quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Festival do Rio: The Way, Way Back

The Way, Way Back
(The Way, Way Back, 2013)
Comédia/Drama - 103 min.

Direção: Nat Faxon, Jim Rash
Roteiro: Nat Faxon, Jim Rash

com: Liam James, Steve Carrell, Toni Collette, Sam Rockwell, Maya Rudolph

Ator da cultuada Community, Jim Rash é também conhecido por seus roteiros de séries de TV (inclusive para a própria Community). Junto com Nat Faxon, também roteirista e ator, ambos fazem sua primeira incursão como diretores em The Way, Way Back. É um trabalho charmoso, com um domínio de linguagem cinematográfica bom por parte de seus diretores, que, ainda que não passe incólume, consegue utilizar seus clichês com dignidade.

O roteiro segue Duncan, adolescente tímido e entediado, que precisará viajar com sua “nova família”, que inclui o namorado de sua mãe, Trent, e sua filha. No verão do lugar, ele passará pelo processo de amadurecimento que precisa. É um "coming of age" em todas as suas nuances – e os diretores não procuram fugir disso -, desde seus personagens arquétipos (o padrasto escroto, a menina alternativa, a patricinha, o sábio mentor do jovem, a mãe dispersa) até seu desenrolar dos fatos, que em nada subverte a narrativa comum dos filmes-de-amadurecimento americanos. O clima tropical, com os conflitos de mais uma família disfuncional, chega a lembrar Os Descendentes; um filme roteirizado pela dupla, vale lembrar.

Os fatores que tornam o filme diferenciado, no entanto, é seu tom leve, bastante feliz em seus pontuais alívios cômicos e conferindo um descompromisso eficiente, seu desenvolvimento de personagens e o bom ritmo da narrativa. O desenvolvimento melhor apresentado é o de Trent, o personagem vivido por um contido Steve Carell, já demonstrando seu caráter duvidoso de primeira. Enquadrado pelo espelho do carro em seu primeiro take, como uma figura opressora aos olhos de Duncan, o personagem se tornará o maior obstáculo para o amadurecimento do reprimido menino. Sua filha se faz apenas uma alegoria, um arquétipo ambulante, mas a relação de pai-e-filha serve bem para um contraponto com a relação de Duncan e sua mãe, Pam.


Pam, por sinal, se revela o maior trunfo dramático de Rash e Faxon. À primeira vista, a personagem parece apenas uma representação de mãe distante para Duncan. Porém, através de sutilezas em cena, a mulher se torna bem mais interessante, digna de discussão. Ao contar sua história sobre uma duna, Pam não arranca os risos que seus amigos conseguiram contando suas experiências. Durante o jantar, ela é enquadrada de longe, com uma iluminação sutil, como se fosse distante não apenas de Duncan, mas de todos ali. É uma outsider como Duncan, afinal, o que justifica bastante suas ações com o filho. É ao longo da narrativa que Pam vai tomando consciência disso (com a ajuda do menino), e se esforça para não apenas se misturar aos outros. O paralelo entre os “dois” coming-of-age (de Pam e Duncan) ganha maior abrangência, quando a personagem de AnnaSophia Robb fala sobre a tendência do lugar em transformar os adultos em crianças novamente (“it’s spring breaks for adults”), um questionamento deveras contemporâneo. E bem embasado pelos roteiristas, que demonstram entender bem algumas dessas estruturas emocionais modernas daqueles seres humanos.

A noção de carpintaria dramática dos diretores é notável, também, em outras situações. No primeiro ato, Duncan reclama com alguma constância do lugar, da praia, do calor. Seria válido desenvolver a maturidade do protagonista num local bucólico, como a própria praia, mas Rash e Faxon resolvem com certo brilhantismo a questão: elegem um parque aquático para ambientar as descobertas do menino. Um ambiente bucólico, mas que nunca deixa de ser artificial; a representação perfeita para um início de amadurecimento para Duncan.

Ainda assim, The Way, Way Back não consegue fugir de suas limitações e utiliza das soluções fáceis que costumam habitar os filmes do gênero. O amadurecimento do personagem soa didático à exaustão por vezes (Sam Rockwell não precisava dizer duas vezes o chavão “Ache seu próprio caminho!”), as piadas vez ou outra não funcionam. Ver uma AnnaSophia Robb distante, lendo na praia e conhecendo aquela música diferente, é um clichê indie dos mais manjados; tampouco eficiente é a ideia de mostrar Duncan divagando na praia. Além do que, bom, adolescente andando de bicicleta infantil não é a melhor das gags – tudo embalado por uma trilha correta, mas comum, de Rob Simonsen.



São características que deixam o filme imperfeito. Mas devido à completa honestidade da proposta de Rash e Faxon, The Way, Way Back termina agradável, um bom estudo de personagens e uma narrativa alegre, divertida. Não tem o ambicioso alcance dramático e a construção absurdamente precisa de Mud (um coming-of-age que funciona em diversos níveis), mas é menos pretensioso e mais competente que Os Descendentes. Rash e Faxon não só meramente contam sobre como chegar à vida adulta, mas criam pessoas que vivem e sentem isso de verdade.

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