quinta-feira, 30 de junho de 2011


Missão Impossível IV




O novo filme da franquia Missão Impossível tem agora no comando Brad Bird, o duas vezes Oscarizado diretor de Os Incríveis e Ratatouille, na sua estréia em live-action. Porém, se a teoria era que uma abordagem diferente seria adotada por Bird, não foi o caso. Claramente, o produto é diversão escancarada capitaneada por Tom Cruise, ainda sendo extremamente eficiente em seu clima de espionagem. O tom do trailer, mais sóbrio que a ensolarada fotografia do segundo filme, deixa o filme com mais cara de filme de ação assumidamente pop, o que é ótimo no contexto. A trilha que embala a prévia, que vai de Eminem ao remix do tema clássico, investe bastante na ação e nas explosões, o que empolga de forma eficiente. Um legítimo blockbuster a se esperar.

quarta-feira, 29 de junho de 2011


Gato de Botas



O trailer do spinoff de Shrek aposta na natureza galanteadora do astro Antonio Banderas, dublador do Gato, para criar um competente trailer. Com uma fotografia interessante por ilustrar bem o clima dos vilarejos europeus, Gato de Botas pode ser uma boa homenagem da Dreamworks aos filmes tanto de faroeste quanto os do Zorro (o que novamente brinca com Banderas). Adotando obviamente a indispensável “arma-letal-que-pode-destruir-o-mundo” como MacGuffin, Gato parece ser correto, mas poderia ser memorável se apostasse mais na seriedade do que na comédia boba. Assim como a Dreamworks, em geral.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Animais Unidos Jamais Serão Vencidos
(Konferenz der Tiere, 2010)
Aventura - 93 min.

Direção: Reinhard Klooss e Holger Tappe
Roteiro: Reinhard Klooss, Oliver Huzly, Klaus Richter e Sven Severin

Com as vozes de: Jim Broadbent, Stephen Fry, Vanessa Redgrave e Andy Serkis


A animação como forma de contar uma história vem se transformando em coqueluche nas últimas duas décadas. É por ela que mais facilmente, toda e qualquer história pode ser narrada, desde épicos sobre o fim do mundo (Akira, Ghost in the Shell), passando por singelas histórias infantis (Kirikou e a Feiticeira, Meu Vizinho Totoro), fábulas existencialistas (Wall-E, Mary & Max), perversões adultas (Fritz, the Cat), críticas a sociedade (Planeta Selvagem, Túmulo dos Vagalumes), a boa e velha diversão (quase tudo que a Dreamworks já produziu) e o singelo uso da animação para emocionar cada um de nós (essencialmente o que a Pixar e Hayao Miyazaki fazem).


Pois bem, Animais Unidos é um Frankenstein sem controle, dopado e vingativo. Montado sobre diversas histórias paralelas tenta funcionar como libelo ecológico e pela preservação dos animais - um motivo deverás nobre - mas que esbarra em personagens unidimensionais, essencialmente caricatos e numa história que parece não ter sido criada por humanos, tamanho ódio destinado aos homo sapiens.



O filme começa com diversos sketches mostrando a destruição dos diversos habitat naturais de alguns animais, que se vêem forçados a migrarem. Aos poucos um grupo nada ortodoxo é apresentado (um galo francês, um velho casal de tartarugas, uma ursa polar, um canguru e um diabo da Tasmânia) que unidos passam a navegar juntos em busca de um lugar melhor para se estabelecerem. Ao mesmo tempo entram em cena um leão e um suricate que enfrentam problemas em sua região quando uma gigantesca represa breca a fornecimento de água em sua região.


O grupo aporta na região do leão e do suricate (algum lugar da África) e logo investem em uma tentativa de descobrir o que faz com que aquela região - antes banhada pelas águas de um rio - sofra de uma severa estiagem.


O filme é uma catequese de péssimo gosto para crianças pequenas. Aponta todas as "falhas de caráter" do ser humano, mas faz de cada um de seus personagens "bichomanos" que agem e pensam com a lógica daqueles que estão sendo criticados pela produção.



Temos um fã de golfe - um esporte obviamente animal - e outro que engana seus semelhantes para obter comida - outra característica profundamente ligada aos animais - e até mesmo daddy issues esses animais enfrentam. Outra óbvia referencia ao comportamento animal, é o uso da piada escatológica como meio de tentar fazer graça.


É difícil compreender como esse tipo de "Coisa" consegue ser produzida, financiada e encontra espaço nos cinemas mundo afora, já que apresenta falhas monstruosas em seu roteiro (afinal qual a idéia por trás? Diversos personagens são descartados durante o filme e o final é absurdo de tão ofensivo) tem qualidade sofrível de animação, peca pelo profundo mau humor e ainda é longo demais.


A trilha sonora é impagável (no pior dos sentidos) e a sequencia que envolve a primeira jornada dos animais rumo à represa - que até então eles não conheciam - já entrou para o hall de piores usos de trilha sonora em uma sequencia única.



A pregação chata e arrastada consegue ir piorando com o tempo, em especial quando o "núcleo" humano surge na tela. Apesar de compreender que a sátira era necessária, os personagens são representados com um ódio e desprezo dificilmente vistos em animações ou mesmo em live-action.


E o final? Pois é, fiquei pensando dias depois - afinal um filme desses deixa marcas em nosso cérebro - sobre qual a intenção do diretor e roteiristas com ele. Algo como "here comes the revolution", cuidado com sua casa e pense em morar em árvores e desaprender tudo o que conhecia? Não sei, e talvez o leitor consiga solucionar esse meu dilema. O que eu sei com certeza absoluta é que definitivamente Animais Unidos é um dos piores filmes da história recente do cinema, e sem dúvida o mais medíocre filme de animação do ano.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Hora do Espanto


O novo filme de Craig Gillespie, de A Garota Ideal, é mais um na onda de remakes oitentistas, como Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo. Porém, com este ótimo trailer, A Hora do Espanto se apresenta com uma estética estilizada precisa e promete bastante. Nunca vi o original, mas a história do vampiro vizinho de Charley(Anton Yelchin) parece dar um novo fôlego ao vampiro em seu jeito tradicional, dessa vez apostando na estética cool que vai da fotografia a atuação inspirada de Colin Farrell. Terror á moda antiga pra ninguém botar defeito. Uma grande promessa pro fim de ano. O negócio é torcer pro 3D ser bem aproveitado.

sábado, 25 de junho de 2011


A grande diferença entre um grande clássico e um filme cult é simples: Cult é aquele filme que você gosta e não necessariamente é tão bom assim (alguns até são), mas que por algum motivo você adora, se diverte e indica aos amigos. O caso é que na ânsia de encaixar esses filmes em alguma sessão, o Fotograma resolveu criar essa nova sessão, onde aqueles filmes amados e cultuados serão aqui comentados. Sempre de maneira leve e divertida, como pede um filme cult.

A Cura
(Cure, 1997)


O cinema de Kiyoshi Kurosawa é intrigante. Por mais que se transvesta de suspense, terror ou thriller de ação, no fundo seus filmes versam sobre a humanidade diante de seus medos e dúvidas. Em Cure, o policial Takabe (Koji Yakusho) tem uma vida dupla. É um investigador de policia consagrado e sempre engajado em descobrir a verdade sobre os crimes que investiga, mas também é marido de uma mulher profundamente perturbada psicologicamente, que se torna um fardo para a vida do policial.

Mas não é sobre essa relação que - aparentemente - Kurosawa quer tratar. O filme (escrito por ele baseado em seu próprio livro) propõe uma "cura" radical para nossos problemas: a liberação de nossos instintos mais básicos e violentos.


Mas também não é isso que o complexo filme de Kiyoshi nos mostra a primeira vista. A primeira vista temos um bem construído thriller policial que investiga diversas mortes - aparentemente sem sentido algum - que se relacionam por terem sido cometidas por cidadãos sem antecedentes criminais e realizados da mesma forma: um gigantesco X corta suas vitimas do pescoço até o tórax.


O detetive Takagi procura uma conexão entre as mortes e o encontra na figura sombria e interessante de Kunio Mamiya (Masato Hagiwara) um jovem que sofre de amnésia mas que sabe muito mais do que aparenta - e que por motivos óbvios não vou revelar para não estragar a surpresa do espectador.


Espectador esse que pode se decepcionar um pouco ao constatar que Kurosawa não aposta nas respostas fáceis e nem ajuda quem o assiste a perceber os detalhes e nuances de sua história, seja apostando em uma montagem entrecortada, que em certos momentos emula a sensação de vertigem e delírio, apostando na criação de um clima de tensão ou suspense (realçado pela fotografia sombria e recheada de escuridão e pela trilha sonora que aposta nos ruídos e na dissonância para criar o clima ideal) e que talvez não tenha um clímax tão interessante em um primeiro momento.


Um exemplo disso acontece na cena em que o detetive Takagi conversa em um hospital com um respectivo personagem. O hospital aparenta abandono e a iluminação acentua essa idéia, ao colocar em primeiro plano uma parede de tom amarelado e sujo, que serve de moldura para os dois personagens vistos envolvidos pelas sombras. A sujeira da “moldura” reflete o interior daqueles dois personagens e da visão do diretor sobre eles. A cena funciona como a apresentação de dois animais da mesma espécie que a muito procuravam se encontrar. Ambos estão nas sombras, quase que simetricamente espaçados, com essa moldura "podre" entre os dois.


Kurosawa nos diz aqui que o thriller e a investigação talvez não tenham o desfecho esperado, mas esses personagens são realmente importantes e a relação entre eles é o que move o filme. Percebam que no fundo Cure é sobre as personalidades assustadoras que todos temos, mas que são escondidas por camadas e mais camadas de comodismo social e máscaras que nos impedem de realizarmos aquilo que realmente sentimos. A tal cura é um tratamento virulento e de choque que é proposto e experimentado por alguns desses personagens, com resultados dos mais impressionantes.


O filme é repleto de climas e brinca com a expectativa do público instigando-o a procurar mais do que os olhos vêem. São detalhes, imagens e a percepção do que cada personagem na verdade tem a dizer por baixo da fachada. O espectador mais atento vai encontrar respostas e talvez reveja o filme com outro olhar. Em busca de soluções sim, mas observando menos o "belo telhado" e dano mais atenção a cada tijolo firme e bem cimentado que o brilhante Kurosawa San usou para fazer desse uma pequena jóia a ser descoberta pelo público.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

The Girl with the Dragon Tattoo


Depois do revolucionário A Rede Social, David Fincher lança um ano depois a sua volta ao gênero que o formou em 95 com Seven: o suspense de investigação. Com uma montagem esplêndida de imagens, aliadas à excelente versão de Karen O e Trent Reznor para Immigrant Song, o trailer é um dos mais vigorosos e competentes do ano. O visual da fotografia de Jeff Cronenweth, dessas vez mais dessaturada que em Rede Social, é um dos grandes atrativos da prévia, em conjunto com a direção de Fincher, que parece ser a mais arrojada desde Clube da Luta. Um belo panorama do que estar por vir e um trailer que consegue um feito invejável: transformar um questionável remake em um legítimo candidato á filme do ano.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Carros 2
(Cars 2, 2011)
Aventura/Comédia - 113 min.

Direção: John Lasseter e Brad Lewis
Roteiro: Ben Queen

Com as vozes de: Owen Wilson, Larry the Cable Guy, Michael Caine, Emily Mortimer, Eddie Izzard, John Turturro e Thomas Kretschmann

E a Pixar errou. Sim amigos, o estúdio mais competente do cinema mundial, responsável por alguns dos melhores filmes da história recente do cinema, um dia teria de errar. Infelizmente - e até de forma irônica - isso aconteceu pelas mãos do responsável pela própria criação do estúdio: John Lasseter.




Carros 2 é um Frankenstein mal costurado e com órgãos aparecendo, tentando a todo custo manter-se em pé. O primeiro Carros era uma história inocente, mas divertida (ao menos), focado no carro de corrida Relâmpago McQueen, um presunçoso carro da Nascar que aprende em sua jornada a esquecida cidade de Radiator Springs, o valor da amizade e da humildade. Carros 2 parece ter sido escrito numa explosão de idéias, nenhuma delas revisada ou melhor compreendida.



É um filme de espionagem (parodiando 007 - o que parece ser uma moda) e um filme sobre "ser você mesmo", e ainda é uma corrida ao redor do mundo. Tudo isso em menos de duas horas de projeção, apostando em personagens infantis ou infantilizados e uma história que é tão absurda quanto ineficaz.


A história de espionagem acompanha o espião Finn McMissil (voz original de Michael Caine) e sua investigação sobre o uso terrorista de uma arma, que acaba envolvendo a recém criada Corrida de Volta ao Mundo e seu novo e revolucionário combustível sustentável, desenvolvido por um milionário e que será usado por todos os carros na corrida. É nesse ponto que Relâmpago McQueen (voz original de Owen Wilson) entra. Instigado por seu amigo - e protagonista desse filme - Mate (vo original de Larry the Cable Guy), decide se juntar a trupe dos maiores carros do planeta (que incluem carros de fórmula, protótipos e até carros de rally) e competir. Ao mesmo tempo, Mate é confundido com um espião americano e passa a ser peça chave na investigação dos espiões britânicos (além de McMissil, a delicada Holley Caixa de Brita, voz original de Emily Mortimer).



Confuso e cheio de idas e vindas, o roteiro concebido (como de praxe em animações) a muitas mãos - Ben Queen baseado em história de Lasseter, Brad Lewis e Dan Fogelman - tem apenas uma nota positiva: não aposta na obvia continuação, preferindo uma abordagem diferente a essa sequencia, o que explica a tal história de espionagem. Mas é muito pouco, principalmente quando o seu roteiro é cheio de fórmulas manjadas, discursos de livro de auto-ajuda (os piores ainda por cima) e um plot twist final que faz a cabeça do espectador explodir ao não conseguir compreender - além de revelar uma quantidade notável de rombos na história até ali - as motivações do tal "vilão misterioso".


O apuro técnico da Pixar continua impecável. Desde a calorosa Radiator Springs, passando pela iluminada e compacta Tóquio (onde encontramos as gags mais engraçadas do filme, como a que envolve wasabi, uma espécie de condimento japonês e as famosas e bizarras privadas daquele país), a já retratada Paris (em Ratatouille), passando pela pista italiana, que mistura as curvas do principado de Mônaco (os fãs de automobilismo certamente reconhecerão) com o clima amoroso das pequenas e encravadas cidadelas medievais características do país. E finalmente Londres, que é retratada com extremo bom gosto e com um destaque especial para a reconstrução do transito e do palácio de Buckingham.



As corridas são de longe o ponto alto do filme, todas lindamente mostradas, apostando nos ângulos conhecidos pelo espectador das transmissões de automobilismo e simulando com exatidão os diferentes pisos e os sons de cada um dos carros. Notem, por exemplo, como o carro de fórmula (Francesco Bernulli, claramente uma Ferrari quem tem voz original de John Turturro) tem um som absolutamente diferente do carro de rally (uma homenagem a Peugeot e seus famosos carros campeões da categoria) e como o próprio desempenho dos diferentes tipos de carro foram pensados de acordo com suas características em cada um dos pisos - o fórmula anda melhor no asfalto, enquanto o carro de rally e McQueen, por ter aprendido a técnica no primeiro filme, se saem melhor na terra, por exemplo. Uma pena que essa estrutura que lembra vagamente o clássico Grand Prix (ao acompanhar uma trupe de corredores pelo mundo) e o clássico anime Speed Racer (que envolve os perigos e inimigos que tentam tirar da prova os principais corredores, além da rivalidade entre os competidores durante uma temporada de corridas) apareça tão pouco tempo na tela.


Lasseter apostou na trama de espionagem que até começa muito bem, com uma grandiosa e muito bem realizada sequência recheada de explosões e tiroteio, mas se compromete ao apostar suas fichas no pior de todos os coadjuvantes do primeiro Carros: o guincho abobalhado e infantil Mate.



Do ponto de vista meramente mercadológico, talvez faça algum sentido, já que Mate é um dos mais queridos pelas crianças (que fizeram do primeiro Carros, um sucesso de público), mas pensando apenas na estrutura da história, a ingenuidade do personagem depõe contra a criação de uma aventura do mesmo nível das que a Pixar pode - e já - realizou. Tolo por quase todo o filme, e conseguindo realizar todas as suas ações por pura sorte, Mate é um herói acidental, e quando o filme começa a "transformá-lo" em um verdadeiro herói de ação perde a chance de fazer graça dessa condição. Sai o ingênuo guincho enferrujado que não tinha idéia de que o confundiram com um espião e entra o engajado e seguro de si guincho (ainda abobalhado) mais que consegue se safar e pensar em soluções de forma mais impressionante e ágil do que Sherlock Holmes, por exemplo. Mate talvez funcionasse (e disse talvez) como um coadjuvante bobalhão, mas jamais como protagonista, já que o personagem é uma coleção de frases de efeitos pretensamente engraçadinhas, que talvez funcionem para o seu sobrinho de 3 anos (e disse talvez, de novo).


Esse Frankenstein animado ainda corre o risco de passar uma mensagem perigosa, quando coloca como vilões de seu filme carros velhos e "ruins", que nas entrelinhas buscam uma vingança contra os mais novos e mais modernos. Lasseter parece querer catequizar as pequenas crianças a temer o diferente e o mais velho, ao mesmo tempo em que coloca como protagonista um carro igualmente "apodrecido". Afinal o que isso quer dizer?



A Pixar cometeu aqui seu primeiro grande equívoco, que o próximo (o já anunciado Brave) novamente mostre toda a capacidade da empresa em criar o melhor entre as animações produzidas no ocidente. E que possamos ter de volta a sensação - até então certeira - de que esses caras são os melhores no que fazem.


Obs: o curta Férias no Hawaii, que acompanha o filme é mediano, mesmo contando com os personagens de Toy Story.


Obs 2: a dublagem nacional não atrapalha. Luciano do Valle como o locutor é o grande destaque entre os famosos.


Obs 3: o 3d não é ruim, mas também não acrescenta muita coisa. Se a dúvida pesar e o bolso estiver vazio, opte pelo 2d, a diferença não compensa o preço mais alto.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

The Descendants


O trailer do novo filme de Alexander Payne tem um tom agridoce que já é conhecido nas obras do diretor. O protagonista de meia-idade, também uma constante na filmografia de Payne, é personificado por George Clooney, na história simples do homem que precisa se reconciliar com suas duas filhas após um acidente com a ex-mulher. Como o drama tem tudo pra dar as cartas de maneira intensa, quando necessário, alguns elementos fogem do controle e o próprio trailer sugere um deles, a traição da mãe das meninas. Depois de sete anos longe das filmagens, esse parece ser um retorno promissor de Payne, após sua consagração por Sideways.

terça-feira, 21 de junho de 2011

VIPS - Histórias Reais de um Mentiroso
(VIPS - Histórias Reais de um Mentiroso, 2011)
Documentário - 71 min.

Direção: Mariana Caltabiano



A idéia é ótima. O protagonista é igualmente interessante e a história é impressionante. Três elementos básicos de qualquer narrativa minimamente razoável. Vips- Histórias Reais de um Mentiroso tem tudo isso. A idéia de apresentar a história de Marcelo Nascimento da Rocha na tela grande trazendo detalhes de suas incríveis histórias é um achado, pois seu protagonista talvez seja um dos mais carismáticos personagens retratados em um documentário recente no país. E sua história beira a fábula, tamanha a quantidade ininterrupta de acontecimentos de sua vida que merecem ser ouvidos e vistos.


Mais então porque o filme não consegue ser mais que mediano? Amador na forma e tendencioso - flertando perigosamente com o apoio ao marginal - no conteúdo, o filme de Mariana Caltabiano é uma colcha de retalhos mal costurada. A diretora mistura sua história pessoal com o personagem, usa de animação de baixíssima qualidade para ilustrar algumas passagens do filme, maquetes "engraçadinhas" para outras e perde a oportunidade de ser mais profunda com seu personagem ao optar por tratar na mesma medida (embora, sejamos justos com menor exposição) as "molecagens" de Marcelo - como o caso da Gol - e as óbvias contravenções graves (Marcelo foi piloto do narcotráfico e segundo ele ainda é apadrinhado por um chefão).



Marcelo é um personagem empolgante, suas muitas histórias são ótimas (embora possamos desconfiar de todas, já que o referido é um mentiroso confesso) mas, ao se documentar sua vida e seus atos, o filme não diferencia suas muitas falhas de caráter e suas contravenções, colocando tudo na mesma conta. A impressão que dá é que o filme encara o rapaz como um animal exótico, uma excentricidade e não como um perigoso charlatão.


Pior é quando a diretora - sem o menor motivo narrativo - insere sua própria vida na história. Qual a idéia? Catarse coletiva? Que nos emocionemos com seu drama? Mais uma prova de que Marcelo é "bandido romântico"? De qualquer forma não funciona e enfraquece o conjunto, que não é muito coeso, apostando em uma série de entrevistas com o personagem, intercaladas com outros depoimentos de pessoas que auxiliam a montar o mosaico da vida desse rapaz. O problema é que tudo é ligado ao tal evento da Gol, faltando profundidade nas demais "aventuras" de Marcelo. Onde estão os parceiros das viagens ilegais ao Paraguai, por exemplo? E os detentos que Marcelo "liderou" em uma rebelião na cadeia?



Mariana não conseguiu criar um documentário que fizesse jus ao personagem formidável e complexo que tinha em mãos e por isso é impossível não pensar o que essa história nas mãos de um documentarista mais competente poderia render.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Larry Crowne



O novo filme de Tom Hanks, o primeiro desde o bom The Wonders!, tem o bom humor e carisma do astro, mas parece ter a trama com marca registrada de sua amiga Nia Vardalos, que escreveu o roteiro com Hanks. A "grega" Nia, roteirista de Casamento Grego e Eu Odeio o Dia dos Namorados, tem as tramas românticas como marca e Larry Crowne, ainda que seja uma bem humorada romântica. O trailer tem um timing cômico eficiente e conta um panorama bom da trama sem revelar muitas coisas. Interessante pra se ver de forma leve, como os dramas feel-goods que volta e meio surgem.

sábado, 18 de junho de 2011

Passe Livre
(Hall Pass, 2011)
Comédia - 105 min.

Direção: Peter Farrelly e Bobby Farrelly
Roteiro: Pete Jones, Peter Farrelly, Kevin Barnett e Bobby Farrelly

Com: Owen Wilson, Jason Sudeikis, Jenna Fischer e Christina Applegate



Em filmes como Passe Livre a primeira questão que podemos fazer é: para quem e para que uma produção como essa é realizada? Vendida como "comédia de casal", na verdade destina-se a adolescentes bobalhões que adoram rir no cinema de situações constrangedoras, fazendo desse aqui um sub Se Beber Não Case. No tocante da resposta ao para que, podemos ter duas respostas prováveis: fazer graça e "passar uma mensagem". Nos dois quesitos o filme falha vergonhosamente, sendo responsável por alguns dos momentos mais infelizes deste que escreve relacionado à produção cinematográfica no ano de 2011. Impossível se divertir com piadas requentadas e que tem como única idéia o choque puro e simples. E a mensagem... Presunçosa, preguiçosa e incompetente, são os adjetivos que me vem a mente - obviamente se excluirmos os mais chulos.

A idéia até parecia interessante: dois caras casados (Owen Wilson e Jason Sudeikis) que tem uma semana de "passe livre" para tentarem pegar a maior quantidade de mulher possível, numa tentativa desesperada de "aliviar as tensões" dos relacionamentos travados dos dois.


O problema é que se tratando de uma comédia americana, tudo é muito bonitinho e as situações que poderiam ser mais engraçadas ou pelo menos um pouco mais inteligentes são desperdiçadas pelo excesso de meiguice. Invariavelmente nesse tipo de produção "romântica" não falta à cena em que uma linda mulher fica nua na frente de um personagem que desiste na última hora de fazer sexo com ela, porque ama "a mulher e sua vida de casado".



Não que eu não defenda a monogamia, mas o roteiro não consegue nos fazer crer naqueles dois personagens, em especial o de Sudeikis (Fred), que surge desprezível fazendo um ótimo par com a sua esposa, a também insuportável Grace (interpretada como sempre - ou seja, de forma exagerada - por Christina Applegate). Cheio de piadas ruins, comportamento medroso e nada adulto, novamente fico em dúvida a quem esse filme se destina: adultos ou a adolescentes medrosos? Ou pior, a casais medrosos e cheios de melindres.


A idéia do tal passe livre, nunca foi idéia dos maridos e foi sugerido pelas esposas que - mesmo depois de casado - parecem não conseguir discutir a respeito de sexo e de fantasias uns com os outros. Corroborando o que digo, Owen Wilson em determinado ponto do filme tem um discurso "Sarah Pallin" que deve ter feito todos os puritanos do planeta se emocionar. Nada contra as escolhas dos outros, mas a única reação que tive ao discurso do personagem foi de pena, de solidariedade com sua história patética e de irritação com a solução obvia e politicamente correta escolhida pelos roteiristas.


Os irmãos Farrelly - do ainda imbatível Quem vai Ficar com Mary - têm descido ladeira abaixo em suas carreiras. Deixando de lado a comédia ácida e cheia de piadas vulgares e "amadurecendo" - contando histórias de adultos imaturos que vão crescendo - deixaram de ser bons contadores de histórias para caírem na vala comum da comédia "adulta" americana. Falta-lhes coragem para pegar mais pesado com seus personagens, e não apelar para as piadas óbvias e derivadas de outros trabalhos seus e da recente febre Se Beber Não Case, que por mais defeitos que pudesse ter não teve medo em expor uma realidade mais "plausível" de seus personagens envolvidos naquela situação.



Passe Livre quer fazer graça da óbvia falta de tato e talento de dois homens de meia idade parados no tempo e que não sabem e nem conseguem se relacionar com as "mulheres do novo milênio". Se a idéia fosse fazer essa paródia e concluir que definitivamente esses dois caras são dois babacas que se consideram mais importantes que a vida, o filme seria excelente. Afinal o que não falta é homem (e mulher casada) que acha que é só piscar e estalar os dedos que milhares de parceiros vão brotar da terra, graças a sua infinita sedução.


Mas o filme precisa ser moralizador, precisa ter uma mensagem edificante pró-casamento, e pior não consigo realmente entender o motivo de tanto drama em relação aos casamentos dos dois casais. O que fica claro é que são dois adolescentes eternos, que não experimentaram suficientemente a vida antes de se casarem e que agora fica fantasiando com uma realidade que não tem, enquanto tem de viver o dia a dia com a pessoa que escolheram. Curiosamente essa questão é defendida por boa parte da população americana e pelo próprio filme, ao mesmo tempo em que faz graça da mesma situação. Entenderam?


Na minha terra isso se chama bipolaridade. E é dessa forma que resumo o roteiro do filme: bipolar. Ele começa tentando fazer graça das situações dos personagens (com destaque para os dois primeiros dias retratado no filme, que funcionam direitinho) e termina nessa melação descrita acima, que para os Farrelly deve significar desenvolvimento de personagem.



Além de Wilson e de Sudeikis (protagonista e coadjuvante principal respectivamente), uma série de outros personagens orbitam a dupla. Além de suas esposas Jenna Fischer/Maggie e Grace/Christina Applegate, fazem parte da história alguns amigos da dupla que entram em cena como voyeurs de luxo dessa situação ridícula, e são descartados sem maiores explicações pelo roteiro - talvez porque os Farrelly não saibam o que fazer com personagens que iriam contra sua pregação. O único coadjuvante interessante é o personagem de Richard Jenkins. Ele interpreta Coakley, uma espécie de guru que orienta nossos "heróis" a como identificar os sinais das mulheres interessadas. Tudo com bom humor e certa dose - generosa - de libertinagem que destoa do "bom mocismo" abobalhado dos personagens.


Outros problemas graves, são as tais cenas de comédia de banheiro repetidas e que aqui ainda são somadas a situações exageradas representadas pelo personagem de Derek Waters (Brent), um atendente de uma cafeteria, obcecado com uma das personagens e que protagoniza os piores - é possível - momentos do filme, com direito a chiliquinho, quebra-quebra e tiroteio.


Os irmãos Farrelly já foram considerados os grandes representantes da comédia "adulta" americana, que nada mais é do que uma sucessão de piadas que ridicularizam sexo e funções biológicas e que sabe-se lá porque alguém entende como adulto. De qualquer forma, Quem vai Ficar com Mary e Debi & Lóide são grandes besteiróis modernos e ainda funcionam. O problema é que a dupla se leva a sério demais e acha que tem a competência necessária para fazer observações sobre a sociedade. Suas criticas - em especial nesse filme - soam despreparadas e adolescentes. O julgamento de valores é torpe e seus personagens não são críveis e muito menos interessantes a ponto de nos importarmos com eles.

Não me interessa se Fred tem um bom casamento com Grace, dois detestáveis seres "vivos". Ou não me sinto emocionado quando Wilson se declara para sua esposa (Maggie). Tudo soa politicamente correto e mentiroso, principalmente em uma comédia que foi vendida como "extrema" e teve direito a "unrated cut". Que os Farrelly entendam que essa não é a praia deles, ou se preparem melhor para entregar seus comentários sociais de maneira mais inteligente e verdadeiramente engraçada.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

The Muppets





O inspirado trailer do filme, baseado nos fantoches de Jim Henson, exibe imenso carisma e bom humor ao empregar a metalinguagem com a indústria do cinema como fator principal nos 2 minutos da prévia. A sacada de apresentar o filme como uma comédia-romântica com Jason Segel e Amy Adams é excelente e a forma como o truque é revelado, quando o narrador anuncia a presença de Caco, o Sapo no elenco, é divertidíssima. Escrito pelos competentes Segel e Nicholas Stoller, dos elogiados Forgetting Sarah Marshall e Get Him to the Greek, Muppets é uma das grandes promessas de filmes infantis esse ano, honrando o legado inesquecível dos fantoches.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Meia Noite em Paris
(Midnight in Paris, 2011)
Comédia/Romance - 100 min.

Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen

Com: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kathy Bates e Marion Cotillard



Woody Allen é um fenômeno. Mais do que manter-se como um prolífico realizador por mais de 4 décadas praticamente de forma ininterrupta, consegue sempre despertar a nossa curiosidade, ou mesmo nossa vontade irracional de assistir qualquer nova produção realizada por ele.


Porém, era com certa tristeza que nos últimos anos acompanhamos uma brutal queda de qualidade de seus filmes, recontando histórias que o próprio Allen já fez em seu passado, enquanto ele partia num tour mundial filmando diferentes cidades do mundo. Esteve em Londres, Barcelona e agora Paris. Sorte nossa, que Paris pareceu inspirar o autor (esse sim, faz jus ao "adjetivo") a produzir seu melhor e mais interessante filme nessa década e talvez o mais interessante no novo milênio (rivalizando com Match Point).


Meia Noite em Paris é um desbunde para os olhos, ouvidos e um alento ao coração. Acompanhamos a história deliciosa do roteirista de cinema Gil Pender/Owen Wilson que decidido a escrever um romance aproveita uma viagem dos pais de sua noiva (a lindíssima mesmo loira Rachel McAdams) até a cidade luz, para inspirar-se.



O filme começa com um incomodo, mas compreensível no decorrer do filme, excesso de imagens da cidade francesa (quase dois minutos) mostrando diferentes pontos da cidade. Essa clara e óbvia homenagem fica clara durante a produção, já que Allen não furta a declarar seu amor por Paris e a vida da cidade.


O que faz de Meia Noite um filme especial na filmografia do diretor é um retorno - bem vindo - ao realismo fantástico e a fábula, tão bem realizada em Rosa Púrpura do Cairo. Porém em vez de copiar a formula pura e simples, Allen o transferiu para outra esfera e para uma época especifica e recheada de artistas e gente interessante. Pelo menos segundo a perspectiva do personagem de Wilson, um nostálgico.


Durante sua aventura, que faz o filme ser um charme especial, de uma forma ou de outra Wilson descobre a verdadeira motivação para escrever enquanto vai "conhecendo" diversas pessoas talentosíssimas e históricas. Entre elas: Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Salvador Dali, Luis Bunuel, Gertrude Stein, Pablo Picasso, TS Elliot, Degas, Toulouse Lautrec, Gauguin, Cole Porter, Jean Cocteau, Matisse entre outros. Se o espectador conhecer os personagens citados vai se deliciar com as inúmeras referencias a trabalhos, frases famosas ou a características históricas dos personagens.



Wilson, o protagonista dessa fábula tem - talvez - seu grande momento da carreira. Abobalhado, mais profundamente romântico e crível, seu personagem é um excelente alter-ego para as neuroses de Allen, por vezes até imitando a forma como o roteirista fala. Além de Wilson - e como sempre em produções de Allen - os coadjuvantes são todos interpretados por atores talentosos. McAdams num samba de uma nota só como a insuportável noiva de Wilson talvez seja o ponto baixo, que é balanceada pela magnifica e profundamente bela Marion Cotillard, aqui vivendo uma sonhadora e apaixonada. Kathy Bates trás toda a sua experiência e talento a um personagem histórico complexo e bastante interessante, enquanto Michael Sheen diverte-se como o chatíssimo Paul, um sabe-tudo irritante que funciona como nêmese de Wilson.


Diferente dos outros filmes de Allen, em que tínhamos uma idéia básica até que interessante, mas que esbarrava em uma série de problemas crônicos de roteiro e de piadas repetidas ou simplesmente ruins, aqui Allen acerta em quase tudo. Alguns podem até reclamar da conclusão um pouco apressada, e da falta de uma explicação para os eventos do filme, o que em minha opinião profundamente pessoal, demonstra uma falta de compreensão da obra gigantesca.


Além de prestar homenagens a uma série de talento do passado, ainda - e de forma muito consciente - aponta para o hoje, o agora, discutindo de forma leve e quase professoral, o verdadeiro significado da nostalgia. Segundo o filme, ser nostálgico é uma fuga da realidade. Ao encararmos o passado como algo verdadeiramente perfeito, um momento no tempo onde não podemos participar, dizemos a nós mesmos que não somos capazes de criar ou de nos envolver em algo que valha realmente a pena, e que em nossa época nada é verdadeiramente importante ou interessante.



Allen aqui critica o discurso pronto dos "jovens velhos" que não conseguem enxergar talento ou mesmo felicidade em nada que possam tocar ou experimentar, gente que prefere ser um voyeur de um passado remoto intocável e sem a perspectiva de mudanças súbitas ou de alterações. Uma vida estéril e sem surpresas, receosos por sofrer pela rotina.


Meia Noite em Paris talvez seja o trabalho mais pessoal de Allen (seu background com Paris e declarações do cineasta sobre o projeto corroboram essa idéia), mas é certo que este é um dos melhores trabalhos de Allen em muito tempo. Maduro, romântico e muito atual.