Invocação do Mal
(The Conjuring, 2013)
Terror/Thriller - 112 min.
Direção: James Wan
Roteiro: Chad Hayes e Carey Hayes
com: Vera Farmiga, Lili Taylor, Patrick Wilson, Ron Livingstone
Incensado (com razão) graças ao ótimo
trabalho realizado em Sobrenatural, o diretor James Wan, vive um momento
bastante feliz em sua carreira. Responsável pelo primeiro -e melhor - dos Jogos
Mortais, o diretor tem a sequência de Sobrenatural estreando em breve mundo afora e o
controle sobre a franquia Velozes e Furiosos que se mostra assustadoramente assertiva
e lucrativa. Wan está caminhando para se consolidar com um dos poucos diretores
do mainstream americano que assinam suas obras com características únicas.
Invocação do Mal prova seu talento para o gênero. Baseado
em uma história real acontecida em 1971, o roteiro dos irmãos Chad e
Carey Hayes acompanha a família Perron que acaba de se mudar para uma casa em
meio à zona rural do estado americano de Rhode Island. Ao mesmo tempo, também apresenta os investigadores sobrenaturais Ed e Lorraine, um
casal que ganha a vida descobrindo fraudes sobrenaturais ou enfrentando ameaças
do além. O grande acerto do filme é de não ignorar um mínimo de lógica em suas
ações mesmo lidando com um gênero em que a suspensão de descrença é fundamental. Ao apostar em duas linhas narrativas paralelas, o filme amplia seu
foco, e dá destaque tanto aos moradores da casa amaldiçoada como aos caçadores,
sem se esquecer de não fazer perguntas às quais não conseguiria uma resposta
minimamente convincente.
James Wan tem completo domínio sobre a
história que quer contar. É capaz de numa mesma produção ir do suspense psicológico
típico de produções do subgênero "casa assombrada", com uso do som e das sombras
para infligir medo no espectador, sem esquecer de apresentar cenas de
impacto gráfico com alguma constância. Essa dificuldade de previsão que o
público tem diante de uma produção que consegue com grande competência transitar
pelo terror mais gráfico e o mais subjetivo é o que fez com que a produção
ganhasse a comparação - a meu ver justa - com produções setentistas que mesmo
com recursos financeiros muito menores, não tinham medo de "chocar" o
espectador quando viam a necessidade. Ao mesmo tempo em que construíam um clima
de tensão constante que pregava o espectador na cadeira, ansioso pela resolução
da trama.
Durante quase toda a projeção é esse
sentimento que Invocação do Mal nos faz sentir. Com pouquíssimo espaço para o
público recobrar o fôlego, o filme embarca em uma espiral de constante tensão
apesar de sua trama não ter legitimamente nenhuma novidade. Mistura casa mal
assombrada, investigação parapsicológica, objetos amaldiçoados, fantasmas,
crianças macabras, serial killers, médiuns e ainda arruma espaço para incutir
traumas nos personagens principais. E milagrosamente nada parece fora do eixo.
Mas, Invocação do Mal não é perfeito. Incomoda-me
a resolução que opta por um simplismo incomodo, não em relação às respostas
dadas pelo filme aos seus questionamentos, mas a forma acelerada demais com que
Wan os resolve. Por outro lado, é impossível não sentir-se impressionado com o
visual e o acerto na construção dessas referidas cenas finais.
Como também é impossível não se sentir impressionado
com a reconstrução de época (já que o filme é supostamente baseado em fatos
reais) e nos objetos de cena. O que nos leva a macabra boneca Annabelle, um daquelas
"personagens" que já estão no hall de criaturas inesquecíveis do
cinema, ao lado do boneco Chucky, por exemplo. A curiosidade macabra me leva a
querer saber mais "aventuras" com a misteriosa boneca. De onde ela
veio? Quem teria sido seu primeiro dono?
Assim como a boneca impressiona, todo o
porão dos Warren, onde uma centena de objetos do tipo está guardada poderia gerar
uma infinidade de sequências, somente focando-se nas aventuras do casal de
investigadores. Teria, James Wan encontrado uma nova franquia? E se sim, por
onde começar? Com outras histórias do casal real? As possibilidades são
infinitas.
Vera Farmiga e Lili Taylor roubam a cena como as
reais protagonistas do filme. Se a médium de Vera é uma mulher essencialmente
enfraquecida por suas escolhas de vida e que ela considera uma verdadeira
missão, Lili é uma mãe em busca de soluções para os problemas em sua casa.
Patrick Wilson tenta de todas as formas tirar o peso das costas de sua mulher e
funciona como apoio racional da trama, enquanto o personagem de Ron Livingstone, o pai da família, é coadjuvante dentro da própria casa, tomado por sua mulher e suas muitas
filhas, aliás uma ideia inteligente e bastante pertinente em um mundo machista
como o nosso: dar força e fazer das personagens femininas fundamentais para a
trama funcionar. Além de Farmiga e Lili Taylor, a filha do casal de investigadores
(Judy/Sterling Jerins) e Christine (uma das muitas filhas dos Perron), que se transforma no elo
entre os eventos fantasmagóricos e a realidade.
Invocação do Mal não me causou o mesmo
frio na espinha que Sobrenatural havia me causado, mas, acho-o mais competente
que o filme citado e mais polido. Wan melhorou como contador de histórias e o
roteiro que tem em mãos apresenta maiores nuances e personagens mais bem
desenvolvidos e com arcos mais bem definidos. Se não "assusta" como o
seu filme anterior tem uma história melhor que mistura terror setentista (pelo
clima e ambientação) com técnicas modernas conseguindo criar uma ilusão de
suspense constante e energética.
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