segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Demônio
(Devil, 2010)
Terror - 80 min.

Direção: John Erick Dowdle
Roteiro: Brian Nelson e M. Night Shyamalan

Com: Chris Messina, Logan Marshall-Green, Jenny O'Hara, Bojana Novakovic, Bokeem Woodbine e Geoffrey Arend



E lá vamos nós, para mais um filme de "assombração", onde todos os elementos de cena convergem para explorar a realidade fantasmagórica ou no caso dessa produção, demoníaca.

Demônio é o quinto filme de John Erick Dowdle, o mesmo diretor de Quarentena, o remake medíocre de REC, terror espanhol de grande sucesso de crítica. Na verdade, esse é o filme "autoral" de M. Night Shyamalan em um ano em que o diretor/escritor/ególatra pariu o medíocre Último Mestre do Ar e Dowdle foi o diretor escolhido para assinar o filme, e receber as latadas mais pesadas da crítica.


O filme fala de um grupo de pessoas que fica preso em um elevador e acabam tendo de conviver nesse ambiente claustrofóbico enquanto aguardam resgate, ao mesmo tempo em que o espectador fica sabendo (através de uma narração em off dispensável e que faz o filme quase se situado no espectro da paródia ou da fantasia) que o Diabo (sim, ele mesmo) vai julgar aquelas pessoas dentro do elevador e muito possivelmente matar a todos. São todos "pecadores" gente sem fé, ladrões, escroques, salafrários etc.



Por ai, já podemos dizer que Demônio é um filme moralista, já que julga seus personagens e suas falhas pelos olhos de uma entidade onipresente. Além disso, o filme não se furta a dizer que somente a fé é solução para os problemas da humanidade, sendo ela capaz inclusive de vencer o Diabo. Sim, é isso que qualquer ramificação do cristianismo diz e Shyamalan parece não ter esquecido suas lições de catecismo. No livrinho de M. Night fez burrada o Diabo te caçara e te matará sem piedade.


O problema - o maior deles - é que não conseguimos levar a sério o pastiche de tensão que o diretor Dowdle tenta criar. A escolha do elenco é um dos motivos. Nenhum dos atores tem nada de real relevância no currículo, apesar de alguns terem aparecido em pontas em filmes/séries de sucesso. É um elenco de caras conhecidas (pela infinidade de papéis), mas que não tem identidade. E essa carga é levada para seus personagens, que são mostrados quase como arquétipos (temos o grandalhão forte e esquentado, o calado e silencioso, a velhinha, a mulher que usa o corpo para progredir e o falastrão chato que todos odiamos, além do policial traumatizado, do segurança cético e do crente), impulsionados ainda mais pela atuação desastrosa de quase todo o elenco.


Shyamalan continua com sua mania de ligar todos os personagens e narrativas, e de fazer todas as histórias convergirem para o mesmo ponto. O diretor (e aqui roteirista/produtor e chefe) insiste em querer que tudo "faça sentido", numa tentativa falsa de criar no espectador aquela sensação de: "nossa, ele pensou em tudo, que brilhante".



Foi essa a reação de muitos ao final de Sexto Sentido e Corpo Fechado (esse em menor escala), mas muitos começaram a torcer o nariz para o "final surpreendente" a partir de Sinais e declarou guerra aos filmes de M. Night em A Vila. Dai o diretor vive uma sucessão de fracassos retumbantes e erros perturbadores.


Dessa vez optou por não dirigir, mas fica nítido que Dowdle é um aprendiz sanguessuga. Estão presentes em Demônio todos os defeitos de M. Night, porém esqueceu-se de copiar as qualidades do diretor.


Se por um lado sobram frases de efeito fajutas, a já citada "ligação" entre todos os personagens e em especial o final "surpresa", faltam a qualidade inegável de construir bons planos, de saber lidar com a tensão e principalmente de envolver por aquela uma hora e meia o espectador numa outra realidade.



É verdade que Demônio se passa quase todo em um único ambiente, mas no mesmo ano tivemos o excelente Enterrado Vivo para provar como é possível (e como muito menos recursos que Demônio) criar tensão em um só cenário.


Quando tenta criar tensão e alguma atmosfera esbarra no óbvio (o fusível desencapado que o segurança vai verificar, a súbita queda do elevador, o demônio surgindo de onde "menos se espera") e mostra que Dowdle ainda não sabe - ou nesse filme pelo menos - o que quer fazer com sua câmera. O que ele pretendia contar? Uma simples história de horror? Se for isso, faltou horror. Já sei, criar tensão com elementos sobrenaturais? Até tentou, mas os elementos sobrenaturais não podem camuflar a falta de capacidade artística do condutor da história. Então, será que ele não quis falar sobre segundas chances? Talvez, mas ai caímos no terreno do elenco frágil e que não convence ninguém daquela situação.


Os últimos minutos chegam a ser tristes tamanha a falta de noção do diretor (e do "seo" M. Night) em inserir - telegrafado - a repentina "surpresa", que além de ser mal conduzida não faz o espectador esboçar nenhuma reação.


M. Night não é o mesmo. 2010 foi o ano em que o diretor começou a jogar a terra por cima de seu caixão. Mestre do Ar foi uma piada de péssimo gosto e Demônio um arremedo de filme de terror b. Dowdle por sua vez, parece estar ajudando a jogar a terra, e a fazer a produtora de M.Night pagar o pato.

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