O Capital
(Le Capital, 2012)
Drama - 113 min.
Direção: Costa-Gravas
Roteiro: Karim Boukercha, Costa-Gravas e Jean-Claude Grumberg
com: Gad Elmaleh, Gabriel Byrne, Natacha Régnier, Céline Sallette
Constatin Costa-Gravas é um dos maiores expoentes do cinema
político da história. Com filmes como "Z", "A Confissão",
"Estado do Sítio", "Desaparecido" e "Quarto
Poder" apontou sua câmera para denunciar a política internacional,
desmandos da mídia entre outros assuntos importantes e relevantes. Dessa vez Gravas
talvez cansado de tantas denúncias políticas ou por perceber que não existem
tantas diferenças assim entre os governos na maioria dos países, fala do
mercado financeiro.
Costa-Gravas faz um filme sem heróis ou vilões aparentes e coloca
todos os homens engravatados e que comandam as operações multinacionais
bancárias na mesma laia. Curiosamente vê por outro aspecto as mulheres. Tanto a inocente mulher de Marc, como a engajada e competente funcionária francesa
vivida por Céline Sallette e mesmo a bela modelo Nassim , são vistas com maior carinho. Se isso
quer dizer que Gravas aponta o dedo para os homens e prefere retirar a
responsabilidade das mulheres, não sei, mas é curioso notar que nem mesmo a
filha do antigo presidente e vista como uma pessoa de má índole, apenas como
incompetente para lidar com aquele mundo de politicagem.
Capital tem outra qualidade: não intelectualiza muito a respeito
da moral ou da consciência dos personagens. Tudo que precisamos saber a
respeito desses personagens, está ali impressa na tela. Marc é um sujeito
sedento por poder e dinheiro, porque uma vez dentro desse aquário de tubarões
sabe que não conseguirá sair sem sangrar e por isso quer conseguir a maior
fatia do bolo possível.
Para não tirar a diversão do espectador, me reservo o direito de
apenas comentar que a trama básica de O Capital é muito próxima de uma serie
de escândalos (ou do que imaginamos acontecer) nos meandros dessas organizações
poderosas. Mas, apesar de não apresentar nenhuma novidade temática, é nos
ombros do banqueiro que toda a responsabilidade do filme funcionar está colocada. A
interpretação de Elmaleh é segura e mesmo nos fazendo afeiçoar - afinal ele é o
protagonista e com alguma frequência quebra a quarta parede e se dirige diretamente
a câmera - nunca camufla seu caráter bastante duvidoso. A relação com a modelo
Nassim, exemplifica muito bem essa questão. Por parte da projeção encaramos Marc como mais um sujeito ingênuo enfeitiçado por uma mulher bonita, mas quando a narrativa
avança descobrimos o que de fato ele quer e sua relação com a garota, o que o torna ainda mais detestável.
O Capital é Costa Gravas nos dizendo que o jogo de poder das
grandes corporações internacionais é sujo. Nada de novo. Mas sob esses clichês está
um thriller intrigante e que (parece estar na moda) é sobre mais um sujeito de
caráter muito duvidoso e que é seduzido pelo poder e que sabe (muito bem) jogar
esse jogo cruel. Não tem o mesmo brilho de outros trabalhos do diretor, mas
ainda assim dentro da produção que aborda política internacional, o velho grego
ainda sabe muito bem como nos ironizar (a última cena do filme entrega essa
intenção).
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