quinta-feira, 3 de junho de 2010

Abismo do Medo 2
(The Descent: Part 2, 2009)
Suspense/Terror - 94 min.

Direção: Jon Harris
Roteiro: J Blakeson, James McCarthy e James Watkins

Com: Shauna Macdonald, Krysten Cummings, Michael J. Reynolds

Um dos filmes de terror/suspense mais interessantes que vi nos últimos anos foi o “pequeno” filme britânico de Neil Marshall, intitulado Abismo do Medo. Uma historia claustrofóbica sobre um grupo de mulheres que decidem explorar uma caverna desconhecida encontrando a morte em seu caminho. Muito eficiente ao criar tensão e integrando os clichês do gênero a narrativa, o diretor (também roteirista) conseguiu a proeza de, num filme que não quer ser mais do que é, levantar uma bandeira (de forma sutil, mas ainda sim perceptível) sobre o feminismo e o papel das mulheres fortes na sociedade.

Foi então, com muita curiosidade, que aguardei a sequência. Se por um lado imaginava como uma historia redondinha poderia prosseguir, já que o primeiro não deixava ganchos, por outro o sempre latente medo de “vão destruir tudo”, comum em sequencias de bons filmes do gênero, pairava.

Jon Harris assumiu o cargo que era de Marshall, tendo a sua disposição um roteiro escrito a seis mãos e que se iniciava nos momentos posteriores ao final do primeiro filme.


Por respeito a você, que não viu o primeiro filme, não vou me aprofundar nesse aspecto, e apenas dizer que é satisfatório, e até certo ponto óbvio o viés escolhido para uma eventual sequencia.

Os problemas começam (e vale uma comparação com o medonho REC 2) quando somos apresentados a uma série de personagens infelizes e que não vão acrescentar em nada a narrativa. Diferente do primeiro, onde não estava claro quem seria descartado pelo roteiro, aqui todas as indicações estão óbvias na nossa cara. É óbvio, ainda mais porque o filme mantém o viés feminista do anterior.

Os clichês são inúmeros, e a sensação de claustrofobia do primeiro filme até funciona, mas com a sensação óbvia de “já vimos isso antes”. Esse é o problema de eventuais sequencias, pois na tentativa de recriar uma experiência, o resultado final quase sempre decepciona. Uma experiência sensorial (que é fundamental em gêneros como o terror) não consegue ser replicada, e existem milhões de exemplos que comprovam essa idéia. Desde a enésima sequencia de Hora do Pesadelo até os remakes e continuações de O Chamado e O Grito, em todos eles o impacto do filme original dificilmente consegue ser sequer igualado.


Abismo 2 é mais “desagradável” no uso de imagens gráficas para reforçar a condição de desespero de seus personagens. Uma passagem em especial, que envolve um pequeno lago, em que duas personagens lutam é extremamente nojenta sem nenhum propósito além do de nos causar essa sensação de desagrado. Funciona sim, mas é gratuito.

Tecnicamente o filme replica em detalhes tudo o que foi mostrado no primeiro filme, desde sua iluminação que deixa o ambiente ainda mais comprimido com o pouco uso de luz direta, apostando as fichas na emulação de luz natural, até a fotografia que usa e abusa de sombras. Os efeitos de maquiagem e efeitos visuais (aparentemente todos feitos a mão) são interessantes, mas nada que seja novidade, mesmo na concepção.

Talvez se Abismo 2 tivesse Neil Marshall no comando das ações deixaria uma impressão melhor. As soluções encontradas pelo roteiro são infelizes e beiram a risada involuntária. Personagens desinteressantes povoam a caverna e a conclusão é de uma estupidez atroz.


Quando assistirem voltem ao post (caso ainda não tenham visto) e me digam o porque de um final tão sem sentido.

Até os últimos dois minutos me contentava com essa historia simples de terror, que apesar de querer levantar a bandeira do feminismo soa fajuta nessa segunda incursão, mas que pelo menos causa os efeitos esperados numa produção do gênero. Porém, o final pois quase tudo a perder. Soou como uma solução criada na véspera da filmagem, sem muito tempo para uma reflexão sobre.

Se a idéia for apenas se divertir e tomar uns sustos, ok, funcionou muito bem. Se quiseram tentaram recriar o primeiro (pra mim um dos dez mais interessantes da década no gênero) ficou só na tentativa. Uma pena.

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