terça-feira, 10 de setembro de 2013

Invocação do Mal

Invocação do Mal
(The Conjuring, 2013)
Terror/Thriller - 112 min.

Direção: James Wan
Roteiro: Chad Hayes e Carey Hayes

com: Vera Farmiga, Lili Taylor, Patrick Wilson, Ron Livingstone

Incensado (com razão) graças ao ótimo trabalho realizado em Sobrenatural, o diretor James Wan, vive um momento bastante feliz em sua carreira. Responsável pelo primeiro -e melhor - dos Jogos Mortais, o diretor tem a sequência de Sobrenatural estreando em breve mundo afora e o controle sobre a franquia Velozes e Furiosos que se mostra assustadoramente assertiva e lucrativa. Wan está caminhando para se consolidar com um dos poucos diretores do mainstream americano que assinam suas obras com características únicas.

Invocação do Mal prova seu talento para o gênero. Baseado em uma história real acontecida em 1971, o roteiro dos irmãos Chad e Carey Hayes acompanha a família Perron que acaba de se mudar para uma casa em meio à zona rural do estado americano de Rhode Island. Ao mesmo tempo, também apresenta os investigadores sobrenaturais Ed e Lorraine, um casal que ganha a vida descobrindo fraudes sobrenaturais ou enfrentando ameaças do além. O grande acerto do filme é de não ignorar um mínimo de lógica em suas ações mesmo lidando com um gênero em que a suspensão de descrença é fundamental. Ao apostar em duas linhas narrativas paralelas, o filme amplia seu foco, e dá destaque tanto aos moradores da casa amaldiçoada como aos caçadores, sem se esquecer de não fazer perguntas às quais não conseguiria uma resposta minimamente convincente.

James Wan tem completo domínio sobre a história que quer contar. É capaz de numa mesma produção ir do suspense psicológico típico de produções do subgênero "casa assombrada", com uso do som e das sombras para infligir medo no espectador, sem esquecer de apresentar cenas de impacto gráfico com alguma constância. Essa dificuldade de previsão que o público tem diante de uma produção que consegue com grande competência transitar pelo terror mais gráfico e o mais subjetivo é o que fez com que a produção ganhasse a comparação - a meu ver justa - com produções setentistas que mesmo com recursos financeiros muito menores, não tinham medo de "chocar" o espectador quando viam a necessidade. Ao mesmo tempo em que construíam um clima de tensão constante que pregava o espectador na cadeira, ansioso pela resolução da trama.



Durante quase toda a projeção é esse sentimento que Invocação do Mal nos faz sentir. Com pouquíssimo espaço para o público recobrar o fôlego, o filme embarca em uma espiral de constante tensão apesar de sua trama não ter legitimamente nenhuma novidade. Mistura casa mal assombrada, investigação parapsicológica, objetos amaldiçoados, fantasmas, crianças macabras, serial killers, médiuns e ainda arruma espaço para incutir traumas nos personagens principais. E milagrosamente nada parece fora do eixo.

Mas, Invocação do Mal não é perfeito. Incomoda-me a resolução que opta por um simplismo incomodo, não em relação às respostas dadas pelo filme aos seus questionamentos, mas a forma acelerada demais com que Wan os resolve. Por outro lado, é impossível não sentir-se impressionado com o visual e o acerto na construção dessas referidas cenas finais.

Como também é impossível não se sentir impressionado com a reconstrução de época (já que o filme é supostamente baseado em fatos reais) e nos objetos de cena. O que nos leva a macabra boneca Annabelle, um daquelas "personagens" que já estão no hall de criaturas inesquecíveis do cinema, ao lado do boneco Chucky, por exemplo. A curiosidade macabra me leva a querer saber mais "aventuras" com a misteriosa boneca. De onde ela veio? Quem teria sido seu primeiro dono?



Assim como a boneca impressiona, todo o porão dos Warren, onde uma centena de objetos do tipo está guardada poderia gerar uma infinidade de sequências, somente focando-se nas aventuras do casal de investigadores. Teria, James Wan encontrado uma nova franquia? E se sim, por onde começar? Com outras histórias do casal real? As possibilidades são infinitas.

Vera Farmiga e Lili Taylor roubam a cena como as reais protagonistas do filme. Se a médium de Vera é uma mulher essencialmente enfraquecida por suas escolhas de vida e que ela considera uma verdadeira missão, Lili é uma mãe em busca de soluções para os problemas em sua casa. Patrick Wilson tenta de todas as formas tirar o peso das costas de sua mulher e funciona como apoio racional da trama, enquanto o personagem de Ron Livingstone, o pai da família, é coadjuvante dentro da própria casa, tomado por sua mulher e suas muitas filhas, aliás uma ideia inteligente e bastante pertinente em um mundo machista como o nosso: dar força e fazer das personagens femininas fundamentais para a trama funcionar. Além de Farmiga e Lili Taylor, a filha do casal de investigadores (Judy/Sterling Jerins) e Christine (uma das muitas filhas dos Perron), que se transforma no elo entre os eventos fantasmagóricos e a realidade.

Invocação do Mal não me causou o mesmo frio na espinha que Sobrenatural havia me causado, mas, acho-o mais competente que o filme citado e mais polido. Wan melhorou como contador de histórias e o roteiro que tem em mãos apresenta maiores nuances e personagens mais bem desenvolvidos e com arcos mais bem definidos. Se não "assusta" como o seu filme anterior tem uma história melhor que mistura terror setentista (pelo clima e ambientação) com técnicas modernas conseguindo criar uma ilusão de suspense constante e energética.


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