Besouro Verde
(The Green Hornet, 2011)
Ação/Comédia - 119 min.Direção: Michel Gondry
Roteiro: Seth Rogen e Evan Goldberg
Com: Seth Rogen, Jay Chau, Christoph Waltz e Cameron Diaz
Sejamos sinceros. Os fãs da série de TV Besouro Verde cabem numa van. Sendo generoso, cabem em um ônibus. Por isso, quando uma versão para cinema dessa série de TV (e rádio) foi anunciada as manifestações de apoio/satisfação e de ódio/trollagem nerd foram moderadas. Elas começaram a crescer quando Kevin Smith - que ainda é amado pela meia dúzia de nerds que não cresceu - foi anunciado como diretor e roteirista. Logo, o próprio largou o osso alegando que não conseguiria dirigir um projeto com tantas cenas de ação.
Após percorrer o limbo, anunciou-se Michel Gondry para a direção e Seth Rogen e Evan Goldberg (a mesma dupla "responsável" por Segurando as Pontas) para o roteiro. Rogen tomou o filme como um filho perdido, e além de escrever, estrelou e produziu e esse é o principal motivo para o filme ser fraquinho, sem graça e boboca.
Besouro Verde não sabe se é um filme de herói ou uma comédia de ação que explora o já saturadíssimo "gênero" das duplas improváveis, tudo isso ligado ao "humor" de Rogen, que prova aqui que funciona somente quando tem como mentor Judd Apatow, e mesmo assim nem sempre.
A história é bastante simples: temos um herdeiro multimilionário de um jornal (Rogen) que perde o pai (Tom Wilkinson, pagando as contas) e precisa sair do comodismo e assumir os negócios da família. Demonstrando toda sua futilidade, num acesso de raiva motivado por uma xícara de café conhece Kato (o popstar coreano Jay Chou) e tornam-se amigos e parceiros. Ao mesmo tempo, o filme apresenta o potencialmente hilário vilão (Chudnofsky, vivido por Christoph Waltz) que ameaça controlar todas as gangues da cidade de Los Angeles.
Motivado pela "inspiração do herói" cria-se o Besouro Verde que parte do principio de que precisa "chegar junto" do mundo criminoso para poder combatê-lo e acaba sendo confundido com um vilão. O personagem de Rogen alimenta essa fantasia no papel do dono do jornal inspirando sua equipe a produzir cada vez mais material sensacionalista.
Besouro Verde não quer ser mais que uma sessão divertidinha, mas não consegue tirar risadas do espectador. Muito se deve a falta de carisma de Rogen - um protagonista chato e aborrecido, sempre tentando se dar bem - e a química nula entre a dupla Kato e Besouro Verde. Numa comédia de parceiros o elemento fundamental para que ela funcione é a química do "casal". Quem não se lembra de Riggs e Mourtaugh em Máquina Mortífera, por exemplo. Jay Chou limitado pela língua, faz o que pode, mas seu personagem é raso e nem as cenas de artes marciais convencem. Rogen é um sub-Jack Black. Assim como Black, Rogen parece sempre interpretar o mesmo papel, variando o nome e adereços e figurino. Todos os tiques do ator estão em tela e isso prejudica a diferenciação entre seus papéis.
Mais o pior no desempenho de Rogen é que em momento algum acreditamos nele como herói. E mesmo com as eventuais explicações de que a idéia era que seu personagem nunca fosse um herói de ação (mesmo porque Rogen não tem nem o físico para tal), mas um apalermado riquinho que entra "nessa de herói" por diversão, a motivação para a transformação do personagem folclórico em herói de verdade, é tão óbvia e principalmente tão batida que o espectador a telegrafa nas primeiras seqüências do filme.
Faltando química a dupla, resta aos coadjuvantes tentarem marcar presença. Mais nem isso acontece. Edward James Olmos (um ator subvalorizado) tem tanta importância a trama quanto a ponta de luxo de James Franco. Cameron Diaz, em franca decadência, precisa repensar seus papeis e projetos. Ela insiste nas mesmas caras e bocas há uma década e isso só prejudica ainda mais seu personagem que tem o pior momento do longa quando refuta um "avançar de sinal" de um personagem, após se convidada para sair pelo mesmo. E chegamos ao oscarizado Christoph Waltz. Difícil entender qual sua motivação artística para embarcar em Besouro Verde. Na verdade, é até possível entender que o ator quisesse criar um tipo excêntrico e divertido em seu modo sádico de ver a vida (o que de fato funciona no início), mas quando a personagem “surta”, toda a diversão e graça escorrem pelo ralo. Ele se transforma em mais um vilão Z de produções bobocas de Hollywood.
Aliás, é incrível notar como cada vez mais os estúdios gastam mais tempo e dinheiro com filmes visivelmente fracos e que não cumprem nem mesmo sua intenção primordial: divertir a audiência por duas horas.
Mais chocante é ancorar um projeto fadado ao ostracismo nas mãos de um diretor que tem alguma coisa a perder. Mesmo que critiquemos Rebobine Por Favor, (olha Jack Black ai) ou achemos Brilho Eterno um filme pretensioso (eu não acho, mas conheço muita gente que pensa assim) é inegável que o diretor tem criatividade visual e sabe escolher seus filmes, ou pelo menos, tenta ser original.
Aqui ele parece um fantoche de estúdio, relegando seu estilo visual e agindo como diretor contratado realmente. Teria perdido sua magia? Apostado demais em Rebobine e se decepcionado? Ou quis ganhar uma grana com um projeto mais simplista? O fato é que o resultado final é fraco tanto para os padrões de Gondry quanto para o mundo de adaptação de quadrinhos/games/series que com pouquíssimas exceções infantilizam o mercado americano de maneira nunca antes vista.
A cada Cavaleiro das Trevas, ou o divertido Homem de Ferro, temos um Demolidor, Motoqueiro Fantasma, Quarteto Fantástico, Hulk, Os Perdedores, Jonah Hex, Esquadrão Classe A e afins. Os executivos parecem crer que qualquer coisa funcione na tela. E não imaginam que Besouro Verde, uma série de rádio transformada em série de TV nos anos 60 - que como única contribuição para a história das artes é a primeira chance de Bruce Lee nos Estados Unidos - não vá funcionar como uma comédia de ação estrelada por Seth Rogen. A série é produto de seu tempo, e deveria ter sido deixada no limbo.
Ainda mais quando se constata que ninguém fez o dever de casa, que seu protagonista é repugnante e inconseqüente e que a história que o conduz a redenção é patética, recheada do pior que os "dady issues" podem conter amparado pela falta de percepção dos roteiristas e de seu diretor, sobre o conceito de verdade e justiça, que para seu protagonista parece só ser válido quando o que conta são seus interesses mesquinhos de manipulação.
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