terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tetro
(Tetro, 2009)
Drama - 129 min.

Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Francis Ford Coppola

Com: Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Maribel Verdú, Rodrigo de la Serna, Klaus Maria Brandauer e Carmem Maura


Tenho uma sensação dúbia ao perceber a repercussão nos ciclos cinéfilos e da dita, imprensa especializada (o uso incorreto desse termo mereceria uma postagem toda especial) do último - e finalmente lançado no Brasil - filme do quase mítico Francis Ford Coppola.

Desnecessário para os leitores do blog, explicar a importância para a história da sétima arte que o diretor e roteirista americano têm. Suas obras falam por si só e seu trabalho - em especial o inicial - é digno de muitas análises, prêmios e profundo respeito.


Pois bem, Tetro gerou m burburinho muito maior do que imaginei que geraria no país, ajudado pelo momento do lançamento do filme (sem nenhuma outra estréia de impacto para dividir o foco) e pela meteórica passagem do diretor no país, culminando em uma concorridíssima palestra numa universidade de São Paulo e uma desastrosa entrevista ao programa do Jô.



Tetro - pelo menos entre os "especialistas" - vem recebendo muitos elogios e alguns até ousaram inserir o filme numa lista de melhores do ano passado. Ao ler/ver tais constatações chego a duvidar - seriamente - da minha sanidade, ou mesmo do meu olhar para com o cinema.


Será possível, que a grande maioria dos "entendidos" não tenha se exaurido na primeira meia hora do filme? Não tenha percebido o acúmulo de trejeitos exagerados, do uso infeliz do p& b e principalmente da falta de tom da história? Não creio que não possam ter notado como Coppola é enfadonho em sua produção, como é desleixado com seu roteiro e como quer transformar uma história - no máximo - mediana, em um grande épico familiar.


Mais, depois de refletir sobre o filme, percebo que essa não é uma novidade em se tratando do diretor, que há anos não realiza nada digno de nota. Seus filmes pós Apocalypse Now são de qualidade (não todos evidentemente) até superior ao épico de guerra. O Selvagem da Motocicleta, Vidas sem Rumo, Peggy Sue e até mesmo Cotton Club em alguns momentos mostravam o diretor em grande forma. Isso se tornou muito raro nos anos noventa (que produziu apenas Drácula e Tucker de relevante) e inexistente nos 2000.



Coppola, adepto da vinicultura, parece ter esquecido do básico ao contar uma história: que não importa a forma com que é contada, ela tem que de alguma maneira, manter o interesse do espectador naqueles fatos e naqueles personagens.


Tetro é vazio, pois a história do proto-marinheiro Bennie, em busca do passado e do irmão é, além de vista em dezenas de outras produções melhores, melodramática no pior dos sentidos. Tudo é uma epopéia e uma coleção de sentimentalismo barato e clichê.


Apresentando personagens caricatos (como as personagens de Josefina e a vergonhosa aparição da lendária Carmem Maura como Alone), outros simplesmente ruins (outra lenda Karl Maria Brandauer como Carlo) e alguns que ficam no meio termo (José, vivido por Rodrigo de la Serna), que assim como o filme não decide o que é, nem o que quer dizer.



É um thriller? Que investiga os motivos do sumiço de Tetro? Um road movie introspectivo? Quer mostrar a "viagem" interna de Benny e Tetro até a compreensão total de seus papéis no mundo? É um melodrama familiar? Quer contar os dissabores de uma família seriamente abalada pela inveja e cobiça? É um filme de arte "cabeçudo"? Não se importa com os "quês" e "porquês" e como todo filme de arte ruim, divaga sobre o vazio de uma narrativa fajuta e cheia de minúcias desnecessárias?


É tudo isso, o que resulta em duas horas desperdiçadas ancoradas em Vincet Gallo, um ator extremamente inteligente, que conduz até onde consegue o barco furado de Coppola. Estão nele os únicos momentos verdadeiramente positivos do filme. Sempre soturno e desajeitado ao lidar com qualquer outro ser humano, Tetro é uma criatura perdida na terra.



Perdido assim como Coppola, que realiza aqui um dos piores filmes de sua carreira. Pretensioso, tentando criar poesia onde não existe nem prosa.


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