sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Inquilina
(The Resident, 2011)
Suspense - 91 min.

Direção: Antti Jokinen
Roteiro: Antti Jokinen e Robert Orr

Com: Hillary Swank, Jeffrey Dean Morgan e Christopher Lee



Hillary Swank parece viver no limbo eterno entre elogiosas atuações. A cada Garotos Não Choram e Menina de Ouro, Swank entrega O Núcleo, Amélia, Colheita do Mal entre outros. Essa irregularidade em sua carreira é que a mina (mesmo tendo dois carecas na estante) de ser sempre incluída na lista das estrelas de sua geração. A Inquilina não mudará essa impressão já que não passa da versão Hammer (censurada) do clássico Psicose.


A Hammer Films que ressuscitou nos últimos anos com o remake de Deixe Ela Entrar, Wake Wood e que em 2012 lançará The Woman in Black (um conto de horror estrelado por Daniel Radcliffe), é a mais tradicional produtora/distribuidora de filmes de gênero do planeta. Foi responsável pela catequização de uma geração de cinéfilos com suas versões recheadas de sensualidade e de horror de monstros clássicos como Frankenstein e Drácula.


Psicose é o maior filme sobre voyeurismo e um dos mais importantes filmes sobre serial killers do cinema mundial. Imortalizado por suas cenas intensas, personagens que povoam o imaginário popular, sua montagem inteligente, soluções criativas e por subverter a expectativa do espectador matando sua protagonista com menos da metade do filme.



A Inquilina tenta misturar essas duas escolas em uma mesma narrativa, com resultados medianos. O filme apresenta Juliet, uma médica que decide encontrar um novo apartamento após ter pego "no flagra" o namorado e outra em sua cama. Isso a leva até Max (Jeffrey Dean Morgan) um senhorio que cuida do tio adoentado August (Christopher Lee) e que tem um de seus apartamentos locado pela personagem de Swank. Obviamente a relação dos dois torna-se obsessiva e Hitchcock se revira no túmulo pelas semelhanças na forma de contar à história que Antti Jokinen (egresso dos vídeos musicais e da tv finlandesa) coloca em seu filme.


A fotografia é óbvia e os enquadramentos e a atitude do personagem de Morgan são mais que semelhanças ou homenagens. Parecem ser cópias "suecadas" do clássico suspense. Para quem não conhece, o termo "suecada" vem do filme Rebobine, Por Favor quando após uma confusão que deleta o acervo de uma locadora de vídeos, dois caras resolvem re-filmar todos os filmes em versões caseiras e paupérrimas.


Não chega a tanto em termos de produção. O filme é bem feito, apesar de profundamente óbvio, mas é na forma como ele é construído e em suas "idéias" que as "suecadas" estão presentes. Temos o perturbado homem que se apaixona pela mulher e se torna obcecado. Gradativamente o foco do filme muda dela para ele, e é sua historia que se torna mais interessante de ser acompanhada. O voyeurismo dá lugar a ação que faz o personagem (olha a "grande" diferença para o filme de Hitch) tentar conquistar a garota em apuros.



Isso sem mencionar as obviedades do gênero, que funcionam quando vem embaladas por algo diferente, uma grande performance ou mesmo é apresentado de maneira convincente. Não é o caso de Inquilina que além de ser derivado, força a barra ao tentar transformar em uma deusa sexy uma atriz que não tem perfil físico para tal coisa. Existem longas seqüências de banho de Swank, com pouca roupa e até mesmo se masturbando (sem qualquer sentido narrativo, apenas para ilustrar talvez a obsessão do personagem psicopata que observa tudo). Personagem esse que abusa dos clichês (chegando à comédia involuntária) quando usa a escova de dente e reproduz o ato da personagem de Swank na banheira, talvez tentando entrar em "comunhão" com a garota.


Swank não está mal, mas também não a muito mais o que fazer em uma história tão óbvia. Existe um grande momento no filme, mas que é mal montado e que tem a ver com a revelação do personagem obcecado por ela (que o público conhece já que o filme subverte o "eixo" narrativo, nos dando conhecimento sobre a identidade do mesmo). Ao invés de apostar na reflexão sobre sua descoberta e na emoção da mesma, Jokinen entra numa espiral óbvia de perseguição gato e rato por túneis avermelhados (e vermelho aqui significa luxuria e sexo, já que o voyeur se esconde em ambientes iluminados por essa cor) que culminam em um final previsto por todos os espectadores.


A Inquilina é um exemplar óbvio do cinema - dito - de suspense das ultimas décadas. Não assusta, não prende a atenção, brinca com filmes melhores e mais bem realizados e tenta chocar com o sexo pudico e com personagens estranhos. Só não é pior, por que apesar da sexualidade exagerada e não funcional de sua personagem, Swank não é (muito pelo contrário) uma atriz ruim, e Dean Morgan parece divertir-se em seu papel, funcionando como casal em tela. Pena que todo o contorno seja tão repleto de clichês reciclados.


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