quinta-feira, 30 de maio de 2013

Faroeste Caboclo

Faroeste Caboclo
(Faroeste Caboclo, 2013)
Drama - 100 min.

Direção: René Sampaio
Roteiro: Victor Atherino, Marcos Bernstein e José de Carvalho

com: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Felipe Abib, Antonio Calloni, César Troncoso, Marcos Paulo

Faroeste Caboclo é um filme de gênero, pelo menos em tese. Um policial, mas que bebe no western, tem forte acento dramático e é movido por um romance e tudo isso baseado em apenas uma canção (longa, é verdade). Esse deve ter sido o maior desafio de Victor Atherino, Marcos Bernstein, José de Carvalho e René Sampaio, respectivamente roteiristas e diretor do filme. Como adaptar de forma clara uma canção? Manter a historia contada na letra é o mais óbvio, mas de que forma? Seria a literalidade a melhor saída? Ou um pouco de lirismo cairia bem? Talvez acrescentar alguma coisinha aqui e ali para dar maior fluência à trama? E falando em fluência: a melodia da canção funcionaria como base para o ritmo do filme?

Todas essas questões foram sendo respondidas pelo filme, que se não é especial e de exceção, ao menos é decente. A adaptação não é nada literal, mas pega os elementos mais importantes da letra para construir a espinha do roteiro. Continuamos a acompanhar a historia de João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira), que depois de eventos traumáticos em sua infância e a prisão quando jovem, sai da cadeia e parte para Brasília, onde conhece Maria Lucia (Isis Valverde), se envolve com os negócios do primo Pablo (César Trancoso) e encontra seu nemesis na figura do traficante Jeremias (Felipe Abib).

René Sampaio vai obviamente além e insere flashbacks do passado de João, dando uma cara a sua luta e seus traumas e insere a figura do delegado (Antonio Calloni), mostra um pouco a família de Maria Lucia (na figura do recém falecido Marcos Paulo, em interpretação visivelmente debilitada), de seu mundinho e amigos.



No fundo, Faroeste Caboclo é uma historia de vingança. De João contra o mundo. O mundo que não lhe deu oportunidade, que ceifou a vida de seu pai, que não lhe deu estudo e que quando este tenta seguir pelo caminho honesto, lhe passa a perna. É uma declaração do personagem sobre uma vida bandida que lhe é dada e que ele não tem forças para enfrentar. Boliveira tem ótimos momentos, tanto quando precisa demonstrar fúria (especialmente quando parte em busca de Jeremias e seus capangas), quando nos momentos de silêncio de precedem as conversas com Maria Lúcia. Aliás, existe uma química muito boa entre Boliveira e Isis Valverde e naturalidade muito bem vinda nos diálogos do casal. Parabéns a ambos, especialmente Isis, que foge completamente de uma eventual caricatura ou do melodrama e mesmo diante de situações que até pedem certo exagero se mantém centrada, como parece ser sua personagem desde sua primeira aparição. Uma garota em busca de alguma coisa que a faça sair do lugar comum e que encontra em João uma paixão avassaladora e sem nenhuma lógica.

O roteiro acerta ao não manter-se preso a um só gênero e mesmo assim não se confundir. Mesmo com o romance movendo a historia e João, sua vingança não perde força e o confronto com aqueles que o machucaram não é amenizado. Por outro lado, a figura do vilão central da trama Jeremias (Felipe Abib) não é ameaçadora, cabendo ao delegado (Antonio Calloni) a função de servir por muito tempo como antagonista, o que também não consegue fazer por muito tempo.

Outro problema, e esse é absolutamente inevitável, é que qualquer um que já tenha ouvido a canção, ou se presta a ouvi-la antes de ver o filme, saberá como ela termina e por consequência o filme. Faroeste, apesar de não ser uma biografia, sofre do mesmo mal de que a transposição da vida de uma pessoa ou mesmo adaptações de livros/quadrinhos muito populares sofrem. Portanto, o filme precisa apresentar novidades na trama ou realizá-la com esmero absoluto, já que o fator surpresa não existe. Faroeste é reverente ao material adaptado, mas não bitolado, alterando momentos da canção e inserindo outras questões, para dar mais corpo a um filme que é completamente diferente de uma musica.



Faroeste Caboclo não é excelente, mas funciona no que se propõe. Ser um thriller com diversos "galhos", que transita pela denúncia (leve), romance e trama policial. Com acertos na escolha dos protagonistas, mas problemas com o antagonista que verdadeiramente não assusta e um ato final burocrático, é apenas razoável.


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