Os Sabores do Palácio
(Les Saveurs du Palais, 2012)
Comédia - 95 min.
Direção: Christian Vincent
Roteiro: Etienne Comar e Christian Vincent
com: Catherine Frot, Arthur Dupont, Jean D'Ormesson, Arly Jover
Depois dos filmes americanos é a
cinematografia francesa a que mais chega ao brasileiro. Felizmente, a imagem
- incentivada por alguns colegas com "o rei na barriga" - de que tudo
feito na França é "difícil", "complicado" ou simplesmente
pedante e chato vem diminuindo a cada ano. Da mesma forma como nos Estados
Unidos não se faz apenas blockbusters e no Brasil filmes com temática de
pobreza e afins, na França se faz de tudo, de comédias a filmes de ação e terror. Pensar dessa forma, é diminuir toda a rica diversidade cultural de um povo e ser preconceituoso.
Sabores do Palácio é mais um dos exemplos
de histórias que nada tem de complexa e que se sabe lá porque acabam restritas
a um nicho dos apreciadores do cinema francês, enquanto boa parte do grande
público fica sem conhece-lo, mesmo que o filme seja apenas simpático e nada
tenha de verdadeiramente especial. Mas, diante a pobreza da maioria das estréias
de circuito, destaca-se pela simplicidade de sua trama. "Livremente baseado" na história da cozinheira do ex-presidente da França, François Mitterand, a história apresenta Hortense, uma cozinheira
que vive em uma fazenda e que de uma hora para outra vê sua vida mudar
completamente ao ser chamada para ser a cozinheira privativa do mandatário francês.
Quando a produção começa, passaram-se dois
anos da saída de Hortense da cozinha presidencial. Ela cozinha em uma base
científica próxima a Antártica e por meio de flashbacks conhecemos sua rotina.
O filme tem problemas ao nunca ir mais fundo na personalidade da protagonista
ou mesmo não explicar seus anseios com a profissão. Mesmo as motivações para
sua saída são frágeis e até um pouco banais, já que o filme talvez preocupado
em não "dramatizar" demais, esquece-se de dar força aos problemas
enfrentados pela personagem em seu dia a dia. A impressão que fica é que a
personalidade difícil da chef, misturada a sua incapacidade de entender o lugar
onde estava e as dificuldades financeiras enfrentadas a fizeram se irritar. Em
suma, o diretor Christian Vincent faz-nos parecer que a protagonista de seu filme é mimada e fresca.
Porém, isso não tira o charme do filme que
inteligentemente dá espaço a comida (aconselha-se a não assistir a produção de
barriga vazia) com muitos pratos da cozinha francesa deliciosamente
apresentados e saborosamente cozinhados. O que é interessante é que o
conhecimento enciclopédico de Hortense sobre sua profissão garante momentos
divertidos, com a dificuldade para todos ao seu redor, incluindo outros
companheiros de cozinha, conhecerem os ingredientes e receitas propostas pela
chef.
Outro elemento interessante e que dá
simpatia e elegância a trama é a relação amistosa entre ela e um acanhado e
envelhecido presidente francês, que garante bons diálogos. Porém, a presença
de uma equipe de reportagem australiana na tal missão científica jamais se
justifica. Sempre tentando saber mais sobre o período de Hortense na cozinha presidencial
(e nunca conseguindo) pouco acrescenta a história, já que não é por meio dos
relatos da cozinheira que o publico conhece a trama, mas por flashbacks simples
sem adição de off ou outras características desse tipo de narrativa. Sabores do
Palácio está bem longe da perfeição, mas é simples e divertido. Maiores
explicações sobre a motivação ou mesmo profundidade dos personagens seriam bem
vindas.
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