quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Burma VJ
(Burma VJ: Reporter i et lukket land, 2008)
Documentário - 84 min.

Direção: Andres Ostergaard

Existe algo muito errado com o ser humano e não serei eu, o primeiro nem o último a começar um texto sobre qualquer assunto com essa frase. O ser humano, como espécie, é sim, uma das piores idéias de Deus, ou caso você não acredite na existência dele, da natureza, dos atomos, do acaso ou qualquer outra força que acredite ser responsável pela existência de nossa espécie.

É claro que o ser humano não é somente podridão, existem diversos exemplos que comprovam a regra de que o homem pode ser igualmente tão atroz quanto doce e generoso. Burma VJ é um exemplo de que mesmo cercado de chacais sempre existe a luz, ou no caso alguém disposto a usar uma câmera para denunciar o regime doentio de abuso de Myamnar - ou Birmânia.

Essa é a história do filme de Anders Ostergaard e do grupo intitulado DVB (Democratic Voice of Burma), que usando câmera de mão divulga para fora do país via internet a verdade sobre os desmandos de um governo doentio.


O filme se concentra nos eventos ocorridos durante o ano de 2007, quando um grupo de monges liderou uma enorme onda de protestos contra o aumento de 50% no valor dos combustíveis no país. É claro que o acontecimento dos combustíveis foi apenas o estopim para o protesto, já que o povo vivia a quase vinte anos sob um regime ditatorial estúpido e violento.

A história segue então "Joshua" que funciona como narrador e o organizador da equipe de filmagem no país. Em determinado ponto da história ele é obrigado a mudar de país e o documentário - imagino - reconstitue algumas sequencias em que o personagem ficou, assim como o espectador, em busca de respostas sobre seus companheiros do outro lado da fronteira.

Detalhe: o filme todo - ou quase todo - é montado com base nas imagens que os reporteres conseguiram. Ou seja, é um documentário que trás uma crueza muito parecida com as reportagens de guerra, que o cinema de ficção se apropriou de forma tão orgânica.


O filme conta com imagens que o espectador vai levar meses - ou nunca - para esquecer, como a impressionante marcha dos monges entoando cânticos pacifistas enquanto caminham pelas ruas de Rangoon. Uma passeata sem a intenção de derramar sangue ou de confrontar a polícia e as autoridades militares, mas sim um protesto contra a miséria e o desprezo dos que mandam pelos que "obedeçem".

O que faz Burma VJ entrar para o hall dos grandes filmes do ano é seu incrível timing de sua edição e narrativa primorosa que transforma as já impressionantes imagens coletadas e algo ainda mais real, em especial na parte final - triste e realista - onde as ações do governo ficam mais duras. É como Resgate do Soldado Ryan, só que de verdade e  acontecendo com pessoas reais.

Burma VJ é um líbelo pacifista e uma denúncia aguda sobre a violência, intransigência e estupidez da humanidade a partir do exemplo dos pobres moradores de Myamnar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário