sábado, 18 de junho de 2011

Passe Livre
(Hall Pass, 2011)
Comédia - 105 min.

Direção: Peter Farrelly e Bobby Farrelly
Roteiro: Pete Jones, Peter Farrelly, Kevin Barnett e Bobby Farrelly

Com: Owen Wilson, Jason Sudeikis, Jenna Fischer e Christina Applegate



Em filmes como Passe Livre a primeira questão que podemos fazer é: para quem e para que uma produção como essa é realizada? Vendida como "comédia de casal", na verdade destina-se a adolescentes bobalhões que adoram rir no cinema de situações constrangedoras, fazendo desse aqui um sub Se Beber Não Case. No tocante da resposta ao para que, podemos ter duas respostas prováveis: fazer graça e "passar uma mensagem". Nos dois quesitos o filme falha vergonhosamente, sendo responsável por alguns dos momentos mais infelizes deste que escreve relacionado à produção cinematográfica no ano de 2011. Impossível se divertir com piadas requentadas e que tem como única idéia o choque puro e simples. E a mensagem... Presunçosa, preguiçosa e incompetente, são os adjetivos que me vem a mente - obviamente se excluirmos os mais chulos.

A idéia até parecia interessante: dois caras casados (Owen Wilson e Jason Sudeikis) que tem uma semana de "passe livre" para tentarem pegar a maior quantidade de mulher possível, numa tentativa desesperada de "aliviar as tensões" dos relacionamentos travados dos dois.


O problema é que se tratando de uma comédia americana, tudo é muito bonitinho e as situações que poderiam ser mais engraçadas ou pelo menos um pouco mais inteligentes são desperdiçadas pelo excesso de meiguice. Invariavelmente nesse tipo de produção "romântica" não falta à cena em que uma linda mulher fica nua na frente de um personagem que desiste na última hora de fazer sexo com ela, porque ama "a mulher e sua vida de casado".



Não que eu não defenda a monogamia, mas o roteiro não consegue nos fazer crer naqueles dois personagens, em especial o de Sudeikis (Fred), que surge desprezível fazendo um ótimo par com a sua esposa, a também insuportável Grace (interpretada como sempre - ou seja, de forma exagerada - por Christina Applegate). Cheio de piadas ruins, comportamento medroso e nada adulto, novamente fico em dúvida a quem esse filme se destina: adultos ou a adolescentes medrosos? Ou pior, a casais medrosos e cheios de melindres.


A idéia do tal passe livre, nunca foi idéia dos maridos e foi sugerido pelas esposas que - mesmo depois de casado - parecem não conseguir discutir a respeito de sexo e de fantasias uns com os outros. Corroborando o que digo, Owen Wilson em determinado ponto do filme tem um discurso "Sarah Pallin" que deve ter feito todos os puritanos do planeta se emocionar. Nada contra as escolhas dos outros, mas a única reação que tive ao discurso do personagem foi de pena, de solidariedade com sua história patética e de irritação com a solução obvia e politicamente correta escolhida pelos roteiristas.


Os irmãos Farrelly - do ainda imbatível Quem vai Ficar com Mary - têm descido ladeira abaixo em suas carreiras. Deixando de lado a comédia ácida e cheia de piadas vulgares e "amadurecendo" - contando histórias de adultos imaturos que vão crescendo - deixaram de ser bons contadores de histórias para caírem na vala comum da comédia "adulta" americana. Falta-lhes coragem para pegar mais pesado com seus personagens, e não apelar para as piadas óbvias e derivadas de outros trabalhos seus e da recente febre Se Beber Não Case, que por mais defeitos que pudesse ter não teve medo em expor uma realidade mais "plausível" de seus personagens envolvidos naquela situação.



Passe Livre quer fazer graça da óbvia falta de tato e talento de dois homens de meia idade parados no tempo e que não sabem e nem conseguem se relacionar com as "mulheres do novo milênio". Se a idéia fosse fazer essa paródia e concluir que definitivamente esses dois caras são dois babacas que se consideram mais importantes que a vida, o filme seria excelente. Afinal o que não falta é homem (e mulher casada) que acha que é só piscar e estalar os dedos que milhares de parceiros vão brotar da terra, graças a sua infinita sedução.


Mas o filme precisa ser moralizador, precisa ter uma mensagem edificante pró-casamento, e pior não consigo realmente entender o motivo de tanto drama em relação aos casamentos dos dois casais. O que fica claro é que são dois adolescentes eternos, que não experimentaram suficientemente a vida antes de se casarem e que agora fica fantasiando com uma realidade que não tem, enquanto tem de viver o dia a dia com a pessoa que escolheram. Curiosamente essa questão é defendida por boa parte da população americana e pelo próprio filme, ao mesmo tempo em que faz graça da mesma situação. Entenderam?


Na minha terra isso se chama bipolaridade. E é dessa forma que resumo o roteiro do filme: bipolar. Ele começa tentando fazer graça das situações dos personagens (com destaque para os dois primeiros dias retratado no filme, que funcionam direitinho) e termina nessa melação descrita acima, que para os Farrelly deve significar desenvolvimento de personagem.



Além de Wilson e de Sudeikis (protagonista e coadjuvante principal respectivamente), uma série de outros personagens orbitam a dupla. Além de suas esposas Jenna Fischer/Maggie e Grace/Christina Applegate, fazem parte da história alguns amigos da dupla que entram em cena como voyeurs de luxo dessa situação ridícula, e são descartados sem maiores explicações pelo roteiro - talvez porque os Farrelly não saibam o que fazer com personagens que iriam contra sua pregação. O único coadjuvante interessante é o personagem de Richard Jenkins. Ele interpreta Coakley, uma espécie de guru que orienta nossos "heróis" a como identificar os sinais das mulheres interessadas. Tudo com bom humor e certa dose - generosa - de libertinagem que destoa do "bom mocismo" abobalhado dos personagens.


Outros problemas graves, são as tais cenas de comédia de banheiro repetidas e que aqui ainda são somadas a situações exageradas representadas pelo personagem de Derek Waters (Brent), um atendente de uma cafeteria, obcecado com uma das personagens e que protagoniza os piores - é possível - momentos do filme, com direito a chiliquinho, quebra-quebra e tiroteio.


Os irmãos Farrelly já foram considerados os grandes representantes da comédia "adulta" americana, que nada mais é do que uma sucessão de piadas que ridicularizam sexo e funções biológicas e que sabe-se lá porque alguém entende como adulto. De qualquer forma, Quem vai Ficar com Mary e Debi & Lóide são grandes besteiróis modernos e ainda funcionam. O problema é que a dupla se leva a sério demais e acha que tem a competência necessária para fazer observações sobre a sociedade. Suas criticas - em especial nesse filme - soam despreparadas e adolescentes. O julgamento de valores é torpe e seus personagens não são críveis e muito menos interessantes a ponto de nos importarmos com eles.

Não me interessa se Fred tem um bom casamento com Grace, dois detestáveis seres "vivos". Ou não me sinto emocionado quando Wilson se declara para sua esposa (Maggie). Tudo soa politicamente correto e mentiroso, principalmente em uma comédia que foi vendida como "extrema" e teve direito a "unrated cut". Que os Farrelly entendam que essa não é a praia deles, ou se preparem melhor para entregar seus comentários sociais de maneira mais inteligente e verdadeiramente engraçada.

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