Já começo com um título polêmico esse texto que não pretende ser uma análise
puramente técnica da festa e dos premiados do Oscar, mas observações sobre o
tema e sobre a festa em si.
Não tenho a menor intenção de ser o dono da verdade e,
portanto, caso discordem do mesmo, comentem com educação (aqui tem moderação de
comentários hehehe).
Divido esse texto
em duas partes, na esperança de não ficar longo, nesse primeiro faço os
comentários "moleques" e divertidos sobre a festa e no seguinte, falo
sobre os prêmios.
Vamos começar com
Seth MacFarlane, o sujeito em que todos nós despejamos nossas esperanças de que
pudéssemos ter um ar de novidade e de diversão na festa. De fato, podemos dizer
que seu monólogo inicial apesar de brutalmente longo até tentou ser diferente.
Começou complicado, apesar de logo na primeira piada ter conseguido tirar um
sorriso de Tommy Lee Jones, o que sabemos ser mais difícil do que escalar o
Everest. Mas depois o monólogo seguiu engessado (palavra que será muito usada
no texto, aguardem) até a aparição de William Shatner.
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MacFarlane tentando... |
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Capitão Kirk prevendo o desfecho da noite |
Em plena era nerd,
a presença do eterno (e nunca desvinculado ao papel) Capitão James Tiberius
Kirk no palco foi uma ótima sacada. O problema é que o texto parecia arrastado
e logo poderíamos adivinhar como aquele segmento se desenvolveria. A ideia de
Kirk em prever o futuro de fato funcionou, como a festa nos provou. Se MacFarlane não foi o pior host da
história do Oscar, também não passou do comum.
Mesmo assim,
sejamos justos, uma musica grosseira no melhor estilo Family Guy caiu bem e
talvez indicasse uma ousadia à festa, que infelizmente parou ali. Ao lado do
coro dos "Homens Gays de Los Angeles", MacFarlane cantou de forma
ácida sobre as atrizes que já haviam mostrado os seios em filmes, com especial
atenção a sempre nua Kate Winslet. De fato, foi uma bem vinda anarquia ao formato
quadrado da festa do Oscar. As expressões de raiva ou indignação das atrizes
presentes à festa foram combinadas, afinal isso é Hollywood. Ou você
acha que uma apresentação dessas não seria vista, revista, mudada e acertada um
milhão de vezes antes de acontecer?
MacFarlane então
em seu habitat natural cantou com sua voz de crooner temas clássicos de
musicais para dar um ar de glamour e classicismo à premiação. "The Way you
Look Tonight" de 1936, originalmente na voz de Fred Astaire e coverizada
ad infinitum ao passar dos anos. Ao lado dele, Channing Tatum e Charlize Theron
dançaram. Depois ainda tivemos MacFarlane ao lado de Daniel Radcliffe e Joseph
Gordon-Levitt cantando "High Hopes", famosa na voz de Frank Sinatra.
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"We Saw your Boobs" |
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"The Way You Look Tonight" |
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"High Hopes" |
Ainda deu tempo de
MacFarlane apresentar sua versão com fantoches de meia para O Voo (que
funcionou bem) e tentar criar um número divertido com Sally Field. A ideia de
surgir como a Noviça Voadora (primeiro papel de destaque da atriz) foi
divertida, mas o restante do número simplesmente não funcionou; o timing estava
errado, as punch lines não deram certo e o final - ao melhor estilo Family Guy
- funcionariam melhor na TV e com animação. Ainda assassinou "Be Our
Guest" de Bela e a Fera, na tentativa de ser engraçado substituindo
pedaços da canção por piadinhas com os indicados, no melhor/pior estilo Billy
Cristal.
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O Voo da meia |
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A Noviça e a Primeira Dama |
Depois de diversos
prêmios (mais sobre isso no outro texto) chegamos à primeira homenagem da
noite. Para mim, o ponto alto da premiação. Depois de ignorar por 50 anos a
franquia mais lucrativa da historia do cinema, a Academia finalmente rendeu uma
justa homenagem a James Bond. Tá certo que para host escolheram Halle Berry,
uma das piores bond-girls da história, e que o ideal mesmo seria termos todos
os agentes ali no palco, levando aquela boa e velha salva de palmas,
mas ver Shirley Bassey cantar ao vivo Goldfinger foi verdadeiramente histórico.
A festa seguiu com
mais música, dessa vez num despropositado momento - homenagem aos musicais
lançados nos últimos dez anos. Pergunto-me por quê? Com todo respeito ao
gênero, mas Dreamgirls merecia mesmo um momento na festa? Que pese a excelente
forma de Catherine Zeta-Jones (que mulher maravilhosa) e seu desempenho, o fato
de Jennifer Hudson estar lá (porque é uma estrela, talvez?) falando de
Dreamgirls, um musical que não levou um Oscar na categoria de canção ou de
trilha? E outra, por que relembrar Chicago, um filme que tem dez anos? Só
porque foi produzido pelos produtores do Oscar?
E por fim o mico
máximo: a apresentação exagerada e muito over de Miseráveis, que começou com a
candidata ao Oscar de Canção "Suddenly" e se transformou em "One
More Day". Deve ser maravilhoso acompanhá-la no palco com cantores/atores
preparados para isso, com uma produção cênica menos cafona e que pareceu comprimir
todo mundo em um fusquinha. Mas ver Russel Crowe desafinando ao vivo foi de
doer. Que levemos em consideração o momento e os trajes - nada adequados - o
elenco é de bons cantores, mas a forma como aquilo foi montado não funcionou.
Pareceu de última hora, mal ensaiado.
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Shirley Bassey chutando bundas |
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Zeta-Jones... ai ai |
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Jennifer Hudson, a intrusa |
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Os Miseráveis... todos apertados |
MacFarlane teve um
momentozinho de "glória" quando Wahlberg e o ursinho virtual Ted
entregaram o surpreendente empate na categoria de Edição de Som (apenas o sexto
empate na história do Oscar). No geral - aproveitando o ensejo - os pequenos
monólogos de apresentação dos indicados foram igualmente sem inspiração. Às
vezes longos demais, as piadas demoravam a funcionar e quando aconteciam,
simplesmente não tinham graça, como a péssima envolvendo Paul Rudd e Melissa
McCarthy, ou a fraquíssima que introduziu Christopher Plummer. Parecia uma cena
"random" saída de Family Guy, que ali não deu certo.
Por fim, Adele
brilhando muito, cantou Skyfall - de longe a melhor música indicada - e fez o que
dela se espera: deu show. Norah Jones encolhida ali antes do anúncio das
canções defendeu a canção de Ted - escrita por MacFarlane. Aliás, vale uma
observação pertinente. O sujeito que criou essa ideia de apresentar duas (e
meia) das canções indicadas ao vivo, relegando as outras duas a um vídeo merece
ser demitido por justa-causa. Além de uma completa falta de educação para com
os demais indicados, demonstra que sim - de fato - as canções só voltaram
porque tínhamos estrelas defendo-as. E se esse foi o pensamento, onde estava
Scarlett Johansson, que canta a canção do musical Chasing Ice? Ou se apresentam
todas ou não se apresenta nenhuma. Barbra Streisand homenageou o falecido
Marvin Hamlish durante o In Memoriam, cantando "The Way You Are" do
filme Nosso Amor de Ontem, estrelada pela própria ao lado de Robert Redford em
1973. Canção defendida e vencedora do Oscar.
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O melhor momento de MacFarlane na noite |
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Adele, sendo linda |
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Norah Jones, sendo linda (2) |
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Tia Barbra, sendo elegante :p |
Por fim, colocar uma apresentação depois que o prêmio de Melhor Filme foi
entregue foi outra ideia de "gênio". Depois de três horas e meia de
uma festa sonolenta, para que encerrar a festa com uma canção que parecia saída
de uma festinha escolar? Desnecessário. Vale lembrar ainda que a contínua ideia
de tirar os prêmios especiais da festa, continua me parecendo muita falta de
respeito, embora possa até compreender pelas questões óbvias de tempo e etc.
A 85ª festa do
Oscar foi tediosa como há tempos não via (e olha que as festas do Oscar são em
geral assim). Mesmo com a "tensão" causada pela falta de um favorito
e surpresas aqui e ali, a festa em si, o show, precisa ser modificado com
urgência. Essa coisa de orquestra e host engraçadinho engessam a apresentação.
Existe a necessidade de um monólogo de abertura tão longo? Precisa mesmo ser
apresentado por um humorista? O formato precisa ser repensado e atualizado para
o melhor do que a TV pode fazer no século XXI. E quanto a MacFarlane, foi
burocrático, óbvio e errou mais do que acertou. Pelo seu histórico, podia se
prever algo bem mais criativo. Preso num formato que está fazendo hora extra,
ele tentou apimentar aqui e ali e não deu certo. Que isso melhore ano que vem,
pois a cada ano acompanhar a festa está se tornando cada vez mais uma questão 100%
profissional para mim.
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