domingo, 27 de maio de 2012

Essential Killing


Essential Killing
(Essential Killing, 2010)
Thriller - 83 min.

Direção: Jerzy Skolimowski
Roteiro: Jerzy Skolimowski

Com: Vincent Gallo



Temos aqui um dos mais fabulosos filmes do ano sem dúvida. A história de sobrevivência do homem comum frente à natureza, sua própria condição e a fuga da sociedade civilizada é magnífica.

Essential Killing, o novo petardo de Jerzy Skolimowski é tão simples e ao mesmo tempo tão cheio de complexidades e de apuro técnico que é sem dúvida um dos mais viscerais filmes vistos por esse crítico esse ano.


Temos esse homem (Vincent Gallo) que surge confinado em uma caverna em um dos muitos países em que os americanos invadiram com o propósito de "salvar" sua população. Ao sentir a aproximação do grupo de soldados ianques, dispara sua arma (uma bazuca ou algo assim), matando todos os oficiais, partindo para sua primeira fuga. Não conseguindo ir muito longe é preso, e parcialmente ensurdecido pelo barulho de um dos tiros que tentaram acertá-lo não consegue se comunicar. Mais tarde - isso tudo acontece rapidamente, e em menos de quinze minutos o diretor já posiciona todos as peças de seu filme - durante sua transferência, o carro que o transportava sofre um acidente e Mohammed (seu nome não é dito em momento algum do filme e só sabemos disso durante os créditos) se vê livre e parte em fuga.



Skolimowski apresenta uma impressionante e absolutamente deslumbrante fotografia, apostando tudo na inércia das planícies geladas da Polônia e faz seu ator (o igualmente incrível Vincent Gallo) sofrer todas as penúrias que seu personagem poderia sofrer. Cenas absolutamente antológicas que certamente o espectador vai guardar na memória brotam aos montes. Como não esquecer da tecnicamente irrepreensível sequencia de delírio onde o personagem se vê cercado por cães? Ou das aparições da "mulher de azul"? Ou mesmo do desespero do homem perdido no meio do nada para encontrar o que comer e onde dormir? Sua dieta é desagradável e por vezes poética e sua jornada dolorosa e impiedosa.


A interpretação muda de Gallo é a mais intensa do ano, e por acompanharmos seu personagem durante todo o filme emudecido, são seus olhos e seu corpo meio arcado, machucado pela situação e sua intensidade em conseguir fugir e entender onde se encontra que fazem do filme ainda mais desafiador.


Skolimowski brinca com nossas noções de realidade ou inserir sua história num cenário ainda mais confuso. Afinal qual o propósito de transportar um preso árabe pelo meio da neve em um país desconhecido da Europa? Jerzy não quer o realismo, mas o lirismo e apresenta um conto sobre o homem primitivo que foge desesperadamente em busca de sua salvação.



A ausência de falas (óbvias pela situação) só aumenta o agonizante caminhar do personagem que luta pela sobrevida de forma realmente tocante. E mata por necessidade (as tais "mortes essenciais" do título do filme) tal qual eu ou você faríamos se estivéssemos abandonados durante um inverno rigoroso e sem ninguém a vista. Mataríamos pela vida, sobreviveríamos a tudo e a todos por nossa vida.


A audácia do diretor dá um passo a mais quando contextualizamos de onde vem esse homem. Seria muito mais fácil - e comercialmente mais vantajoso - se o nosso sobrevivente fosse um náufrago na neve, que encontrasse seu Wilson e vivesse para encontrar o amanhã glorioso. Skolimowski não caminha pela estrada mais segura e nos faz torcer por um personagem que talvez seja um terrorista, ou um fanático qualquer, que talvez não teria piedade de você, caso atrapalhasse seus planos.


Mas ao despir o personagem de panos religiosos e políticos, deixando-o nu de suas crenças e visões de mundo, o vemos como um protótipo do ser humano acuado e sem escapatória, tendo como esperança a luta brutal pela sobrevivência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário