspiração para toda uma geração de empreendedores,
empresários, trabalhadores da comunicação e tecnologia e - porque não - de todos
aqueles que se cansaram de serem apenas mais um número.
Por isso, é bastante compreensível toda a comoção sobre a cine-biografia do fundador da Apple. Dá pra
entender também as reclamações quando o nome de Ashton Kutcher foi confirmado
como o interprete de Jobs. Afinal, Kutcher é mais conhecido por ser uma
"celebridade" do que por trabalhos de qualidade, que pesem (antes que
seja xingado por aqui) os bons desempenhos em Efeito Borboleta
e na serie de TV That's 70 Show. Apesar da semelhança física (e que nas imagens
divulgadas ficaram cada vez mais evidentes) o receio quanto ao desempenho de
Kutcher ressabiou muita gente que aguardava a produção.
Pois bem, Kutcher se esforça demais. Imita a forma de andar, limita seus cacoetes interpretativos ao mínimo e por vezes
consegue até emocionar, principalmente quando interpreta os discursos motivacionais
que Jobs fez em sua vida. Mas, não consegue impedir que o roteiro (o calcanhar de Aquiles da produção) imploda o filme. Roteiro esse, que salta no tempo entre diferentes momentos da vida de Jobs sem se preocupar
muito em ligar os pontos entre as perguntas feitas pelo filme.
Por exemplo, e revelando levemente alguns
spoilers: Jobs tem uma filha que durante parte da projeção ignora e chega a
renegar. Porém, quando finalmente somos apresentados a garota, Jobs
e a menina parecem felizes e vivendo um clima de amor e alegria. O que
aconteceu nesse meio tempo? Como as arestas foram superadas?
Outro grande problema do roteiro é que por
mais que tente ser neutro e apresente Jobs como um sujeito de difícil convivência,
com problemas de relacionamentos comuns e crises de ego, muito é deixado de
lado para que a cinebiografia tenha um ar de oficial. Por isso, o excesso de
nomes e pontas de figuras importantes para a história da Apple pululam durante
a trama. Isso enfraquece a trama principal, a jornada de Jobs que de garoto
"maluco" que largou tudo para ir até a Índia (em trecho em que falta
maior aprofundamento) se transformou em mega empresário revolucionário.
A trama omite trechos da vida do
personagem em busca de uma resolução de redenção e cheia de mensagens positivas.
É ruim ou "errado"? Não. É uma opção que o roteiro de Matt Whiteley e a direção
de Joshua Michael Stern decidiram seguir. Do ponto de vista narrativo até funciona ao apresentar alguns momentos de catarse emocional, porém ainda no tocante a narrativa ignora
partes importantes da vida do biografado deixando de responder perguntas feitas
pelo próprio filme. Jobs sai da Apple e aí? Como se reencontra financeira e
afetivamente? De onde vieram seus insights? E mais, porque a projeção se encerra no momento em que se encerra? Por quê não ir além? Além disso, seus demais projetos fora da Apple foram praticamente ignorados (existe uma pequena mensão ao Nexus, mas ignora-se completamente a compra
da LucasFilms e posteriormente a construção da Pixar).
Por outro lado, a reconstituição de época
é muito boa e os primórdios da Apple são muito bem ilustrados, e que se pese
que falte uma coisa aqui e ali (confesso não ser um especialista no
biografado), como narrativa ela funciona e você compreende tranquilamente as
intenções de Stern, em apostar na historia do self-made man, tipicamente americano.
O elenco de coadjuvantes acerta mais do
que erra. Josh Gad como o grande parceiro nos primeiros anos de Apple, Steve Wozniak,
é o elo emocional do público com o filme. Frágil, cheio de dúvidas e servindo como
"escada" em muito momentos, Gad faz um trabalho decente, embora não
mereça tanto destaque quanto vem se falando por aí (ouvi boatos sobre indicação
a Oscar e tudo mais). Outro que acerta é Dermot Mulroney, como o investidor Mike Markkula,
que se vê dividido muitas vezes entre o apoio ao genialidade irascível de Jobs
e seus compromissos empresariais com a companhia. J.K. Simmons (o mais próximo
de um vilão que o filme tem) e Matthew Modine também merecem destaque, já que
boa parte do desenvolvimento da produção foca-se nos problemas de Jobs com os
acionistas de sua companhia, representados pelos dois atores.
Jobs, em resumo, ganha pontos com o
legitimo esforço mimetizador de Ashton Kutcher, que convence fisicamente como o
biografado, mas não acerta ao optar pela solução simplista do recorte da vida
do personagem para o interesse da narrativa. Optar por esse tipo de saída além
de não parecer correto com a proposta de apresentar um retrato honesto sobre
alguém que mereça tal tipo de homenagem, é ineficaz ao não conseguir responder
aos questionamentos que o filme propõe. Jobs merecia coisa melhor.
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