quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Último Exorcismo
(The Last Exorcism, 2010)
Terror - 87 min.

Direção: Daniel Stamm
Roteiro: Huck Botko e Andrew Gurland

Com: Patrick Fabian, Ashley Bell e Iris Bahr



(Obs 1: contém spoiler)


(Obs 2: leia após ter visto o filme)


Imagine um reality show onde o objetivo é mostrar como a fé alheia é manipulável e como um homem (apesar de teoricamente, seguindo sua lógica canhestra) com "boas" intenções usa seus poderes e ensinamentos para, mesmo através da mentira, trazer conforto espiritual a uma gente inculta e refém da ignorância religiosa.


Genial não?


Cheia de dubiedades morais, esse era o ponto de partida de último Exorcismo. Temos um pastor (Cottom Marcus, interpretado por Patrick Fabian) que vive uma profunda crise de fé e no processo descobre que pode usar sua eloqüência discursiva para ganhar dinheiro, mesmo que com isso o personagem tenha de enganar as pessoas curando entes queridos de supostas possessões. Sua idéia até é passivel de discussão, já que vem da idéia de "salvar" pessoas com problemas emocionais/mentais de padres/pastores que preferem curar os doentes com métodos que na verdade, fazem muito mais mal do que bem.


No fundo temos a velha discussão - mais antiga que a própria humanidade - da fé contra a ciência, embalada por modernismos visuais.


O formato modernoso é o consagrado por Bruxa de Blair e REC, o tal "filme real", onde a idéia é reproduzir uma situação verdadeira por meio da técnica cinematográfica.


Último Exorcismo começa muito bem, mostrando o dia a dia do pastor de araque e sua forma nada cristã de enxergar o mundo pelos olhos de uma equipe de tv que filma Marcus para um suposto documentário. A equipe então decide acompanhar o personagem numa viagem de exorcismo em uma pequena cidade americana (que segundo a lógica do cinema americano é obviamente atrasada, retrógrada, xenófoba e um pouco racista) mostrando os detalhes do acontecimento.



O espectador imagina telegrafar os acontecimentos. Obviamente aquela menina está "possuída", diriam uns, afinal a graça - o título entrega - é o nosso pastor se dar mal, provando do próprio veneno.


O roteiro brinca com essa situação, nunca expondo diretamente se a garota de fato é uma endemoniada ou simplesmente sofre de distúrbios mentais sérios. Até quase seu final caminha muito bem, deixando quem assiste ansioso em decifrar as perguntas. Mas ai...ai a coisa fica feia.


Como se não soubesse como encerrar seu filme, o diretor Daniel Stamm subverte totalmente seu discurso apresentando primeiro uma saída racional, para nos últimos três minutos apelar para o "sobrenatural de almeida" e resolver mal e porcamente sua narrativa.



Apesar de podermos supor os motivos para a garota x imputar a culpa da paternidade de seu filho para um garoto, apenas para com isso tirar o foco do verdadeiro pai o exagero do final do filme demonstra que não se sabia exatamente para onde a história estava andando.


O pai que parecia um fanático, aparece dominado e perplexo, o irmão visto como garoto problema, torna-se a encarnação do próprio mal e a menina, que durante a narrativa apresentou desenhos que mostravam a morte da equipe e esconde a identidade do pai de seu filho, aparece desesperada com seu fim.


Uma pavorosa "homenagem" a O Homem de Palha e sua atmosfera de cidade que esconde segredos malignos também marcam essa medíocre sequencia final que destroem qualquer possibilidade do filme ser levado a sério, ou ser simplesmente uma diversão escapista.


Caso o rumo da história fosse aquele inicial, mostrando que o tal exorcismo era uma piada Último Exorcismo (cujo título nessa realidade paralela imaginada por mim, seria deverás irônico) entraria para o hall dos filmes que tentam fugir dos caminhos óbvios, mesmo que a condução da história seja porca , chegando ao ponto de num filme que prega realismo inserir trilha sonora para realçar os momentos de tensão.



Como tudo se encerra com a gloriosa explicação clichê barata, prefira o Exorcista original, ou mesmo o subestimado Exorcismo de Emily Rose, produções que apesar de serem absolutamente sobrenaturais, inseriram suas narrativas em conceitos de realidade, coisa que essa bobagem não consegue nem na forma roubada de produções com muito mais capacidade.




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