quinta-feira, 23 de junho de 2011

Carros 2
(Cars 2, 2011)
Aventura/Comédia - 113 min.

Direção: John Lasseter e Brad Lewis
Roteiro: Ben Queen

Com as vozes de: Owen Wilson, Larry the Cable Guy, Michael Caine, Emily Mortimer, Eddie Izzard, John Turturro e Thomas Kretschmann

E a Pixar errou. Sim amigos, o estúdio mais competente do cinema mundial, responsável por alguns dos melhores filmes da história recente do cinema, um dia teria de errar. Infelizmente - e até de forma irônica - isso aconteceu pelas mãos do responsável pela própria criação do estúdio: John Lasseter.




Carros 2 é um Frankenstein mal costurado e com órgãos aparecendo, tentando a todo custo manter-se em pé. O primeiro Carros era uma história inocente, mas divertida (ao menos), focado no carro de corrida Relâmpago McQueen, um presunçoso carro da Nascar que aprende em sua jornada a esquecida cidade de Radiator Springs, o valor da amizade e da humildade. Carros 2 parece ter sido escrito numa explosão de idéias, nenhuma delas revisada ou melhor compreendida.



É um filme de espionagem (parodiando 007 - o que parece ser uma moda) e um filme sobre "ser você mesmo", e ainda é uma corrida ao redor do mundo. Tudo isso em menos de duas horas de projeção, apostando em personagens infantis ou infantilizados e uma história que é tão absurda quanto ineficaz.


A história de espionagem acompanha o espião Finn McMissil (voz original de Michael Caine) e sua investigação sobre o uso terrorista de uma arma, que acaba envolvendo a recém criada Corrida de Volta ao Mundo e seu novo e revolucionário combustível sustentável, desenvolvido por um milionário e que será usado por todos os carros na corrida. É nesse ponto que Relâmpago McQueen (voz original de Owen Wilson) entra. Instigado por seu amigo - e protagonista desse filme - Mate (vo original de Larry the Cable Guy), decide se juntar a trupe dos maiores carros do planeta (que incluem carros de fórmula, protótipos e até carros de rally) e competir. Ao mesmo tempo, Mate é confundido com um espião americano e passa a ser peça chave na investigação dos espiões britânicos (além de McMissil, a delicada Holley Caixa de Brita, voz original de Emily Mortimer).



Confuso e cheio de idas e vindas, o roteiro concebido (como de praxe em animações) a muitas mãos - Ben Queen baseado em história de Lasseter, Brad Lewis e Dan Fogelman - tem apenas uma nota positiva: não aposta na obvia continuação, preferindo uma abordagem diferente a essa sequencia, o que explica a tal história de espionagem. Mas é muito pouco, principalmente quando o seu roteiro é cheio de fórmulas manjadas, discursos de livro de auto-ajuda (os piores ainda por cima) e um plot twist final que faz a cabeça do espectador explodir ao não conseguir compreender - além de revelar uma quantidade notável de rombos na história até ali - as motivações do tal "vilão misterioso".


O apuro técnico da Pixar continua impecável. Desde a calorosa Radiator Springs, passando pela iluminada e compacta Tóquio (onde encontramos as gags mais engraçadas do filme, como a que envolve wasabi, uma espécie de condimento japonês e as famosas e bizarras privadas daquele país), a já retratada Paris (em Ratatouille), passando pela pista italiana, que mistura as curvas do principado de Mônaco (os fãs de automobilismo certamente reconhecerão) com o clima amoroso das pequenas e encravadas cidadelas medievais características do país. E finalmente Londres, que é retratada com extremo bom gosto e com um destaque especial para a reconstrução do transito e do palácio de Buckingham.



As corridas são de longe o ponto alto do filme, todas lindamente mostradas, apostando nos ângulos conhecidos pelo espectador das transmissões de automobilismo e simulando com exatidão os diferentes pisos e os sons de cada um dos carros. Notem, por exemplo, como o carro de fórmula (Francesco Bernulli, claramente uma Ferrari quem tem voz original de John Turturro) tem um som absolutamente diferente do carro de rally (uma homenagem a Peugeot e seus famosos carros campeões da categoria) e como o próprio desempenho dos diferentes tipos de carro foram pensados de acordo com suas características em cada um dos pisos - o fórmula anda melhor no asfalto, enquanto o carro de rally e McQueen, por ter aprendido a técnica no primeiro filme, se saem melhor na terra, por exemplo. Uma pena que essa estrutura que lembra vagamente o clássico Grand Prix (ao acompanhar uma trupe de corredores pelo mundo) e o clássico anime Speed Racer (que envolve os perigos e inimigos que tentam tirar da prova os principais corredores, além da rivalidade entre os competidores durante uma temporada de corridas) apareça tão pouco tempo na tela.


Lasseter apostou na trama de espionagem que até começa muito bem, com uma grandiosa e muito bem realizada sequência recheada de explosões e tiroteio, mas se compromete ao apostar suas fichas no pior de todos os coadjuvantes do primeiro Carros: o guincho abobalhado e infantil Mate.



Do ponto de vista meramente mercadológico, talvez faça algum sentido, já que Mate é um dos mais queridos pelas crianças (que fizeram do primeiro Carros, um sucesso de público), mas pensando apenas na estrutura da história, a ingenuidade do personagem depõe contra a criação de uma aventura do mesmo nível das que a Pixar pode - e já - realizou. Tolo por quase todo o filme, e conseguindo realizar todas as suas ações por pura sorte, Mate é um herói acidental, e quando o filme começa a "transformá-lo" em um verdadeiro herói de ação perde a chance de fazer graça dessa condição. Sai o ingênuo guincho enferrujado que não tinha idéia de que o confundiram com um espião e entra o engajado e seguro de si guincho (ainda abobalhado) mais que consegue se safar e pensar em soluções de forma mais impressionante e ágil do que Sherlock Holmes, por exemplo. Mate talvez funcionasse (e disse talvez) como um coadjuvante bobalhão, mas jamais como protagonista, já que o personagem é uma coleção de frases de efeitos pretensamente engraçadinhas, que talvez funcionem para o seu sobrinho de 3 anos (e disse talvez, de novo).


Esse Frankenstein animado ainda corre o risco de passar uma mensagem perigosa, quando coloca como vilões de seu filme carros velhos e "ruins", que nas entrelinhas buscam uma vingança contra os mais novos e mais modernos. Lasseter parece querer catequizar as pequenas crianças a temer o diferente e o mais velho, ao mesmo tempo em que coloca como protagonista um carro igualmente "apodrecido". Afinal o que isso quer dizer?



A Pixar cometeu aqui seu primeiro grande equívoco, que o próximo (o já anunciado Brave) novamente mostre toda a capacidade da empresa em criar o melhor entre as animações produzidas no ocidente. E que possamos ter de volta a sensação - até então certeira - de que esses caras são os melhores no que fazem.


Obs: o curta Férias no Hawaii, que acompanha o filme é mediano, mesmo contando com os personagens de Toy Story.


Obs 2: a dublagem nacional não atrapalha. Luciano do Valle como o locutor é o grande destaque entre os famosos.


Obs 3: o 3d não é ruim, mas também não acrescenta muita coisa. Se a dúvida pesar e o bolso estiver vazio, opte pelo 2d, a diferença não compensa o preço mais alto.


Um comentário:

  1. a historia desse filme é muito ruim e ter que aturar esses ecochatos até em filmes infantis não da

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