domingo, 6 de outubro de 2013

O Capital

O Capital
(Le Capital, 2012)
Drama - 113 min.

Direção: Costa-Gravas
Roteiro: Karim Boukercha, Costa-Gravas e Jean-Claude Grumberg

com: Gad Elmaleh, Gabriel Byrne, Natacha Régnier, Céline Sallette

Constatin Costa-Gravas é um dos maiores expoentes do cinema político da história. Com filmes como "Z", "A Confissão", "Estado do Sítio", "Desaparecido" e "Quarto Poder" apontou sua câmera para denunciar a política internacional, desmandos da mídia entre outros assuntos importantes e relevantes. Dessa vez Gravas talvez cansado de tantas denúncias políticas ou por perceber que não existem tantas diferenças assim entre os governos na maioria dos países, fala do mercado financeiro.

Em O Capital acompanha a historia de Marc Tourneuil, o protegido do presidente de um grande e opulento banco francês. Quando seu "mestre" é diagnosticado com câncer, o grupo de acionistas prefere apontar Marc como seu sucessor, já que por ser o mais jovem imaginam que o sujeito possa ser facilmente manipulado. Porém, o personagem interpretado por Gad Elmaleh mostra-se ardiloso e aos poucos sua sede de poder começa a ser vista na tela.

Costa-Gravas faz um filme sem heróis ou vilões aparentes e coloca todos os homens engravatados e que comandam as operações multinacionais bancárias na mesma laia. Curiosamente vê por outro aspecto as mulheres. Tanto a inocente mulher de Marc, como a engajada e competente funcionária francesa vivida por Céline Sallette e mesmo a bela modelo Nassim , são vistas com maior carinho. Se isso quer dizer que Gravas aponta o dedo para os homens e prefere retirar a responsabilidade das mulheres, não sei, mas é curioso notar que nem mesmo a filha do antigo presidente e vista como uma pessoa de má índole, apenas como incompetente para lidar com aquele mundo de politicagem.



Capital tem outra qualidade: não intelectualiza muito a respeito da moral ou da consciência dos personagens. Tudo que precisamos saber a respeito desses personagens, está ali impressa na tela. Marc é um sujeito sedento por poder e dinheiro, porque uma vez dentro desse aquário de tubarões sabe que não conseguirá sair sem sangrar e por isso quer conseguir a maior fatia do bolo possível.

Para não tirar a diversão do espectador, me reservo o direito de apenas comentar que a trama básica de O Capital é muito próxima de uma serie de escândalos (ou do que imaginamos acontecer) nos meandros dessas organizações poderosas. Mas, apesar de não apresentar nenhuma novidade temática, é nos ombros do banqueiro que toda a responsabilidade do filme funcionar está colocada. A interpretação de Elmaleh é segura e mesmo nos fazendo afeiçoar - afinal ele é o protagonista e com alguma frequência quebra a quarta parede e se dirige diretamente a câmera - nunca camufla seu caráter bastante duvidoso. A relação com a modelo Nassim, exemplifica muito bem essa questão. Por parte da projeção encaramos Marc como mais um sujeito ingênuo enfeitiçado por uma mulher bonita, mas quando a narrativa avança descobrimos o que de fato ele quer e sua relação com a garota, o que o torna ainda mais detestável.


O Capital é Costa Gravas nos dizendo que o jogo de poder das grandes corporações internacionais é sujo. Nada de novo. Mas sob esses clichês está um thriller intrigante e que (parece estar na moda) é sobre mais um sujeito de caráter muito duvidoso e que é seduzido pelo poder e que sabe (muito bem) jogar esse jogo cruel. Não tem o mesmo brilho de outros trabalhos do diretor, mas ainda assim dentro da produção que aborda política internacional, o velho grego ainda sabe muito bem como nos ironizar (a última cena do filme entrega essa intenção).

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