sábado, 4 de junho de 2011

O Retrato de Dorian Gray
(Dorian Gray, 2009)
Drama/Thriller/Fantasia - 112 min.

Direção: Oliver Parker
Roteiro: Toby Finlay

Com: Ben Barnes, Colin Firth, Ben Chaplin e Rebecca Hall


Antes de começar é preciso salientar que jamais li "O Retrato de Dorian Gray", clássico da literatura inglesa, escrito por Oscar Wilde. Sim, eu sei, é falha de caráter, mas fazer o que? É melhor assumir nossos erros e lidar com eles. Por isso, não faço a menor idéia se o filme segue com fidelidade o que o livro apresenta, e meu julgamento (palavra pesada) apenas considera o objeto fílmico como referente para análise.


Dorian Gray (o filme) fala sobre esse ingênuo jovem rapaz (Dorian Gray, interpretado por Ben Barnes) que chega a cidade de Londres, cheio de sonhos e inocência. Seu avô havia morrido, e ele retorna a velha casa do patriarca da família (que lhe trazem memórias ruins) para herdar toda a sua fortuna. Aos poucos ele começa a fazer amizades, em especial com um pintor obcecado em retratá-lo (Basil Hallward, interpretado por Ben Chaplin) e um cavalheiro de humor ácido e observações cruéis sobre aquele "mundinho" (Lord Henry Witton interpretado por Colin Firth).



Logo a amizade entre os três cresce e Gray passa a se "soltar" pelas ruas e prazeres da cidade. Quando Hallward termina o retrato, além de ficar espantado com a fidelidade da pintura, Gray fica obcecado em permanecer naquela forma para sempre.


Resumidamente é assim que a primeira meia hora de exposição transcorre. O diretor Oliver Parker não se arrisca e dá espaço apenas para os atores apresentarem seu filme ao público. Quando a primeira virada do roteiro ocorre (e se você leu o livro ou conhece o mesmo, já sabe do que estou falando) os primeiros problemas do filme começam.


O ator Ben Barnes foi escolhido - imagino - pela beleza plástica que poderia indicar ao público que aquele homem poderia seduzir todo e qualquer ser vivo do planeta. Essa idéia não aparece em tela, Barnes é frio, distante, apela para os mesmos cacoetes de interpretação (olhos semicerrados, sorriso enviesado) para dizer ao público que ele "pode" ter quem ele quiser na sala. Firth e Chaplin, atores muito mais talentosos do que o jovem Barnes, tentam dar dignidade ao projeto, transformando seus personagens em figuras um pouco mais tridimensionais. Firth usa do cinismo e tenta imputar ao filme alguns questionamentos sobre as relações forçosamente hipócritas de uma sociedade facinada pelas aparências e sem espaço para a "diversão". Chaplin faz o contraponto, apresentando seu pintor como um obcecado por Gray (em todos os níveis) mas ainda preso a crisálida da liberdade.



A direção de arte, como é de praxe nesse tipo de projeto, é apurada em sua reconstrução do período, mas não consegue ser apreciada com freqüência, graças à câmera de Parker, que prefere manter-se firme em três cenários principais, esquecendo de todo o trabalho realizado pela equipe na criação de cenários de época. A fotografia tenta transformar o filme em um delírio gótico apelando para os tons de azul e para o lúgubre. Consegue em alguns momentos, em especial nas cenas passadas no sótão da casa de Gray, mas na maioria das vezes torna-se desnecessário acentuar ainda mais uma história que já é por sua natureza, bastante romântica e trágica.


Os problemas narrativos são fortalecidos no ato final, quando o filme salta no tempo, e Barnes - apesar da experiência do personagem - parece atuar no mesmo tom esquecendo toda a história do personagem até ali. A montagem não acerta também ao apelar para um recurso óbvio para apresentar passagem de tempo: cartas lidas sobre a mesa.


Como disse no começo da crítica, não li o livro que deu origem ao filme (e a tantas outras versões), mas pelo que "assuntei" o roteiro toma diversas liberdades com o material original, que - a meu ver - tornam o produto final mais fraco e sem gosto. Sai o discurso de "liberalização" e entra a história óbvia sobre excessos.



Dorian Gray termina com a sensação de que poderia ir muito mais além. Um diretor mais ousado e um protagonista menos modelo de cueca Calvin Klein (ainda existe isso?) talvez tirassem da garganta a sensação de que o filme é incompleto.

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