Grace
(Grace, 2009)
Terror - 85 min.Direção: Paul Solet
Roteiro: Paul Solet
Com: Jordan Ladd, Gabrielle Rose, Samantha Ferris
Incomodar o espectador é uma tradição dos bons filmes de horror, mesmo naqueles que se perdem no meio do caminho. Estes por sua vez não se tornam clássicos do gênero, mas marcam o espectador, seja por alguma cena verdadeiramente impressionante, ou por um conceito original. Grace não é, nem muito provavelmente será, um clássico do gênero terror, mas cumpre um dos papeis básicos do cinema de horror: incomoda.
O problema é que o incomodo não é pela narrativa, ou pelo visual (ok, algumas cenas causam asco), mas pela impressão de que para Paul Solet, o ser humano em sua essência é um canalha. Não existe um personagem em Grace que o espectador consiga realmente “torcer” ou mesmo detestar, pois são todos incompreensivelmente patéticos e infelizes.
Os poucos que demonstram ter uma fagulha de boas intenções são sumariamente eliminados da trama, ou transformam-se em bastardos no decorrer do filme. Não sei qual foi a intenção real do diretor, mas me pareceu que Grace, no fundo, não passou de um filme anti-carnívoro disfarçado de terror.
Explico: reparem que durante toda a projeção Solet “enfia” goela abaixo do espectador dezenas e dezenas de imagens (nada sutis) de animais sendo mortos (em determinado momento da trama a personagem principal diz: “fiquei viciada em documentários do Animal Channel”) numa tentativa quase imbecil de teorizar sobre o consumo de carne, ou talvez a falta de cuidado do homem com a natureza, ou quem sabe no fundo ele somente odeie o McDonald’s e usou o filme como bandeira para sua causa. Notem também, o nojo com que o filme mostra qualquer pedaço de carne (mesmo os comprados no mercado) quase como se quisesse representar que o “vegan way of life” é o único caminho para que (metaforicamente) o que acontece no filme seja evitado.
Filmes panfletários tendem a se complicar sozinhos e juntando ao fato de Solet considerar o ser humano a maior praga viva na terra (o que em parte até pode ser verdade), temos um Frankenstein que tenta ser um filme de horror ao mesmo tempo em que de forma sutil (ou não) quer levar uma bandeira polêmica.
Vejam que nem comentei uma virgula sequer sobre a trama, pois realmente acho que ela foi um pano de fundo (ou uma bela idéia desperdiçada) para uma discussão rasa e vazia sobre um tema deveras interessante. Apenas adianto (para aqueles que não foram procurar no imdb ou Google sobre a sinopse do filme) que mães recentes e grávidas devem ter resistência ao filme, porque ele aborda a maternidade de forma quase psicótica.
E os sustos e tensão, que geralmente são os elementos mais importantes de um filme do gênero? Sustos inexistem, e a tensão criada é desfeita pela própria falta de capacidade de seu diretor em mantê-la. Existe apenas uma pequena sequencia na parte final do filme que provoca certa tensão no espectador, mas ela não depende especificamente do roteiro ou de uma situação criada na historia, mas sim de um elemento clichê que é usado com mais propriedade em diversas outras produções.
O que resta de bom no filme é apenas a sua idéia e seu conceito. Em mãos mais capazes a história de Madeleine Matheson e sua filha “especial” poderia ser um sucesso. Como Solet não conseguiu desenvolver sua própria idéia (que curiosamente já tinha escrito e dirigido anteriormente em formato de curta metragem) ficamos apenas com as boas intenções. O que não é o necessário para criar um filme minimamente interessante.
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