O Ataque
(White House Down, 2013)
Ação/Drama - 131 min.
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: James Vanderbilt
com: Channing Tatum, Jamie Foxx, James Woods, Maggie Gylenhaal, Richard Jenkins
Roland Emmerich está de volta ao mundo
maravilhoso das explosões, tiroteios, efeitos visuais pirados e falta de
verossimilhança. Igualzinho ao que fazia no final dos anos 90 e início dos
2000, uma época mais ingênua onde tudo que viesse embalado por vermelho, azul e branco era
saudado como a verdade absoluta. Emmerich parece ter parado um pouco no tempo
na forma com que conta sua história (pra variar) absurda sobre a tomada da Casa
Branca por um grupo de terroristas.
Por outro lado, Emmerich ao menos cria uma
motivação atual e bastante pertinente para o ataque à sede do governo
americano. O Obama genérico, o presidente Sawyer (Jamie Foxx) decide retirar os soldados
americanos do Oriente Médio e negociar de vez um acordo de paz. Essa atitude não agrada a todos, especialmente aos empresários do ramo armamenticio.
O roteiro de James Vanderbilt é ácido ao - por diversas vezes - apontar essas empresas como
as verdadeiras "donas" do país. Discurso até ousado, mas que não é
incomum em produções de Emmerich. Afinal, quem não se lembra das cenas dos
americanos cruzando o Rio Grande em busca de refúgio no México em O Dia Depois de
Amanhã? Por mais ufanista que pareça, Emmerich vez ou outra cutuca a política
americana.
Outro uso moderno na produção é a do YouTube
como ferramenta de identificação dos terroristas. Sem entrar em muitos
detalhes, em determinado momento da trama um dos personagens filma com seu
celular os terroristas e isso acaba ganhando importância no reconhecimento dos
mesmos.
Porém, apesar de boas intenções e até
alguns questionamentos válidos como premissa, O Ataque sofre com personagens
frágeis e uma trama rocambolesca que pouco diverte. O plot básico além da
invasão terrorista coloca o "John McClaine" bombado de Channing Tatum
como um segurança particular do chefe da câmara dos deputados que está no lugar
errado, na hora errada. Horas antes o sujeito estava tentando conseguir uma
vaga como oficial do serviço secreto na Casa Branca, e pra piorar, tinha sua
filha como acompanhante quando o ataque acontece. Tatum ao menos não vacila no que dele é exigido e
convence como herói de ação, embora a cada tentativa de fazer graça (o que
funcionou muito bem em Anjos da Lei) o ator não consiga sucesso. Foxx parece
perdido na construção do personagem, que nunca convence como o líder de um
país. Auxiliado por um roteiro que entrega frases como "eu sou o líder do
mundo livre" (que clama por aplausos dos rednecks na platéia), o ator é
outro que escorrega ao tentar achar humor na trama. As
diversas observações sobre a dificuldade dos mais velhos lidarem com tecnologia
(e chamarem um vlog de blog de vídeo, o que em teoria é a mesma coisa) e a
piadinha canalha sobre os tênis presidenciais não garantem muito sucesso. Foxx ainda
protagoniza um vergonhoso ataque munido de... uma caneta (para legitimar o
discurso de que a caneta é mais forte que a espada, entenderam?).
Entre os coadjuvantes, um sumido James
Woods passa vergonha com um personagem descontrolado, traumatizado e que
mergulha na caricatura, assim como toda a trupe dos terroristas, que incluem o
líder carismático, o segundo em comando e que questiona as ordens, o pirado e o
hacker que precisa ser "diferente", tudo o que segue a risca o manual
do filme de ação nos anos noventa. "Ação anos 90" que também está presente nas
muitas sequências de ação, que incluem tanques explodindo coisas, limusines a
prova de bala, helicópteros e aviões de caça sobrevoando a Casa Branca e uma
quantidade enorme de tiroteios e afins.
O problema não está no exagero desse tipo
de produção (que, não sejamos ingênuos, sempre fez parte do mundo dos filmes de
ação hollywoodianos) mas na forma séria com que é apresentado ao público.
Emmerich opta por tentar criar algum realismo na trama e ao não acertar com as
cenas de humor (o que conseguiu em Independence Day , por exemplo) deixa a responsabilidade nos ombros de
personagens sem nenhuma profundidade e situações absurdamente exageradas e que
beiram a vergonha alheia (que incluem o já citado ataque da caneta e o uso da
bandeira presidencial para alertar um ataque militar entre outros momentos).
O Ataque é um filme datado de nascimento.
Parece ter sido achado numa gaveta, perdido em meio a outros roteiros
descartados por quaisquer motivos. Alguém achou o texto, atualizou as
motivações, inseriu alguma coisa mais tecnológica na mistura e entregou pro
Emmerich dirigir. Falta à urgência dos filmes de ação modernos, falta o humor
ácido das produções que não se levam a sério e uma trama que não apele para
crianças perdidas, presidente herói e vilões vingativos. Já vimos isso antes há
umas duas décadas... e melhor.
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