sexta-feira, 25 de maio de 2012

Flores do Oriente


Flores do Oriente
(Flowers of War, 2011)
Drama - 146 min.

Direção: Yimou Zhang
Roteiro: Heng Liu

Com: Christian Bale, Ni Ni, Xinyi Zhang

Yimou Zhang é um dos poucos diretores chineses conhecidos globalmente. Destacou-se já no início dos anos 90 com o singelo Lanternas Vermelhas e desde então vem marcando sua carreira com trabalhos que mesclam beleza visual com historias de sacrifício e honra, tradicionalmente ligadas a emoção do povo oriental.

Em Flores do Oriente não é diferente. Contando a historia de um grupo de garotas que se vê presa durante a invasão japonesa a China, antes da segunda guerra mundial, coloca o personagem de Christian Bale, como o herói acidental da história. Ele vive John, um coveiro contratado para aprontar o enterro do padre da paróquia em meio à invasão. Quando sobrevive aos tiroteios e finalmente consegue chegar à igreja, descobre que o padre foi - literalmente - explodido por um canhão japonês e que não existe mais chance de se realizar um enterro.

Percebendo que não existe motivo para sair dali e precisando de dinheiro, o boa vida decide ficar por ali mesmo aproveitando uma boa cama e a bebida de graça enquanto a guerra explode do lado de fora dos muros da igreja. Porém, quando um grupo de - digamos - cortesãs chega à igreja e soldados japoneses atacam ferozmente as meninas do convento, Bale assume a tarefa de protetor daquela gente.


Bale está um bom momento. Sua interpretação é segura e bastante convincente como um homem que passa de completo desinteressado no mundo ao seu redor a defensor dedicado da inocência em frente ao caos. O elenco secundário não compromete - e é todo formado por atores locais ou japoneses - onde se destaca a sensível interpretação de Ni Ni, que vive a cortesã principal, em seu primeiro papel no cinema. A química entre Bale e Ni Ni é boa e a atriz mesmo no inglês se sai bem.

O problema é que Yimou não assume exatamente uma postura com o filme, mesmo transformando os personagens japoneses em criaturas das trevas. A produção é baseada em fatos reais, ocorridos na cidade de Nanking, mas ao demonizar o inimigo, não dá ao terror um rosto. Explico. Quando Yimou opta por transformar os antagonistas do filme em personagens sem personalidade alguma, meras sombras violentas e profundamente detestáveis, perde a chance de apresentar as motivações para tanta violência. Os japoneses - no filme, que fique muito claro - são ruins, porque são ruins e ponto. Atacam as mulheres porque são "demônios do inferno" e ponto. Não existe uma preocupação em explicar os motivos ao espectador, que quando tem contato com um único personagem nipônico que não é demonizado, é obrigado a ver clichês como "o soldado nobre que ama a música" ou "o respeito pela figura do sacerdote". Ou seja, mesmo não demonizado o personagem do comandante japonês é um clichê.

Por outro lado, Yimou continua mostrando o porquê é - facilmente - um dos melhores estetas do cinema mundial. Em Flores do Oriente, mesmo falando sobre um tema profundamente doloroso, ele ainda consegue deixar sua marca em algumas sequências que expõem a violência de forma gráfica sem, no entanto resvalar no mau gosto. Como exemplos, a suja e perigosa sequência em que um pequeno grupo do exercito chinês tem de enfrentar uma horda de japoneses é filmada de forma granulada, abusando do tom documental, mas com inserções sutis e inteligentes de slow motion, para destacar alguma determinada ação. Ou mesmo quando acompanhamos uma armadilha preparada contra os japoneses,e Yimou nos impõe um sentido de urgência e de perigo sem economizar nas cores mais fortes. E o grande destaque: a fuga desesperada de uma das cortesãs que inclui uma tomada altamente complexa em que acompanhamos a personagem fugindo por um casarão para se atirar na água, sem corte algum. Não chega a ser um plano sequência, mas o fato da câmera acompanhar a queda da personagem e seu posterior desespero quando é capturada é um espetáculo.


Espetáculo que continua mesmo na parte final do filme, quando fica claro - e seguindo a tradição do diretor - que as pessoas envolvidas nessa historia não passarão incólumes. O diretor aposta na tal "poesia visual", em retratar cada elemento do roteiro como uma experiência sensorial. Temos o vitral da igreja que funciona como uma aquarela que pinta a realidade cinzenta em que aquelas garotas vivem, ou os figurinos das cortesãs todos coloridos e que também remetem a essa questão da fuga da realidade dolorosa da guerra. É Yimou colocando cor em um evento asqueroso, não deixando que uma situação tão extrema impeça que seu estilo marcante seja apresentado.

Apesar de não apresentar nenhuma verdade surpreendente e se apoiar na velha historia de redenção e perda de inocência diante de uma tragédia, Flores do Oriente funciona por seus bons personagens, pela entrega de Bale e porque atrás das câmeras Yimou Zhang continua a ser um dos diretores que pode dizer que cada filme seu tem seu dedo e sua qualidade artística notável.

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