quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

As Sessões


As Sessões
(The Sessions, 2012)
Drama/Romance/Comédia - 95 min.

Direção: Ben Lewin
Roteiro: Ben Lewin

com: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy e Moon Bloodgood

Como lidar com um tema controverso de forma terna e sem parecer apelativo ou melodramático em excesso? Essa parece ter sido a pergunta que o diretor Ben Lewin fez-se antes de se meter na produção de As Sessões, que conta uma história (verdadeira, por mais insólita que pareça) entre a relação de uma terapeuta sexual e um cliente muito especial.

Primeiro é necessário explicar - como a personagem faz seguidamente no filme - o que de fato é uma terapeuta sexual. Ora, ela cura pessoas com problemas sexuais? Você pode me dizer rapidamente e não estar de todo errado. De fato, Cheryl (Helen Hunt) é especialista na "cura" de problemas ligados a sexualidade, porém ela lida diretamente com homens que sofrem de algum tipo de deficiência mental ou física de forma prática. Ou seja, não explica apenas na teoria, mas trocando em miúdos "vai pra cama" com esses homens a fim de estimulá-los e a ensiná-los a como atingir o prazer sexual.

Essa profissão controvertida é tratada com grande cuidado por Lewin conseguindo com que o espectador - pelo menos imagino dessa forma - não crie o ranço óbvio de que ela é uma garota de programa com tesão por esses homens. Cheryl é mostrada como uma profissional, e como tal, capaz de (a principio) separar sua vida profissional, onde atua como terapeuta, com sua vida pessoal.


Do outro lado temos Mark O'Brien, um escritor que por ter sofrido de poliomielite quando criança vive preso a uma cama, sem conseguir movimentar-se do pescoço para baixo (embora diferente dos tetraplégicos, consiga sentir todo tipo de sensação, inclusive sexuais) e que passa suas noites atado a uma pulmão artificial, o qual não pode ficar distante por mais de algumas horas. Mesmo com todas essas dificuldades, Mark se formou na Universidade e vive de escrever artigos para publicações americanas, como o filme mostra em sua introdução, resgatando uma matéria de televisão sobre o verdadeiro personagem.

Mesmo com todo o seu sucesso profissional, Mark sente falta do amor, já que devido a sua condição nunca conseguiu um relacionamento afetivo, quanto mais sexual. Em uma história linear e praticamente sem sobressaltos dramáticos, ele consegue encontrar Cheryl e criar uma amizade e carinho, como não havia conseguido encontrar com outras pessoas.

Uma das boas ideias da historia é a relação entre o escritor e seu amigo padre (o sempre ótimo William H.Macy). Brendan é um padre moderno em seu exterior, com suas "madeixas" douradas longas e sua atitude positiva. Com Mark sendo um sujeito devotado, logo procura os conselhos de seu amigo e confessor, diante das dificuldades de dar o passo em diante e partir para o sexo - pelo sexo - uma prática que como todos nós sabemos, a Igreja Católica não concorda.


O tratamento dado pelo roteiro a esses encontros é sutil e sensível, com um padre usando do bom senso e do carinho para compreender aquele sujeito, encarando-o não como mais uma ovelha em seu rebanho, mas como um homem que precisa ser acarinhado e sentir-se feliz.

O grande destaque é - e não poderia deixar de ser - John Hawke, que vive Mark com enorme sutileza, sem poder se mexer e criando uma voz anasalada que consegue transmitir toda a fragilidade da personagem. Um trabalho difícil, andando na corda bamba entre seus desejos, sua percepção de si mesmo como uma "criatura de segunda classe" e sua mente preocupada com a aprovação divina (representada pelo quadro da Virgem Maria em seu quarto que o personagem conversa).

A indicação ao Oscar para Helen Hunt vem muito pelo fato da atriz, assim como a personagem real, parecer se desprender da noção de vergonha, e expor-se fisicamente ao julgamento da sociedade, dando uma banana aos críticos. Afinal, Hunt não é mais uma menina (completa 50 anos em 2013), e segundo a cartilha de Hollywood não é "de bom tom" expor-se dessa forma depois de certa idade. Porém, Hunt - e é necessário comentar os atributos físicos da atriz, já que são relevantes para a trama e não apenas por que enfim, sou homem e heterossexual - é uma mulher bonita e consegue despertar o desejo no personagem de Hawkes. A sensualidade da atriz é usada - apesar dela aparecer muito nua - de forma sutil - o que é curioso - e mesmo nas cenas de sexo propriamente dita, a intenção nunca é excitar o espectador, mas fazê-lo se emocionar com as conquistas de seu protagonista.


Porém, o desenvolvimento de sua personagem é falho, já que na divisão pessoal/profissional, esse primeiro aspecto não é suficientemente desenvolvido. Suas crises, seus problemas e tudo mais, acabam perdendo espaço para a historia de Mark, o verdadeiro protagonista da trama. O que me faz questionar a Academia em sua escolha: se Hunt não tivesse aparecido nua, teria sido indicada?

Diferente dela, H.Macy acerta o tom do padre Brendan, que de confessor temerário pelas ações de seu fiel, se torna um ouvinte amável e um sujeito interessado no bem estar de seu amigo, e numa espécie de "salvação espiritual" de Mark, já que para termos uma vida plena, o amor é fundamental (pelo menos enxergo dessa forma, me chamem de romântico se quiserem).

As Sessões é sutil na abordagem de sua história - complexa de ser compreendida por muita gente - e delicada na intenção de mostrar o ato sexual como transformador, mesmo que resvale em uma óbvia trama melodramática na parte final do filme, criando uma tensão desnecessária em um filme que não precisava de "plot twists" para funcionar bem.


Somando-se a um desenvolvimento precário da personagem de Hunt, que tem seus conflitos emocionais simplesmente esquecidos pela trama que nunca oferece respostas sobre as questões, o filme de Ben Lewin é muito bem intencionado, reverente, honesto e sincero, mas nunca alcança o potencial que poderia atingir.



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