quarta-feira, 16 de junho de 2010


Trilhas Sonoras e os sintetizadores – Part. II

Olá ao Fotograma Digital. Na semana passada fiz uma introdução a um tema que achei interessante de levantar para o blog: A Trilha Sonora feita com Sintetizadores. Desde o início das minhas postagens, procurei falar sobre temas variados, que tratam da música em si ou sobre a trilha sonora como um todo. Falei bastante sobre alguns aspectos teóricos da música, sobre a forma como a música para o cinema foi encarada para alguns compositores, conservadores ou inovadores, e até sobre a própria história da música. Enfim, sempre procurei fazer o leitor ter uma reflexão, mesmo que às vezes pareça um tema óbvio, sempre existe aquela “vírgula” da história que não nos damos conta.

Mas raras foram as vezes que comentei sobre o uso de instrumentos eletrônicos na trilha sonora. Durante o tempo que escrevi sobre a vida e obra de alguns compositores famosos, comentei que grande parte deles fizeram bom uso de instrumentos musicais como theremins e teclados sintetizadores, mas em momento algum separei uma postagem inteira pra comentar sobre isso, sobre como são estes instrumentos, qual a sonoridade de cada um, quais compositores usaram tal instrumento e qual filme ficou conhecido por “Nossa, que som diferente é aquele daquela cena???”, rs... Acho que agora, depois de um certo número de postagens, chegou a hora de comentar sobre uma área um pouco mais técnica, que desde os anos 70 e especialmente hoje, atua mais do que nunca no ramo da trilha sonora.


Como foi dito na semana passada, a música eletrônica nasceu com o uso musical de alguns equipamentos de rádio, em meados dos anos 50. Por ser muito difícil de manusear, uma vez que estes equipamentos precisavam ser programados para poderem emitir som, poucas pessoas puderam (ou conseguiram) fazer composições nestes instrumentos. No final dos anos 60, Robert Moog criou uma forma do sintetizador ficar mais popular, acoplando um teclado ao complexo circuito eletrônico. Com isso, o mundo inteiro pôde usufruir de uma infinita variedade de instrumentos e sonoridades eletrônicas. A partir de então, uma grande quantidade de músicos eruditos e populares começaram a explorar as sonoridades do sintetizador, que ao passar dos anos ganhava novos designs e modelos cada vez mais próximos dos teclados sofisticados que temos hoje.


Wendy Carlos mostrou ao mundo que o sintetizador é um instrumento versátil, tocando peças de Bach e de outros compositores da música erudita com timbres jamais ouvidos anteriomente. Seus discos “Switched On Bach” e “The Well Tempered Synthesizer” foram grandes sucessos, ouvidos no mundo todo e influenciando muitos músicos interessados no ramo da música eletrônica. Sua trilha sonora de “A Clockwork Orange” (1971) e “Tron” (1982), foram uma nova referência para a trilha sonora, que explorou muito destes novos sons.

O fato é que, para a minha geração, por exemplo, que nasceu e viveu a partir dos anos 80 e 90, a música eletrônica já estava forte e estruturada, por isso as sonoridades vindas com estes instrumentos já não eram tanta novidade, pelo fato de termos ouvido várias destas sonoridades desde sempre em filmes, desenhos animados, séries, etc. Mas se eu tivesse 22 anos no fim dos anos 60, por exemplo, estaria passando por uma grande transição musical, que é exatamente a “popularização” do sintetizador. Para esta época, todos estes sons eram uma grande novidade, e a trilha sonora, assim como muitos compositores, descobriram novas possibilidades para a narrativa dos fimes.
Um grande exemplo disso é o Theremin. Mesmo sendo um instrumento mais antigo, que foi popularizado nos Estados Unidos em 1928, ele foi um dos precursores das tais “novas sonoridades”, sendo amplamente usado no filme “The Day the Earth Stood Still” (1951). Já nos anos 30 o theremin foi usado pelo compositor russo Dmitri Shostakovich, para a trilha sonora do filme “Odna” (1931). Miklós Rósza, outro conhecido compositor, utilizou este instrumento na trilha sonora de “The Lost Weekend”(1945) e “Spellbound”(1945). Este curioso instrumento, um dos primeiros a funcionar com energia elétrica também foi muito usado em séries futurista de TV, como “Lost in Space” (1965-1968) e “Star Trek” (1966-1969).

(A partir dos 0:45 deste vídeo, o som do theremin na cena em que aparece o extra-terrestre)


(Um fã de Star Trek tocando o tema da série no Theremin)

Outro fato muito importante de notar é que o sintetizador, junto com outros instrumentos eletrônicos, foram usados não só para a música, mas também para fazer uma infinita variedade de ruídos, especialmente futuristas. Um grande exemplo disso é o primeiro filme da série “Star Wars” que estreiou nos cinemas aqui no Brasil em 18 de Novembro em 1977. Em “Episode IV - A New Hope”, apitos, vozes controladas por Vocoders (um equipamento responsável por adicionar efeitos à voz humana), mais filtros e outros elementos do sintetizador ARP 2600 foram usados para criar os sons do robô R2D2.

(ARP 2600, produzido nos anos 70)


(Neste vídeo, uma pessoa tentando fazer o som do robozinho em um outro sintetizador. Ele chegou bem perto!! Rs..)

Nas próximas postagens, pretendo continuar a abordar este tema, comentando um pouco mais sobre a história do sintetizador, com alguns modelos específicos de equipamentos, assim como filmes e compositores que ficaram para a história com o uso artístico e musical destes novos instrumentos musicais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário