Operação Invasão
(The Raid, 2011)
Ação/Thriller - 101 min.
Direção: Gareth Evans
Roteiro: Gareth Evans
com: Iko Uwais, Joe Taslim, Donny Alamsyah, Yayan Ruhian
De modo geral, os filmes de ação pouco sofisticados que integram um grupo maior conhecido como o dos “filmes B”, possuem características típicas, recorrentes em maior ou menor frequência nos títulos que surgem ao longo dos anos. Grande parte das produções de ação B vem direto ao mercado de home vídeo – principalmente aqueles projetos estrelados por velhos atores que já não chutam ou atiram como antigamente, mas ainda precisam pagar a conta da hipoteca – e não se envergonha de ser um amálgama muito mal elaborado entre homens musculosos, armas de grosso calibre, combates corporais e péssimas direções de fotografia. Tais projetos se assumem como são: rasos, baratos e descerebrados. Têm o seu público, e uma vez ou outra, vemos filmes de pancadaria chegar aos cinemas.
Um grande exemplo atual de filmes desse tipo que conseguem chegar aos cinemas é o de The Expendables. O projeto de Stallone reúne todas as características clássicas de um filme B oitentista, mas falta algo mais que o destaque da franca mediocridade. Falta algum clamor cinematográfico, uma força que atraque o espectador à poltrona e o faça sair da sessão energizado pelo espetáculo exibido. Esse clamor, essa energia fundamental se encontra em The Raid, filme indonésio de ação aclamado pela crítica estrangeira.
The Raid chegou ao Brasil direto em vídeo justamente por se tratar, na sua sinopse, de um filme oriental simples de pancadaria, mutilações e violência. Um Ong-Bak genérico para as mentes dos distribuidores. Ledo engano, e um tremendo mau negócio para quem tutela os direitos de exibição do filme no Brasil, pois o longa do galês Gareth Evans produz uma catarse que arrebataria as bilheterias brasileiras. Certamente The Raid não impressiona pela sua trama, (que remete a outro filme de invasão recente, Dredd) que é rasa e narra à aventura semi-suicida de um grupo de 20 policiais que invade um prédio gigantesco em cujo interior aloja-se uma grande organização criminosa. Determinados a prender os criminosos e capturar os chefes da gangue, os oficiais da lei partem rumo à morte certa, sob um plano que não estava tão bem explicado assim...
Seu enredo assumidamente destituído de muitas complicações ou entraves narrativos proporciona a adrenalina que jorra aos litros ao longo da película. A antecipação pelo embate mortal entre a polícia e os criminosos só se equipara pela emoção que agitava os gamers de Counter-Strike antes do início de um jogo. Desse modo, a simplicidade de entendimento do confronto, mas também a grande importância e periculosidade inferidas a ele na cena inicial antes da invasão são estratégias inteligentes ao despertar no espectador o famoso frio na barriga. A expectativa ansiosa pelo que vêm a seguir.
O que difere The Raid dos filmes médios do subgênero é que a expectativa criada tem resposta no decorrer da exibição. São muitas cenas de tiroteio realista, além de combates físicos estupendos. O design de som dessas partes só é superado em competência pelas coreografias de luta, que são as melhores que eu já vi nos últimos dez anos, e umas das melhores que já cheguei a assistir na vida. Diferente de toda a gama de longas do gênero que optam por cortar seguidamente as cenas de embate físico aqui se opta por takes únicos que permitem a apreciação do duelo.
É também grande mérito do diretor conseguir registrar as sequências de golpes com a vivacidade necessária. Os planos-sequência ganham movimentos minuciosos que ajudam a configurar a energia e potencia dos socos e chutes, como se a câmera do diretor de fotografia Matt Flannery bailasse junto aos atores. A fotografia extremamente granulada também auxilia na composição da atmosfera do local, enriquecendo o ambiente no que diz respeito à sujeira, enquanto a grande dessaturação representa a desolação que paira naquele local de violência aguda. Um trabalho técnico inquestionável também no que tange à trilha sonora. Se o design de som é um primor, as composições criadas com o auxílio de Mike Shinoda são coerentes com os momentos do filme, se revelando incrivelmente competentes no resultado final.
Competência, aliás, é a palavra que melhor define The Raid. Tendo este elemento em abundância, o filme de Gareth Evans consegue subverter um gênero que tem por característica principal a falta de substância. A partir deste conceito, os realizadores tornam a própria sanguinolência e brutalidade do projeto na substância faltante. Não só pelo fascínio estético que causará em quem assiste, mas no efeito emocional que elas geram ao ameaçar seus vívidos personagens. A cena chave: o momento onde o protagonista, Rama, e outro policial se escondem numa parede falsa. A machete perseguidora cruza o anteparo e corta o herói no seio da face. Ele não grita, nem tampouco se choca. Preocupa-se, no entanto, em limpar o sangue da lâmina afiada que acabara de lhe cortar a carne. A elevação da violência em The Raid ocorre num patamar onde ela é trazida a condição de atração principal, sem esquecer de levar em consideração seus efeitos futuros, passados e presentes na aura de cada personagem, e também no espectador.
Dentro de suas limitações, The Raid é uma obra que destoa do geral por conseguir conferir certa vida a uma entidade inanimada – a violência. Consegue, através da excelência técnica, dar estofo e força a um item que é sub-aproveitado e mal executado em diversos filmes que, além de não possuírem substância, também não acertam a mão na ação. Um belo exemplar de que, às vezes, de coreografia e violência, também se faz cinema.
nossa muito legal, viu...
ResponderExcluirqueria ver esse filme...#Curiosa