domingo, 29 de maio de 2011

Se Beber Não Case 2
(The Hangover Part II. 2011)
Comédia - 102 min.

Direção: Todd Phillips
Roteiro: Craig Mazin, Scot Armstrong e Todd Phillips

Com: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Ken Jeong e Mason Lee

No mundo da comédia, há muitos meios de se fazer rir. Há o humor físico, as anedotas clássicas, o humor involuntário e gags de situações de saia-justa. O ponto principal de tudo, e que configura o âmago da comicidade em qualquer produto que se intitule humorístico, é a famosa quebra de expectativa, termo conhecido e aprendido até mesmo no colegial básico. Para trazer as gargalhadas, portanto, é necessário a posse de uma idéia original, algo que nos surpreenda, adicionado de uma dose de timing. Por que esse lembrete sucinto sobre humor? Simples: O primeiro Se Beber, Não Case , de 2009, utilizava uma idéia genial sobre um gênero deixado de lado nos anos 80 - o filme de comédia sobre e para "macho". Com a temática clássica da ressaca em Vegas, o longa de Todd Phillips arrebentou por ousar numa história de amnésia, com personagens no timing certo, piadas originalíssimas e uma mão cheia para o escracho. Seguiu o que a cartilha do humor inteligente manda, e foi um sucesso arrebatador. O que o segundo longa - que estréia esse final de semana - faz, entretanto, não vai de encontro ao que o micro lembrete no início dessa crítica diz. Repete as piadas, não aposta em quase nada novo, e se aparenta perdido e inócuo em seu roteiro, principalmente se colocado lado a lado do original .



Não foi só agora que Phillips começou a apostar em algo repetido. Depois do sucesso de 2009, o diretor realizou um Parto de Viagem, e utilizou o tema já presente em Se Beber, Não Case , acoplando-o a um road movie. Sem nada muito novo para explorar - e com um Zach Galifianakis que praticamente repetiu o papel de Alan, mas dessa vez ao lado de Robert Downey Jr. - Phillips apostou em piadas de oralidade pura, e só não se saiu muito pior porque terminou o longa no momento certo. Já em Se Beber, Não Case - Parte II , tudo vai pelo ralo pois se abandona o mínimo de originalidade - o argumento é quase idêntico ao do original. É a piada repetida em essência, a previsibilidade em película .


Desde o primeiro frame somos expostos a isso. A única diferença básica - e que parece que foi a motivação para o filme ser realizado - é a mudança de cenário de Las Vegas para a Bangcoc. Dessa vez quem se casa é Stu (Ed Helms), e como a cerimônia será na Tailândia, para lá vai o resto da "matilha" - Alan (Zach Galifianakis) e Phill (Bradley Cooper). Depois da farra, dessa vez, eles não perdem o noivo, mas sim o irmão menor de idade da noiva. A partir daí, é amnésia de cá, envolvimento com gangues de lá, e as mesmas viradas de roteiro já degustadas no genial primeiro filme .


Não é exagero. A estrutura da narrativa é meticulosamente igual a do hit de 2009, uma opção consciente de quem estava preparando o roteiro, apostando em um retorno financeiro certo com o sempre eficiente caça-níqueis que o cinema “mais do mesmo” é. Desse modo, toda a trama de quebra-cabeça proposta em 2009 - com o suspense gradativo das descobertas do que haviam realizado na noite que se passara - é simplesmente colocada de lado. A imprevisibilidade e o artifício do inesperado, que são pontos fundamentais para qualquer boa piada, são impossibilitados de existirem aqui, por motivos óbvios. Mesmo que não se saiba exatamente como cada evento se sucedeu , é possível prever as soluções, e também os problemas pelos quais nossos protagonistas vão passar. E eles ocorrem na mesma ordem e na mesma lógica do primeiro filme, com os mesmos desfechos, sem inovações . De maneira esquemática e já conhecida, fica difícil de engolir o script dessa sequência/cópia, que perde seu tempero principal - a originalidade .


E se na estrutura e no encadeamento de arcos o filme já exalava previsibilidade, nos pontos em que ele se diferencia, e apresenta detalhes originais - como os personagens provenientes da cidade, por exemplo - simplesmente não consegue tirar o máximo deles. São pontos desenvolvidos com preguiça, sem a vivacidade necessária e ''jogados'' na narrativa sem muita relevância para a trama. É a prova de que Se Beber , Não Case! 2 consegue fracassar até nos ralos termos originais que propõe, e que mesmo deixando a inevitável comparação com o original de lado, ainda assim permanece na falha. É o triste resultado de um argumento desenvolvido ás pressas - e sem um pingo do preciosismo do primeiro longa - instigado pela ganância de lançar logo uma continuação nos cinemas mundiais.

Mas se este segundo Hangover consegue não ser uma perda total, é muito pelos seus detalhes. Há várias gags isoladas que fazem um trabalho interessante, e mesmo que não sejam suficientes para carregar a produção nas costas, geram gargalhadas verdadeiras. Outro trunfo que auxilia e muito a segurar o ritmo deste novo filme são seus personagens. Phill, Alan e Stu são engraçados por natureza, e apesar de não estar tão ''conectados'' aqui quanto no primeiro filme, ainda asseguram a atenção do espectador com confiança. Galifianakis segue com seu talento nato, extraindo momentos de pura genialidade e servindo como óleo lubrificante para a produção. Com momentos pontuados de humor físico sublime, e um ou outro escracho bem empregado, Se Beber...2 se sustenta como uma daquelas anedotas que você já conhece, mas que se for contada por quem sabe, ainda faz surgir um grato sorriso enviesado.



Nada que salve o resultado final do fracasso esperado. A tática de repetir milimetricamente a fórmula de um sucesso para garantir os cofres do estúdio deixa a amarga sensação de desperdício de rolo cinematográfico. Como um "meme", que aos poucos perde sua força no mundo virtual, Se Beber Não Case! 2 fará rir, mas será facilmente esquecido diante de sua irrelevância em essência. Desnecessário e fraco, só nos faz lembrar o que o personagem de Bradley Cooper fala no início da projeção: ''Será que não poderíamos fazer tudo de novo em Vegas?'' Não. Simplesmente não deveriam fazer de novo, em lugar nenhum.

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