Amor e Outras Drogas
(Love and Other Drugs, 2010)Comédia/Romance - 112 min.
Direção: Edward Zwick
Roteiro: Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herkovitz
Com: Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, Oliver Platt e Hank Azaria
Comédias românticas em geral têm fases na indústria cinematográfica. Há épocas em que as mocinhas são as encalhadas, épocas nas quais casais interagem em filmes de ação. Talvez a fase da safra atual seja a do sexo sem compromisso. O filme No Strings Attached - traduzido no Brasil justamente como '' Sexo Sem Compromisso'' - ainda não estreou, mas já possui na sua sinopse essa temática de um casal que só quer se relacionar pelo sexo, não estando dispostos a ter um relacionamento propriamente dito, e se livrar das amarras e frustrações que um namoro de verdade pode ocasionar. Invariavelmente, os dois se apaixonam, e precisam lidar com isso.
Amor e Outras Drogas é um exemplo desse tipo de filme . Mas não se foca nessa temática, como o filme de Natalie Portman e Ashton Kutcher deve vir a fazer. Existe a exploração, vista já no seu título, da indústria farmacêutica em geral, de uma perspectiva cômica, e também como um drama relacionado a uma doença - no caso, o mal de Parkinson. Essas temáticas múltiplas, que acabam tendo até uma unidade, ao final, não são problemas algum, ao contrário. O problema do novo filme de Edward Zwick é o seu script esquemático, previsível em cada detalhe, e que, devido a isso, não consegue fugir do clichê.
A história do filme começa do ponto de vista do vendedor de eletro-eletrônicos Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) que se empregou na loja para contrariar o pai, que queria que ele seguisse a carreira de médico . Devido ao seu estilo mulherengo, ele acaba sendo despedido, e na busca por um novo emprego, adentra nas fileiras dos representantes da indústria farmacêutica, mais exatamente na gigante Pfizer. Um dia, acompanhando um médico, ele conhece uma paciente, chamada Maggie Montgomery (Anne Hathaway). Depois de chamá-la para sair, eles constroem um acordo de apenas se encontrar para transar, sem nenhum compromisso. Lógico que eles acabam se envolvendo mais que isso, e têm que lidar com o amor e também com o mal de Parkinson de Maggie, que já tem a doença degenerativa com apenas 26 anos.
A introdução do filme é bem construída para mostrar alguns pormenores que o público não conhece das gigantes empresas farmacêuticas . Os métodos pouco ortodoxos que os vendedores bolam para passar as amostras do seu produto e não as amostras do concorrente, a chatice que os representantes proporcionam perseguindo os médicos, etc. Claro que isso é tudo alegoria e serve apenas de tempero para a história do casal protagonista. Mas são alegorias até interessantes e que produzem bons momentos - a descoberta do Viagra e a verdadeira revolução que o produto gerou é um ponto alto, afinal, o personagem de Gyllenhaal é uma verdadeira pílula azul ambulante, e combina como vendedor bonachão.
O núcleo da história que interessa - o romance entre Jamie e Maggie - era previsível desde o trailer , mas até aí , não temos um erro . O clichê por si só não é um deslize imperdoável, e alguns filmes simplesmente não conseguem fugir dele, mas, por possuírem uma execução bem fundamentada, conseguem agradar. O problema começa quando vemos na nossa frente à esquematização do roteiro. Uma coisa é você ter noção de qual vai ser o final de um filme, mas ter prazer em ver informações novas até lá, a outra é você saber exatamente qual arco está sendo apresentado no momento, e ter já conhecimento das curvas que a trama vai fazer até os créditos finais. Exemplos disso: Tron Legacy e Avatar, respectivamente. E fica complicado não comentar da esquematização escancarada de Amor e Outras Drogas , quando , em um momento, temos quase um vilão -imbecil - no filme. Fora isso, os quatro arcos clássicos dos filmes românticos são respeitados â risca , e temos, vejam só , uma quase ''cena de aeroporto '' . Aí fica difícil.
De inovador, porém ,podemos indicar a o arco da doença de Maggie - que é pelo menos ''incomum'' em filmes do gênero em geral - e a própria temática farmacêutica em si . Essas ''alegorias '' acabam por fazer sentido juntas, numa unidade, afinal. Mas o que mais pode se aproveitar em Amor e Outras Drogas são as atuações de Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway. Os personagens são acima da média - principalmente a personagem de Hathaway - e as interpretações dos protagonistas são definitivamente superiores ás que podemos encontrar em filmes similares. E o melhor é que eles combinam, existe uma química interessante que deixam as cenas da dupla mais orgânicas, e talvez isso seja mérito também do diretor Edward Zwick. Apesar de aqui ele não mostrar muitos arroubos no manuseio das câmeras - faz o feijão com arroz com qualidade mínima necessária - ele tem competência suficiente para deixar os dois atores muito à vontade e extrair deles atuações muito eficientes.
O que é duro de engolir mesmo é a esquematização extrema do roteiro . Isso passa com dificuldade pela garganta, mas a performance de Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway são a bebida que ajuda a descer. O desfecho piegas dá uma sensação desgostosa, assim como todo o chavão presente do filme também faz. Mas, sendo um produto inofensivo, não é preciso fazer nenhuma propaganda contra - mas também não farei a favor.
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