R.I.P.D. - Agentes do Além
(R.I.P.D., 2013)
Ação/Comédia - 96 min.
Direção: Robert Schwentke
Roteiro: Phil Hay e Matt Manfredi
com: Ryan Reynolds, Jeff Bridges, Mary Louise Parker, Kevin Bacon, Stephanie Szostak
Se tivesse sido lançado em meados dos anos
90, RIPD seria muito melhor recebido, já que o filme parece ter saído de uma
máquina do tempo diretamente de duas décadas atrás. Tanto em sua trama - que
ganha a comparação óbvia com Homens de Preto - quanto (infelizmente) no visual,
que não está entre as melhores produções visuais do ano (de fato, está entre as
piores).
Conceitualmente a trama do filme é até
interessante. Acompanha o policial Nick (Ryan Reynolds), um sujeito bacana, mas
que parece envolvido em atividades ilegais ao lado de seu parceiro Hayes (Kevin
Bacon). Quando ele percebe que sua motivação de dar um futuro bom para a sua
mulher é alterada por uma conversa em uma manhã de sol com a referida (porque
né, o sujeito está casado com a pessoa, mas parece não conhecê-la muito bem)
que diz que quer apenas uma casa e amor (mais que lindeza), ele decide sair dos negócios ilegais. Nosso amigo Hayes,
não aceita muito bem a negativa do personagem de Reynolds em continuar com as
trambicagens e simplesmente mata o sujeito. Uma vez morto, Reynolds é
contratado pela tal RIPD (em
inglês Rest in Peace Department), a polícia dos mortos que
impede que os que passaram dessa para uma melhor encham a paciência dos vivos. Recrutado
pela excêntrica Proctor (Mary Louise Parker), Nick é obrigado a trabalhar com o cowboy
do asfalto Roy (Jeff Bridges) e parte para a ação.
Como deu para perceber (espero), a trama
lembra a dos Homens de Preto, substituindo os alienígenas pelos mortos, porém
diferente do frescor e das boas atuações de Will Smith (o carisma em pessoa
nessa produção) e Tommy Lee Jones (que depois desse filme, esteve em diversos
outros basicamente adaptando esse personagem para as mais diferentes
realidades), Ryan Reynolds e Jeff Bridges tem a sua mão um roteiro que nunca
acerta na graça das piadas e que repete uma mesma situação bem pensada pelo
roteiro à exaustão.
Uma vez que os agentes do além precisam
circular no nosso mundo para ir atrás dos mortos que se escondem por aqui (nunca fica muito claro de que forma eles conseguem esse intento) sua fisionomia
é alterada. Reynolds, uma vez na Terra é um velhinho chinês e Bridges uma loira
voluptuosa com seios fartos e que abusa da sensualidade. Uma boa ideia e que é
exaustivamente utilizada pela produção ao ponto de perder completamente a
graça.
Assim como não tem muita graça a
caracterização de Jeff Bridges, que faz de seu cowboy um arremedo de seu
personagem em Bravura
Indômita e seu sotaque praticamente indecifrável. Se na
produção dos Coen, o sotaque era mais um elemento que caracteriza aquele homem
como uma fera que não gostava do contato humano e muito menos de ser
compreendido, aqui é apenas uma piada do roteiro e que não
acerta, já que o personagem de Bridges não é um mentor, ou mais um amigo de
Reynolds, mas um elemento cômico. Reynolds, entrega mais uma interpretação canastra e cheia de trejeitos que
não funcionam. Seu desespero em reencontrar sua esposa e mostrar que "por
trás" daquele chinês estava seu marido morto chega e irritar.
Assim como irrita o personagem de Kevin
Bacon ser tão óbvio. Claro que ele é o vilão, já que nos primeiros minutos ele
mata nosso protagonista, mas a ideia de fazer dele um super vilão com planos megalomaníacos
simplesmente não convence, assim como a relação dos mortos e o espaço da Terra.
Se existe tanta dificuldade para que os mortos escapem - e isso é dito mais de
uma vez - como é que a polícia tem tanto trabalho? E o próprio plot da trama
(que claro, não vou contar) que envolve essa dificuldade dos personagens é
muito mal explicado e parece ter sido pensado apenas para dar um sentido maior
a existência do vilão do filme. Ele não podia ser apenas um policial corrupto,
ele precisava estar diretamente envolvido no plot central da trama.
Visualmente o filme é bem pobre. Em
produções de ficção científica ou fantasia, os efeitos visuais são
absolutamente fundamentais para criar o universo em que tais histórias se
passam. Os cenários da polícia do além parecem excessivamente acanhados e por
mais que se leve em consideração de que o que vemos é apenas um dos distritos
policias dentre tantos existentes, a impressão é que existem apenas meia dúzia
de cadeiras, um depósito e um cano dourado por onde os chefes da instituição se
comunicam. Pior do que os cenários, são os mortos vivos. Quando estão cobertos
de próteses até surgem divertidos, mas quando é necessário que os mesmos corram
ou se movimentem e a computação gráfica é utilizada, é como se estivéssemos
acompanhando uma produção da - já citada - década de noventa. Quando vemos a
pele dos personagens computadorizados temos a impressão de estarmos vendo uma
dezena de bonecos de borracha e que se movimentam de forma absolutamente
irreal, e isso prejudica demais a credibilidade naquelas criaturas.
Para deixar a coisa ainda pior, o roteiro
cria uma trama rocambolesca e bastante clichê (sim, envolve salvar o mundo)
para resolvê-la em poucos minutos e de forma apressada e simplista. O mesmo
vale para o vilão de Bacon, apresentado como um sujeito realmente manipulador e
inteligente, mas que tem sua participação concluída de forma banal. RIPD é um
abacaxi, daqueles azedos e praticamente intragáveis. Um desperdício de três
atores cults (a saber: Jeff Bridges, Kevin Bacon e a musa Mary Louise Parker)
em detrimento de mais um veículo equivocado e estrelado pelo cada vez mais
fraco, Ryan Reynolds.
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