quinta-feira, 21 de julho de 2011

Assalto ao Banco Central
(Assalto ao Banco Central, 2011)
Thriller - 100 min.

Direção: Marcos Paulo
Roteiro: Renê Belmonte

Com: Eriberto Leão, Hermila Guedes, Milhem Cortaz, Lima Duarte, Giulia Gam, Tonico Pereira, Gero Camilo, Vinicius de Oliveira, Heitor Martinez e Fábio Lago.



O Brasil tem uma notória dificuldade em realizar os chamados "filmes de gênero". Talvez (e aqui conjecturo) pela dificuldade imensa na produção de um filme no país, cada nova obra lançada no cinema tende a tentar ser muita coisa, atirando para todos os lados na tentativa de marcar seu nome na história.


Até o advento da chamada retomada, e da aparição dos conglomerados televisivos que investem demais no cinema, o cinema nacional era pontuado por esse tipo de produção, e o filme policial ou de terror, ou mesmo o thriller eram sempre deixados de lado, em virtude dos filmes de "autor". Quando o dinheiro começou a fazer parte dessa conta, imaginou-se (pelo menos eu pensei dessa forma) que teríamos iniciado uma nova era, onde o filme de gênero fizesse parte do cardápio habitual do cinema nacional. Infelizmente, esse filme de gênero construído por aqui passou a ser muito mais, um piloto de série de tv (cômica) do que um espaço para que o Brasil construísse um entretenimento variado e rentável.


Assalto ao Banco Central merece respeito, por em meio ao infindável desfile de chanchadas platinadas que povoam o cinema, tentar fazer alguma coisa diferente, apostando no thriller e no filme policial, sem abrir mão das óbvias intenções populares.



É uma pena constatar que esse respeito a "coragem" do filme seja uma das pouquíssimas coisas que realmente valem a pena positivamente em Assalto ao Banco Central, que narra a história do maior assalto a bando do século, quando mais de R$ 160 milhões foram roubados do Banco Central no Ceará. Conduzido com a mão pesada de Marcos Paulo (conhecido diretor de novelas e ator) tenta a todo jeito não parecer um episódio longo de uma série de tv, e não consegue em muitos momentos. Repleto de "fades" desnecessários, enquadramentos típicos da televisão e uma direção de atores pobre e corrida. O assalto, grande momento do filme, é porcamente registrado, dando a impressão que o mesmo não aconteceu no Banco Central, mas em um banco do interior, tamanha falta de escopo que Marcos Paulo utiliza para registrar a ação. Falta ousadia na sua forma de filmar e por conseqüência seu filme padece dessa criatividade visual típica do cinema.


O elenco é repleto de caras conhecidas do público. De Lima Duarte, passando por Giulia Gam, Eriberto Leão, Milhem Cortaz, Gero Camilo e Hermila Guedes e ainda participações de Antônio Abujamra, Cássio Gabus Mendes, Daniel Filho entre outros.


Desse mundaréu de gente, existem alguns que conseguem se superar negativamente. O limitado Eriberto Leão, que funciona quase como o protagonista do filme é impagável em todas as suas cenas, realmente achando que está realizando um grande trabalho. Profundamente artificial, não convencendo em momento algum de que: a) é um criminoso e b) um dos criminosos realmente perigosos. Declamando cada uma de suas frases como se recitasse Fernando Pessoa, é patético e candidato a pior atuação masculina no cinema nacional em 2011. É dele a patética frase "Tenho orgulho de ser brasileiro" que já causava desconforto no teaser trailer do filme.


Os coadjuvantes não ajudam e o bando responsável pelo assalto é quase todo fraquíssimo. Excetuando-se alguns momentos de Gero Camilo (um grande ator), Fábio Lago (notabilizado pelo primeiro Tropa de Elite) e Tonico Pereira (com um bom timing cômico), o resto é triste e involuntariamente engraçado, incluindo ai a participação nula de Heitor Martinez e de Hermila Guedes, uma atriz muito talentosa, mas relegada aqui a ser o "filé do dia", surgindo apenas para mostrar que é a única mulher interessante da terra e que está em ótima forma e o personagem tacanho e abobalhado (imagino que deveria servir como alivio cômico) de Vinicius de Oliveira, que protagoniza momentos de profunda vergonha alheia. Milhem Cortaz tendo a chance de interpretar um chefão em vez de um bandidinho tem bons momentos e é dos poucos que não abusa das (muitas) frases de efeito em seus diálogos.


Frases de efeitos essas que poluem o péssimo roteiro do filme. Renê Belmonte é o "culpado". Seu roteiro é recheado da maior coleção de frases cretinas do cinema nacional em muitos anos. Momentos impagáveis do humor involuntário são protagonizados por personagens que tem de dizer : "Eu sou Cosme, ele é Damião e você é a oferenda" ou "Dente de jegue não é arroz doce", por exemplo. Fico pensando se ninguém possa ter pensado que essa coleção de frases ruins pudesse fazer mal ao filme e irritar o espectador.


O "núcleo policial" é mais interessante e é por isso que Assalto ao Banco Central é suportável. Giulia Gam, apesar de não manter a regularidade durante o filme, tem ótimos momentos e Lima Duarte parece à vontade e se divertindo muito com a chance de interpretar um policial em um thriller, coisa rara para atores mais veteranos. De longe, Lima é a melhor coisa do filme, e consegue passar por cima dos inúmeros defeitos de um roteiro ruim, para apresentar uma divertida interpretação desse policial que se enxerga como analógico em um mundo cada vez mais digital.



Tecnicamente o filme aposta numa montagem cheia de idas e vindas no tempo ("inspirada" em Plano Perfeito de Spike Lee) para mostrar os preparativos do assalto e as conseqüências dele. Instigante a principio, mantendo o filme com um ritmo bom, deixa de ser interessante a partir da metade do filme quando torna-se truncado e as muitas idas e vindas do roteiro prejudicam a percepção do "momento" do filme. A fotografia é óbvia e não tenta fazer nada além do que a novela das nove faz todos os dias.


Outro problema sério (uma bobagem enorme) é a trilha sonora que sofre de esquizofrenia profunda. Atirando com uma bazuca para todos os lados, mistura temas sacros, com música eletrônica com violões e até rock pesado numa salada indigesta e sem muito sentido.


Marcos Paulo seguiu caminho de seu amigo Daniel Filho e se aventurou no mundo do cinema. Em seu primeiro longa o que fica claro é que Marcos é sem dúvida, um diretor de telenovelas, e que é difícil lembrar de um elenco tão numeroso e talentoso sendo tão mal aproveitado no cinema nacional como esse. Uma triste constatação de que no Brasil, cinema de gênero de boa qualidade tem de ficar a cargo dos heróis do underground que levantam as bandeiras e defendem com amor e sem um milionésimo da grana gasta nesse filme, o cinema bom, barato e eficiente. Tudo que Assalto não é.


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