Nebraska
(Nebraska, 2013)
Drama - 115 min.
Direção: Alexander Payne
Roteiro: Bob Nelson
com: Bruce Dern, Will Forte, June Squibb, Bob Odenkirk, Stacy Keach
Alexander Payne é um dos mais laureados diretores de
temática independente, os famosos “humanistas” da cinematografia
norte-americana – que inclui ainda o irregular Thomas McCarthy. Suas temáticas
giram em torno do emotivo, do desenvolvimento familiar e daquela melancolia, o
agridoce da existência. O fato de Payne ser um roteirista pouco criativo, como
se percebe por Os Descendentes, não afeta Nebraska; o roteiro de Bob Nelson é
preciso, pois captura esse coração do cinema de Payne e o refina, com bons
resultados.
E o diretor sabe como extrair uma boa atuação. Se em
Confissões de Schmidt era Jack Nicholson, em Os Descendentes
era George Clooney - e aqui é Bruce Dern. O grande Dern encarna o que há de
inteligente – e debilitado – em seu personagem de forma contida, mas marcante.
Em seus ombros, e nos de Will Forte, Payne deposita o peso do Road-movie:
simpático como se esperava, além de menos pretensioso que Os Descendentes.
As tonalidades acinzentadas do preto e branco da fotografia
de Nebraska dão o tom desde o princípio. É a melancolia da idade, da
existência, mas bastante solar e agradável. Essa leveza, capturada pela
excelente trilha, se estende para a trama, que se inicia na crença de Woody (Dern)
ter ganhado um milhão de dólares, para a partir daí investir em sua aproximação
com o filho David, vivido por Forte. Não apenas a premissa tem seu quê de
absurdo. No filme, os absurdos servem de válvula de escape; logo ao chegar ao
estado, Woody perde sua dentadura na linha do trem. No retrato da cidadezinha
de interior, Payne e Nelson lançam mão de alguma caricatura: caracterizam os
primos de David como arquétipos do caipira norte-americano, constroem a mulher
de Woody como uma metralhadora de diálogos. A direção ainda investe em quadros
que mostram o absurdo do tédio da rotina ali, como os velhos reunidos na sala
em plano geral, o que reforça o tom gentil com que o filme trabalha a relação
de pai-filho e os temas que ela provoca.
É na dinâmica entre Woody e seu filho que Nebraska funciona
além do indie-de-grife da vez. Na vida do sisudo David, nada é marcante: seu
antigo relacionamento mal aparece em tela, seu carro é um Subaru Outback 95,
sua postura é curvada, tentando se esconder do mundo. Quando começa a viagem
com o pai, não parece mudar. Sua presença mal é notada pelos amigos do pai e os
primos o sacaneiam falando da velocidade de seu carro.
Porém, David é alertado
por sua mãe: “nisso que pode se transformar”, num momento que Payne capta de
forma interessante. Ao apontar para as falhas do pai, o diretor enquadra pai e
filho paralelos em cena, um na profundidade e outro no foco, como se um fosse
extensão do outro. Em um filme sobre passado, no qual quando uma criança
aparece em tela é um choque, o americano percebe com sutileza o peso do passado
na vida dos habitantes.
Numa cidade de muitos horizontes, planos abertos abundantes
ressaltando tanto o isolamento quanto o tédio de uma população idosa, Payne
encontra um palco apropriado para seu estudo. Os homens dormem ou observam os
carros passando lentamente, as mulheres fofocam ou cozinham. Mesmo os adultos
voltam à infância, agindo como crianças em um roubo. Ali, é até inevitável que
David bata de frente com seu conformismo – o que também combina com seu pai,
uma relíquia do passado que começa a não suportar o ambiente como extensão de
seu comportamento. A descoberta afeta também os relacionamentos da vida dos
protagonistas. Os melhores diálogos do filme são os fortes comentários de Woody
nas conversas com o filho, seja falando sobre o seu casamento (seu amor
verdadeiro, seus planos pra filhos), seja revelando sua afeição (“queria deixar
algo pra vocês”). Uma meditação sobre o efeito do tempo refletido no espaço, o
que agrada no contexto de Nebraska.
Não são reflexões propriamente novidadeiras, menos ainda
perfeitas (David nunca deixa de ser o loser típico em busca de reinvenção que
povoam os filmes do gênero), mas são relevantes, honestas. Alexander Payne é um
diretor mediano, que não consegue evocar o agridoce da vida com o poder de uma
Sofia Coppola, mas é competente o suficiente para criar um retrato sincero
sobre a revitalização de um homem e a aproximação de pai e filho nos
anacronismos do Nebraska.
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