sexta-feira, 1 de março de 2013

Dezesseis Luas


Dezesseis Luas
(Beautiful Creatures, 2013)
Romance/Fantasia - 124 min.

Direção: Richard LaGravenesse
Roteiro: Richard LaGravenesse

com: Alden Ehrenreich, Alice Englert, Jeremy Irons, Viola Davis, Emma Thompson, Emmy Rossum

Dezesseis Luas já nasceu condenado às comparações com Crepúsculo. Mais um dos muitos filmes com temática fantástica e romance adolescente que apareceram (e aparecerão) nos cinemas, inevitavelmente será sempre vendido e até mesmo compreendido por quem não tiver paciência em ler um pouco a respeito, como uma cópia dos vampiros de Stephanie Meyer.

Essas comparações ao mesmo tempo em que podem atrair uma base de fãs (o que eu duvido, já que o que fã menos gosta é alguma coisa sendo comparada com seu objeto de adoração) rechaça uma maioria que simplesmente não tem a menor simpatia por essa turma que brilha.

Pois bem, Dezesseis Luas é, e não é parecido com Crepúsculo. Explico: as semelhanças existem, pois também estamos num mundo de fantasia, onde também existe um romance proibido e o destino do mundo está nas mãos dos protagonistas. No entanto, a historia de Ethan e Lena é muito melhor conduzida.


O romance entre os protagonistas é muito mais próximo do realismo, o que faz imediatamente com que a credibilidade do relacionamento do casal seja muito maior. Outra diferença é que ao invés de "pregar" uma conduta de espera e de castidade velada, Dezesseis Luas entende que por mais mágicos e especiais que seus protagonistas sejam, são adolescentes cheios de hormônios.

A trama é bastante simples: Lena é a nova garota da escola de Ethan, encravada em uma tediosa cidadezinha americana, uma dessas localizadas no cinturão da bíblia americana, onde a reunião na igreja e o banimento de tudo aquilo que promova a curiosidade humana é o prato do dia.

A garota é uma proto-bruxa (no filme ganha o título de Conjurador), que aos dezesseis anos será "chamada" para assumir seus poderes para o lado do bem ou do mal. Por ser uma bruxa, não é aconselhável (ou melhor, "não pode mesmo") que ela se relacione com um mortal, por razões óbvias. Uma bruxa/bruxo vive muito mais do que um humano, tem poderes e pode ser tentado ao lado negro da força. Ao mesmo tempo, o garoto Ethan é acometido de sonhos com a garota e que acabam envolvendo uma antiga maldição que liga os dois.


A família de Lena fundou a pequena cidade, e a menina vive sob a severa vigia de seu tio Macon, vivido com enorme fleuma e bom humor por Jeremy Irons. Ele é um conjurador das trevas e não quer que sua sobrinha seja seduzida para tal caminho.  As razões serão explicados durante a trama e por motivos óbvios não vou contar aqui, mas garanto ao leitor que não são complicados e beiram o lugar comum.

É sobre essa base que o romance adolescente é construído. Maldições, amor impossível, poderes, magia e fantasia, mas mesmo assim existe um componente humano e uma boa química entre os jovens Alden Ehrenreich e Alice Englert. O grande trunfo de Dezesseis Luas, no entanto é seu elenco de coadjuvantes. Se Jeremy Irons se diverte com a pose dândi de seu personagem, uma oportunidade muito boa para que ele desfile seu sotaque britânico cheio de arrogância, Viola Davis nos trás ao "mundo real", embora sua personagem também seja marcada pela magia, enquanto Emma Thompson tem jornada dupla e abusa do overacting para realizá-la. Por fim a bela Emmy Rossum é o "avatar da sensualidade explícita" no filme. Apesar de sua personagem parecer importante, o filme a sabota tirando-a de cena muito rapidamente.

A impressão que passa é que Richard LaGravenese (que também dirige o filme), teve muito trabalho em condensar o livro de Kami Garcia e Margaret Stohl, já que alguns eventos surgem de forma acelerada na tela, em especial no ato final, que padece do mal - comum infelizmente - a muitos filmes do gênero: o excesso de expectativa.


Se a trama toda é construída para nos mostrar o grande momento de transformação da garota, o resultado final é bastante insatisfatório. Prejudicado por efeitos visuais medianos (para ser gentil), e uma construção da sequencia equivocada (onde não se nota a grandiosidade das cenas que poderiam estar ali), Dezesseis Luas perde a chance de também apresentar uma batalha verdadeiramente empolgante.

No entanto, o design de produção até ali é muito caprichado. A casa de Lena com sua longa escada (que imediatamente me lembrou a de Frankenstein de Mary Shelley) e sua decoração branca é muito bonita, assim como a sala de jantar vista numa comemoração familiar posterior.

Apesar dos personagens serem cativantes e funcionarem bem, me causou um incomodo as incessantes referencias a uma serie de autores "malditos", como Bukowski e Kurt Vonnegut Jr. Não por serem autores de segunda, muito pelo contrário, mas pela inevitável ironia de vermos sujeitos absurdamente anti-establishment sendo citados em uma produção pipoca adolescente que é vendida como seguidora de outra franquia de sucesso.


Talvez resida aí a ironia de Dezesseis Luas. Apesar de ser vendida como uma cópia, existe ali certo frescor de originalidade, ou uma simpatia por aqueles garotos - que verdadeiramente parecem um casal comum - que não se encontra nos similares (excluo Jogos Vorazes porque a ideia dessa serie é diferente das demais). Talvez - e não li os livros para saber - a ideia de sair do lugar comum (ou da cidadezinha como os personagens sonham em fazer) seja ilustrada pelas autoras do livro e pelo diretor do filme, com esses exemplos literários.

Simpático e até surpreendente na bacia de produções medíocres destinadas ao sofrido público adolescente, Dezesseis Luas nos faz acreditar no conto de fadas e comprar a franquia. Que faça dinheiro, pois só assim será possível sabermos o que acontece na história de Ethan e Lena.

Um comentário:

  1. Acho que essa comparação com a franquia dos vampiros brilhantes acaba sendo positiva à nova série. Uma vez que essa é bem melhor que a anterior. Mas é aquilo, ser superior a Crepúsculo não é muito difícil.
    Pelo menos aqui há alguma crítica e não só baboseira.

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