quinta-feira, 17 de maio de 2012

O Corvo


O Corvo
(The Raven, 2012)
Thriller - 110 min.

Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingstone e Hannah Shakespeare

Com: John Cusack, Luke Evans, Brendan Gleeson e Alice Eve

Edgar Allan Poe é um dos maiores autores da historia do planeta. Sim, sem exageros. Sua mistura do lúgubre, macabro e sangrento em historias que deixavam seus personagens a beira do abismo emocional ainda hoje tem impacto em leitores de todas as idades.

No cinema, Poe já foi adaptado e vivido muitas e muitas vezes. Segundo o IMDB (o maior banco de dados sobre cinema do planeta) Edgar Allan Poe já foi interpretado na tela grande 54 vezes até agora, enquanto seus livros e contos deram origem a mais de 250 filmes, curtas, vídeos e series de tv.

Entre os mais famosos destacam-se aqueles estrelados por Vincent Price, como O Solar Maldito, A Mansão do Terror, A Orgia da Morte, The Raven (estrelada por Bel Lugosi e Boris Karloff). Além dos igualmente interessantes The Black Cat (com o Sherlock Holmes do cinema Basil Rathbone), Túmulo Sinistro, Dois Olhos Satânicos (em que o mestre Dario Argento adapta como um média metragem o clássico, O Corvo) entre muitos outros.


Portanto, era de se esperar uma deferência e respeito à obra e ao personagem nessa biografia ficcional dirigida por James McTeigue (de V de Vingança), estrelada por John Cusack (de filmes tão diversos como 2012 e Alta Fidelidade, por exemplo) e que mistura a vida real do biografado com a criação de um serial killer que assassina pessoas baseando-se em contos e livros do escritor.

Pois bem, o primeiro problema do filme é que o Poe de Cusack parece um maluco perturbado e sem nenhum carisma. Cusack parece viver Poe como um sujeito contemporâneo, cheio de manias e trejeitos de um homem do século XXI. Apesar do filme não ter essa pretensão de ser um retrato histórico de um período, mas uma divertida homenagem aos escritos do autor, fica claro que McTeigue imaginou Poe mais como um personagem de quadrinhos ou livros pulp do que um sujeito de carne e osso. Estereotipado como o gênio incompreendido, cheio de problemas e mentalmente instável, o autor não é um personagem facilmente amável no filme, e isso dificulta com que o filme engrene.

A trama é até divertida, pois vai misturando diversas historias de Poe, incluindo ai os clássicos Assassinato na Rua Morgue, O Corvo e o Poço e o Pêndulo (essa última violenta e suja como o conto original, embora prefira o que Argento fez em Dois Olhos Satânicos), mas esbarra no maior defeito de todas as produções desse gênero: a expectativa.


Cria-se um mundo de idéias e criativas soluções para uma historia de gato e rato, mas a solução é pedestre e praticamente sem justificativa alguma. Não ajuda também o fato de Luke Evans (de Imortais, Três Mosqueteiros entre outros) não convencer como o detetive que pede ao autor que ajude nas investigações. O romance forçado também não ajuda em nada e apesar de ser fundamental para a trama, não existe química alguma entre Cusack e a bela Alice Eve.

McTeigue apresenta uma reconstrução de época eficiente, bons efeitos visuais e uma fotografia que ajuda a compor o clima de mistério, mas esbarra na tentativa de transformar Poe em uma figura de ação, algo próximo do que Guy Ritchie fez com Sherlock Holmes ou mesmo o que Alan Moore fez com seus personagens dos quadrinhos de A Liga Extraordinária, porém, com um componente bastante perigoso: Poe é um homem real, enquanto os demais são personagens ficcionais.

Tentar impingir características a uma figura pública é muito perigoso e precisa ser muito bem dosado para não parecer uma vontade de reescrever a historia. McTeigue esbarra nisso, mas parece um exagero crer que essa tenha sido uma ideia consciente. Prefiro acreditar que McTeigue tratou Poe como mais um personagem ficcional, e como tal fez o que quis com o escritor.

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