sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Casamento do Meu Ex
(The Romantics, 2011)
Romance/Drama - 95 min.

Direção: Galt Niederhoffer
Roteiro: Galt Niederhoffer

Com: Katie Holmes, Anna Paquin, Josh Duhamel, Candice Bergen, Malin Akerman, Adam Brody, Jeremy Strong, Rebecca Lawrence, Dianna Agron e Elijah Wood



Surpresas na seara do cinema sempre acontecem. Na maioria das vezes, infelizmente, são surpresas negativas. O trailer pode ser brilhantemente montado e ter uma trilha impressionante mas quando o produto final chega à tela, surge aquela decepção. Ou então, as fotos de divulgação são ótimas, o elenco ajuda, mas o filme é um desastre. Ou mesmo o material original é de seu agrado ou instigante a ponto de te fazer prestar atenção naquele lançamento em especial. É muito difícil manter-se alheio a influencias externas, principalmente quando se trabalha diariamente com isso. São e-mails de assessorias divulgando os filmes, notícias, trailers e tudo mais que faz o público salivar por cada lançamento e que reflete às vezes em nossas escolhas editoriais, deixando às vezes filmes mais interessantes do ponto de vista artístico de lado, para atender a demanda do mercado, ou do público que aguarda ansiosamente um grande lançamento.


O Casamento do meu Ex entra nessa categoria de surpresas também. Mas entra naqueles 8% (número fictício pessoal, não vão mandar mensagem perguntando de onde tirei, entendam como figura de linguagem) que surpreendem de maneira positiva. Sejamos honestos e claros. Sem ler nada a respeito (meu caso) e tendo como base apenas a sinopse e o título o que poderia imaginar que veria em Casamento do meu Ex?


Se o leitor mentalmente pensou em: comédia romântica com final moralizante, está certo. Mesmo com a sinopse em mãos a impressão pré-concebida era essa e não encaro essa minha impressão como uma coisa ruim. Assisti ao filme com as informações (poucas) que tinha em mãos e deixei o filme me convencer de suas idéias.



A sinopse citada, fala sobre a presença de uma garota (Laura/Katie Holmes de Batman Begins e da série Dawson's Creek) em uma festa de casamento. A noiva é sua amiga de faculdade (Lila/Anna Paquin da trilogia X-Men e da série True Blood) e o noivo é seu ex-namorado (Tom/Josh Duhamel da trilogia Transformers). A relação entre os dois parece não ter terminado totalmente, ainda existem alguns "fantasmas no sótão" que emperram a relação de Tom e Lila. Os coadjuvantes nessa história são os amigos Pete (Jeremy Strong de O Mensageiro e Fim dos Tempos) e sua esposa Triddie (Malin Akkerman de Watchmen), Jake (Adam Brody da série O.C.) e sua noiva de longa data Weesie (Rebecca Lawrence) e os irmãos da noiva Chip (Elijah Wood da trilogia Senhor dos Anéis) e Minow (Dianna Agron da série Glee). Todos sob as asas da matriarca Augusta (Candice Bergen da série Justiça sem Limites, Gandhi, Miss Simpatia entre outros).


O elenco estelar e que ainda dá espaço aos menos experientes é um dos vários destaques desse surpreendente drama indie com toques de cultura pop e sensualidade. Katie Holmes apresenta aqui seu melhor desempenho em sua carreira. Até mesmo seus detratores (eu me incluo nesse grupo) terão de dar o braço a torcer diante de seu desempenho sutil e poderoso. A sequencia final é um desbunde de interpretação e uma catarse para a personagem. Paquin por sua vez, abusa dos tiques para fazer de Lila, uma maníaca depressiva neurótica e viciada na bizarra mistura de vodka com chocolates e cigarros. Surgindo sempre pisando em ovos e notavelmente incomodada é um bom trabalho, embora não faça frente ao excelente desempenho de Katie Holmes. Fechando o trio de protagonistas, Josh Duhamel pode mostrar ao grande público que também sabe atuar e que não é sparring de robôs gigantes. Um trabalho interessante também, fazendo de Tom um camarada confuso entre o certo e o duvidoso e que caminha de forma tênue entre dois mundos.


Os coadjuvantes estão todos muito bem. Malin Akkerman é outra que pode dizer a quem quizer ouvir: "finalmente me deram um papel interessante". Embora Triddie seja uma mulher fútil e exagerada, a atriz consegue transformar uma personagem abertamente sexual em uma divertida "maluquinha" que tem uma relação conflituosa com seu marido, o metido a descolado Pete. Jeremy Strong talvez seja o mais fraco do elenco, pois não consegue se impor diante dos demais atores masculinos e principalmente diante da "deusa loura" Malin Akerman. Já Adam Brody se sai muito bem como o abobalhado e tenso Jake. Outro que parece viver em um relacionamento marcado por uma crise maquiada, mantém uma relação de aparente felicidade com a travada e sempre preocupada Weesie, interpretada com diversos cacoetes pela novata Rebecca Lawrence, que não compromete embora seja a mais fraca do cast feminino.


Do lado da família da noiva, os Hayes, Elijah Wood fora da zona de conforto interpreta um sujeito chato e inconveniente que infelizmente tem pouco tempo de tela. A lindíssima Dianne Agron não tem muito que fazer com sua personagem, limitada a ser a irmã mais nova da noiva, mas convence em uma cena importante que envolve o vestido de noiva da irmã. Fechando o elenco, a sempre competente Candice Bergen trás classe e bom humor como a profetiza do caos, que pressente as nuvens fechadas que se aproximam de sua casa e do casamento de sua filha.


A diretora Galt Niederhoffer, conhecida por produzir diversos filmes indie e alternativos como Geração Prozac e o tocante Grace is Gone, apresenta um trabalho muitíssimo interessante na forma com que conta sua história. Sua história mesmo, já que dirige um roteiro de sua autoria baseado em seu próprio livro.


Aposta na câmera na mão, lembrando O Casamento de Rachel, e nos interlúdios musicais, que servem para apresentar o ambiente e ilustrar com música os personagens, criando temas para cada um dos atores. Além disso, brinca com a gramatura da película, usando de grãos mais grossos nas seqüências noturnas, dando o aspecto de ainda mais crueza as cenas. Um acerto enorme, em especial na conversa na árvore entre os personagens de Holmes e Duhamel.



O filme tem pelo menos uma sequencia memorável - daquelas para entrar na lista de grandes de 2011 - que envolve os discursos dos padrinhos antes do casamento de Lila, num jantar na noite anterior ao evento. Constrangedor e brilhantemente montado por Jacob Craycroft (de Última Noite o derradeiro filme de Robert Altman), a tensão parece poder ser cortada com uma faca. Tudo ali funciona, os atores, a forma suja de filmar e a montagem enérgica que não dá chance ao espectador se acomodar com os discursos.


O único problema do filme é que ele parece teatral por alguns momentos, com fades entrando e saindo da tela, emoldurando conversas entre dois ou três personagens. Isso atrapalha um pouco a fluidez da história que é muito boa e bem amarrada.


Mais são detalhes que não atrapalham essa história sobre as complexidades das emoções humanas e nossa constante dificuldade de entender o que sentimos, quem amamos e de conviver com nossas escolhas.

PS: A tradução do título original é triste, camuflando uma das boas sacadas sobre a personalidade dos personagens.

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