quarta-feira, 9 de junho de 2010




Trilha Sonora e os Sintetizadores

Olá ao Fotograma Digital. Nesta semana, diferente das postagens anteriores, não pretendo escrever sobre um compositor em especial. Vou citar alguns nomes e acabar comentando sobre outros, mas meu foco é escrever sobre o uso do sintetizador na Trilha Sonora.

Já faz um certo tempo que eu planejo escrever este post. À medida que fui escrevendo as postagens sobre os compositores de trilha sonora, pude perceber que a maioria deles, em algum momento, se aventurou nesse mundo que, em meados dos anos 60, revolucionou toda a música popular.

Contar a história inteira do sintetizador talvez não seja necessário, até porque precisaríamos de longas páginas de texto, rs... mas é importante saber, mesmo à nível de curiosidade, que esses instrumentos musicais começaram a existir nos anos 50, em uma época que a música, tanto erudita quanto popular, procurava incessante por algo novo, especialmente na questão timbrística. A partir dos anos 20, o mundo todo começou a despertar uma curiosidade em inventar instrumentos musicais à base de energia elétrica, sendo este um segundo fator importante para a invenção do sintetizador.

Por exemplo, um “conhecido” instrumento musical que surgiu nos anos 20 foi o “Theremin”. Inventado pelo russo Lev Sergeivitch Termen - que adotou o nome Leon Theremin quando foi para os Estados Unidos - este instrumento foi um grande passo para o futuro da música, por ter um caráter totalmente diferente de qualquer instrumento tradicional.

Não é um instrumento de cordas, teclas, nem de percussão, muito menos de sopro. Ele possui duas antenas, uma que controla seu volume, outra que controla sua altura (diferença entre notas agudas e graves). Com um campo magnético, feito primariamente com válvulas, o instrumento reconhece e reage sonoramente, de acordo com a posição da mão da pessoa que está tocando. Por exemplo, quanto mais longe da antena vertical, mais grave é o som, quanto mais perto, mais agudo, ao mesmo tempo que, com a outra mão, quanto mais longe, mais alto é o volume, e quanto mais perto, mais baixo. Separei um vídeo onde pode-se perceber perfeitamente o funcionamento do Theremin.


A partir disto, vários instrumentos foram inventados, cada um com uma sonoridade totalmente diferente da outra. O Theremin despertou um grande interesse, e em pouco tempo houveram experimentos de orquestras com instrumentos convencionais junto com o Theremin, ou até mesmo uma orquestra só de theremins, com mais de 8 deles sendo tocados juntos. O mais interessante neste fato foram as opiniões das pessoas da época, que diziam que o theremin era o ápice da tecnologia, e que se os extra-terrestres emitissem sons, que provavelmente seria o som do theremin. As pessoas achavam que o theremin era o som do futuro, e por isso que esta sonoridade ficou atribuída à qualquer intervenção alienígena, principalmente nas trilhas sonoras de filme. É comum ouvirmos o som do theremin em filmes ou desenhos, quando aparece algum disco voador, ou um ET, ou algo do tipo.

Entretanto, foi uma época difícil, porque ao mesmo tempo que alguns adoravam estas novas sonoridades, também haviam os compositores conservadores, que acreditavam que a música orquestral com seus instrumentos acústicos eram a única forma válida de arte.
Nas décadas seguintes, outros instrumentos foram concebidos, e nos anos 50, como disse anteriormente, os primórdios dos sintetizadores começaram a surgir.

Os primeiros sintetizadores eram bem diferentes dos teclados sofisticados que temos hoje. A começar pelo fato que ele nem tinha teclas. Todos os parâmetros eram configurados de maneiras difíceis, e realmente só engenheiros elétricos conseguiam manusear este tipo de instrumento. Com o passar do tempo, e com uma boa dedicação, alguns compositores eruditos começaram a compor com este novo instrumento, abrindo um novo horizonte para a música erudita, entitulada “música eletrônica”. Sim, a música eletrônica nem sempre foi uma música de dança tocada em baladas por aí, rs... ela era uma música com uma proposta totalmente diferente de toda a música tradicional, de séculos atrás. Foi uma idéia totalmente nova, com um ponto de vista inovador, que queria se livrar de toda a tradição que a música carregava. Este tipo de música é tão diferente que muitos nem a consideram como música, embora eu tenha uma opinião diferente. Vou mostrar um exemplo:


Porém, talvez para o conforto de alguns que não gostaram da música, rs... o sintetizador teve uma reformulação, com a idéia do engenheiro Robert Moog, que nos anos 60, acoplou teclas, como as de um piano, ao sintetizador, simplificando infinitamente todos os seus complicados parâmetros. Qualquer pessoa a partir de então podia compor e se maravilhar com as possibilidades timbrísticas deste “novo” instrumento musical. Robert Moog abriu sua fábrica de sintetizadores, que durou por muitos anos, a “Moog Music Inc”, e pela sua grande invenção, ficou considerado como o pai dos teclados sintetizadores.

(Robert Moog com o seu “Minimoog Voyager”, um re-lançamento em 2002 do sintetizador”Minimoog” que revolucionou as bandas de rock progressivo dos anos 70, como Yes e Pink Floyd.*)

E com o sucesso que os teclados Moog tiveram, outras marcas de teclados começaram a surgir. Tudo isso contribuiu, e muito, para o aparecimento de uma infinidade de sonoridades, que mudou positivamente a música. O uso da tecnologia despertou o interesse em compositores eruditos também, como Wendy Carlos, que além de ter composto a trilha sonora de alguns filmes, compôs o disco “Switched On Bach”, tocando peças eruditas com timbres sintetizados de teclados Moog. Para quem quiser conferir:


“Switched on Bach” foi o primeiro trabalho da compositora Wendy Carlos, lançado em 1968. Formada em Música e Física, foi aluna de grandes compositores de música eletrônica. Em 1969, lançou o disco “The Well Tempered Synthesizer”, que é um interessante trocadilho com o livro de tocatas e fugas de Johann Sebastian Bach, “The Well Tempered Harpsichord”, de 1722.


Após o grande sucesso destes dois discos, Wendy Carlos foi convidada a participar na composição da trilha sonora de alguns filmes. Entre eles, tem o clássico “Clockwork Orange” (1971), com pesados arranjos sintetizados, principalmente no seu tema principal. Infelizmente não consegui achar nenhum vídeo com o tema original do filme, mas acredito que muitos consigam lembrar.


Na próxima postagem pretendo continuar no assunto dos sintetizadores, comentando mais sobre outros compositores que utilizaram bastante esta ferramenta que até hoje é uma surpresa para várias pessoas.

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