terça-feira, 26 de abril de 2011

Notre Jour Viendra
(Notre Jour Viendra, 2010)
Drama - 90 min.

Direção: Romain Gravas
Roteiro: Romain Gravas e Karim Boukercha

Com: Vincent Cassel e Olivier Barthelemy



Quando li que o diretor desse drama existencial era o filho de Costa-Gravas imediatamente imaginei que o óbvio seria que, vindo de um lar politizado, Roman Gravas rechearia seu filme de discursos políticos e criticas a sociedade.


Notre Jour Viendra (em tradução Nossa Hora Chegará) não chega a levantar diretamente bandeiras, mas faz sim suas críticas a uma sociedade que não dá espaço e maltrata aqueles que são diferentes ou que não se enquadram em lugar algum.


O protagonismo divide-se entre o adolescente todo hormônio Rémy (Olivier Barthelemy, de Satã e Inimigo Público nº1 - Parte 2) e o psicólogo perturbado e quase niilista Patrick (Vincent Cassel) que se encontram em uma noite e passam a correr atrás de alguma coisa ou lugar que nem mesmo os personagens conseguem definir com exatidão.



Remy tem problemas em casa, odeia sua mãe e irmã, não aceita seu corpo nem sua sexualidade (na verdade nem sabe se tem alguma) e é enganado por sua "namorada virtual". Patrick é orientador em uma entidade francesa e apesar de ser um grande mistério - em especial sobre suas motivações que nunca são claramente expostas - nota-se que vive em profunda agonia e tristeza e enxerga no encontro acidental com o garoto uma oportunidade de "salvá-lo" ou ensiná-lo.


Durante o processo, Roman apresenta uma série de situações exageradamente absurdas e com a intenção clara de chocar o espectador, para criticar a sociedade morta-viva e seus conceitos perturbados e ultrapassados, segundo a idéia do diretor. Entre essas situações, destaca-se imediatamente a sequencia em que Cassell confronta um casal em uma jacuzzi ou a do casamento em que Remy força os convidados a se beijarem contra suas vontades ou a perversão sexual de Patrick encerrada abruptamente.


Não existe exatamente uma jornada, apenas uma obsessão de Remy com a Irlanda, onde "descobre" que boa parte da população é ruiva como ele, o que (em sua cabeça) talvez o ajude a sentir-se menos rejeitado/excluído.



Patrick por sua vez dá corda ao garoto e Cassell consegue apresentar um de seus mais intensos desempenhos em anos, sempre a beira do colapso mental eminente.


Gravas parece ser um diretor adepto do improviso ou que dá muita liberdade a seu elenco para brincar com o texto, transformando as situações absurdas (o confronto na concessionária é impagável) em realistas apenas pelo uso inteligente do dialogo. Esteticamente, tenta deixar cada situação vivida por seus personagens em seu road movie pitoresco, com uma cara própria mas que não fuja da imagem geral do filme.


Por vezes exagerado em sua tentativa de soar poético, mas criticando com eficiência certas questões hipócritas do ser humano e mais do que isso, sendo sensível ao mostrar um garoto absolutamente perdido que encontra alguém "louco" o suficiente para ouvi-lo e tentar entende-lo, sem julgar suas intenções ou agredi-lo somente por ser diferente.

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