segunda-feira, 7 de junho de 2010


Psicopata Americano (American Psycho, 2000)


De: Mary Harron

Com: Christian Bale, Justin Theroux, Reese Whiterspoon, Chloe Sevigny

Em 1991, um escritor chamado Bret Easton Ellis lançou um dos livros mais polêmicos da História. American Psycho horrorizou a todos e foi chamado de doente, perturbador, ousado e inovador. A crônica com jeitão de filme indie chocou pois tratava de um executivo rico, bonito, galante e... assassino. E um dos piores, daqueles que tem praticamente uma "Síndrome de Matar".

Depois de Psicopata, Bret continuou escrevendo romances psicodélicos porém mais brandos. E eles foram adaptados pro cinema depois de Psicopata Americano. Curiosamente, com exceção desse, todos os romances de Bret foram adaptados pro cinema por Roger Avary. Em 2000, a Universal e a Lionsgate anunciaram que financiariam os 7 milhões de dólares de orçamento para a corajosa adaptação, que seria Rated R e ainda tinha um teor alto demais pra um filme comercial. Mas, graças a Lionsgate, corajosa disitribuidora, Psicopata Americano foi lançado nos cinemas com toda a sua violência e maluquice.


Na trama, Patrick Bateman (o brilhante Christian Bale) é um executivo de Wall Street. Vive num bom apartamento, tem uma conta bancária enorme, roupas de grife e todas as mulheres que ele precisar. Mas algo naquele mundo de aparências não o satisfaz: Ele não suporta seres "melhores" que ele e os destrói de forma insana e cruel. Patrick satisfaz seu vazio com um simples hobby: Matar todos que ele odeia. Quando ele comete mais um de seus crimes, ele começa a ser perseguido por Donald Kimball (Willem Dafoe), um detetive astuto e competente.


O interessante da trama é que o comportamento de Bateman é tão perturbador que no desenvolver da história, ele começa a afetar as outras pessoas, coisa que Bateman disfarçava com um cinismo incrivelmente engraçado. Seu mundo de aparências consegue provocar risadas nos apreciadores do humor negro. Essa trama tecnicamente policial se esvai ao longo do filme, que se demonstra um grande debate sobre a futilidade humana e seus delírios mais perturbados.

Nas partes técnicas, Psicopata Americano é excelente, apesar de tudo ser ofuscado pelo roteiro magistral e a atuação muito competente de Bale. A direção de Mary Harron é muito boa, até surpreendente. Sem fazer nenhum movimento espetacular ou uma tomada sensacional, Mary faz um trabalho bonito e acima da média. Mesmo sem colocar uma ferrenha identidade em sua direção, ela inova ao deixar os atores trabalharem e os filmar com elegância. Melhor assim do que tentar inovar e dirigir mal, como Stephen Sommers. A edição do filme também é bem curiosa, por mesclar momentos de delírios e realidade com precisão, sem deixar o público se situar na trama com clareza. Momentos que fariam um filme implodir, mas aqui colaboram por ser um filme de psicopata. A fotografia de Andrzej Sekula é soberba, um primor. Com tons brancos na maior parte do filme, com tons sombrios em momentos mais dolorosos mentalmente. Competente fotógrafo, eu gostaria muito de saber onde está Sekula, afinal esse já é seu segundo trabalho magnífico, depois de Cães de Aluguel. A triha sonora de John Cale é bonita também, com tons clássicos orquestrados e uma seleção de músicas muito acertada. Mas, apesar da beleza, não há o que se surpreender com Cale. Num filme elegante e que retrata os ricos como Psicopata, era de se esperar uma trilha assim.


As atuações do filme são um fator importante afinal,teor pesado da produção, o protagonista devia ser um titã para segurar o papel. E devo dizer que Psicopata é feliz em sua escolha de elenco. Christian Bale se mostra um ator de primeira, demonstrando porque que ele foi escolhido pra ser o Batman. Ele arrebenta a cada cena difícil, fazendo o espectador acreditar mesmo sobre ele ser maluco. Os boatos que ele seria esquentado e destemperado com certeza vem de espectadores desse filme. E isso já bastaria pro filme ser excelente, mas as outras atuações conseguem ajudar o filme a se tornar um marco. Justin Theroux está canastrão ao extremo e atua com um profissionalismo enorme como Timothy Bryce, um dos amigos riquinhos de Bateman. Josh Lucas também convence como Craig McDermott, outro amigo de Bateman. Reese Witherspoon nada acrescenta á trama. Seu papel, o de noiva socialite/patricinha de Bateman é extremamente obsoleto. Reese atua como seu papel em Legalmente Loira, mas menos engraçado.


Jared Leto, o Paul Allen, não pode fazer muita coisa pelo seu tempo de tela pequeno. Willem Dafoe não se demonstra o excelente ator que é, mas atua bem para o papel do detetive. Afinal, ele não tem muita relevância na trama. Outro destaque bem positivo é Chloe Sevigny, no papel da secretária de Bateman. Sua atuação é natural e precisa, o que já basta para a trama. E é esse desprendimento com coadjuvantes que faz com que Bale seja um dos trunfos do filme. Apesar da boa escolha, o elenco secundário não precisa oferecer nada. Desde o primeiro frame está claro: o filme é de Christian Bale.

O roteiro adaptado por Mary Harron e Guinevere Turner é inteligente, arrojado e, incrivelmente, engraçado. A cada frame, a escancarada crítica ás futilidades e desejos desnecessários da High Society se torna melhor. Em um determinado segmento do filme, Bateman está reunido com seus amigos e eles começam a discutir com seriedade... os cartões de cada um. Sim, aqueles cartões com seu nome e telefone. E, por inveja do cartão de um dos seus amigos, Bateman o mata por esse simples motivo. É o que motiva os invejosos a todo momento, mas elevado ao extremo. E o roteiro também é competente em demonstrar as partes de delírio de Bateman. Ver ele matando por prazer é algo fora do comum, que só poderá satisfazer os com o estômago forte. Em uma sequência, Bateman, no limite de sua loucura, pega um gato e tenta enfiar no caixa eletrônico. Quando uma mulher o vê e tenta repreende-lo, ele saca uma pistola e mata a mulher. Depois, sai andando normalmente. As audiências em massa não aguentariam mesmo algo desse jeito.


Por todo esse arrojo e humor negro da maior qualidade, o roteiro consegue ser o carro-chefe da produção. E somado a atuação de Bale, tudo fica interessantíssimo.

Com um nível de psicopatia acima da média, Psicopata Americano se demonstra um dos filmes mais estranhos da História. E um dos mais competentes, também. Juntando ele a Oldboy, temos uma lista de filmes que serão apreciados pelos amantes do bom cinema e das maluquices em geral. Recomendado para todo mundo que quer sair um pouco do Cinema comercial, do famoso blockbuster. Corra para uma locadora ou baixe em algum site. Esse filme deve ser visto até mesmo mais de uma vez.

Com certeza, será melhor que ver uma diversão descartável.


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