segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Os Mercenários
(The Expendables, 2010)
Ação - 103 min.

Direção: Sylvester Stallone
Roteiro: Dave Callaham e Sylvester Stallone

Com: Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Eric Roberts, Randy Couture, Steve Austin, David Zayas, Giselle Itié, Charisma Carpenter, Mickey Rourke, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis

Em meados da década de 80, Hollywood começou a ser completamente governada pelos blockbusters. Boa partes desses , pertenciam ao gênero do “herói brucutu”, onde o mocinho principal era simplesmente invencível, e capaz de arrasar exércitos inteiros de inimigos desleais, fossem eles latinos ou coreanos, traficantes ou sequestradores. Filmes como Rambo, Comando Para Matar e Duro de Matar faziam sucesso com suas tramas parecidas e incrivelmente explosivas. As motivações dos protagonistas, sempre as mesmas – agente especial que precisa desbaratinar um exército rebelde, oficial da marinha que busca vingança pessoal, policial lutando contra narcotraficantes, etc .

Entretanto, depois de atingir seu auge, o sub-gênero foi perdendo força gradativamente ao lono dos anos 90 . Afinal, tudo que é mais do mesmo acaba cansando, e o público foi deixando de lado tais tipos de produção, que acabaram sendo marginalizadas do mundo do cinema. Hoje em dia, o mais próximo que você vai chegar de produções recém lançadas deste tipo são nas locadoras, com filmes direto em vídeo de Steven Seagal e Wesley Snipes da vida.



Entretanto, o gênero de ação descerebrada deixou “órfãos” muitos atores oitentistas. Alguns, como Schwarzenegger, seguiram com sua carreira e hoje vivem bem (virou até gorvernador). Outros porém, não tiveram tanta sorte e hoje vievem do mercado das locadoras. Sendo um bom saudosista que foi marcado na sua essencia com os filmes do gênero, Sylvester Stallone não poderia dar as costas para suas origens e sua nostalgia por seus filmes de ação o levaram a trazer, duas décadas depois do seu auge, mais um filme de ação de “exército de um homem só”. No caso de Os Mercenários, o exército não é de um só, mas de vários. O intento de Stallone com seu novo filme – o qual co-roteiriza, dirige e estrela – era de unir todos os astros do cinema blockbuster, bater no liquidificador das explosões e tiroteios, e ver o bicho que dá. E podemos dizer que as homenagens e explosões são satisfatórias, mas que o filme não consegue fazer muito mais que isso.

A trama – tão exagerada e rasa quanto seu casting pedia – mostra o grupo de mercenários de Barney Ross ( Sylvester Stallone) sendo contratado para derrubar o ditador de uma ilha latina chamada Vilena. Na primeira investida que Ross faz lá com seu parceiro, Christmas(Jason Statham) eles conhecem uma bela rebelde chamada Sandra (Gisele Itié). Ao irem embora, não a resgatam, pois a moça decide ficar e lutar. Então, Ross decide voltar á ilha com seus soldados, sendo motivado por um sentimento de redenção antes deconhecido.



A história de Os Mercenários é simples, batida e extremamente saudosista a todos os filmes de ação da década de oitenta. Se em alguns projetos tinhamos a trama de vingança, e em outros a necessidade de destroçar inimigos do “american way of life”, aqui temos a mistura dos dois. O real diferencial do filme de Stallone, afinal, não está na sua originalidade de roteiro – até porque ela não existe - mas sim no potencial simbólico que ele tem. Não é negócio para o diretor criar uma história original, mas sim unir tudo que já foi feito no sub-gênero e dar vida a um gigante no terreno da ação descerebrada. Essa é , acima de tudo, a proposta do filme em si. E, encarando assim, ele até funciona . A ação não soa repetida, entretém e faz o filme passar rápido . Se você sentar na poltrona, e, depois do fim da exibição, não achar que se passaram mais que 35 minutos, não estranhe .

Os Mercenários passa num tiro, consegue prender a atenção do espectador durante todos seus 103 minutos e satisfaz perfeitamente quem só procura uma diversão passageira e sanguinolenta.O filme se assume assim, e tem compromisso em não se levar a sério - sem cair para o lado da sátira, no entanto.


Entretanto, não pode-se fechar os olhos para o fato do filme ter uma história dispensável, e que, se ele passa numa velocidade gigantesca em frente aos nosso olhos, também passa rápido pela nossa cabeça, sem deixar muitos marcos ou lembranças maiores. De fato, é até admissível que sua trama seja rasa, contudo, o filme não consegue se sobressair nos outros aspectos do roteiro, como na criação de situações – todas muito convecionais- ou de personagens –idem. É basicamente o que aconteceu com o projeto Grindhouse. Enquanto Tarantino homengeou o trash com um roteiro repleto de situações e personagens originalíssimos, Rodriguez acabou fazendo apenas mais um filme digno da Grindhouse. Dá pra se dizer que Os Mercenários acabou sendo só mais um filme de ação explosiva, e que não subiu um patamar além – até porque, Stallone não é nenhum Tarantino.

É possível dizer que este é o tipo de filme que abraça mais quantidade do que qualidade . Quanto mais atores musculosos e pirotecnias forem colocadas, melhor. O que foi cotado para fazer a diferença no filme é a quantidade de estrelas colocadas em cena, e não a cena em si.O retrato disso é o fato do filme ser pensado em função de seus atores, e não o contrário. Infelizmente, um filme desses nunca vai emergir completamente da superficialidade , mas pode ser encarado como diversão acima da média, como o filme mesmo tende a propor.


Já uma parte muito positiva neste projeto é a direção de Stallone. Seu modo de coordenar o set é preciso para esse filme. Os cortes rápidos típicos da década de 80 estão presentes nas cenas de tiroteio e explosão, mas dessa vez combinados com o estilo mais atual de jogo câmera, onde há os efeitos de tremor, e takes mais ousados e plásticos . Já nas cenas iniciais, Stallone joga um pouco com o estilo documental, mostrando que pode fazer além do trivial por trás das câmeras. Na frente delas, aliás, Stallone está bem como sempre, e deixa seus atores a vontade para atuar, apesar de alguns deles – como Steve Austin e Dolph Lundgren – estarem mais canastrões do que nunca.

No geral, Os Mercenários acerta na boa condução de sua ação e nas boas homenagens ao gênero tão querido por tantos. Isso não impede, no entanto, que o filme fique na simples superfície do que vem sendo feito há 20 anos , e não se diferencie muito dos outros filmes do gênero. Basicamente, a única real diferença entre este e tantos outros, é a sua grandeza – afinal, essa película une quase todos os heróis brutamontes que já passaram pelas telas, mas não faz nada muito mais relevante que isso. Pelo menos todos eles juntos divertem, explodem e matam, um pouco mais do que separados.


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