Rush: Beyond the Lighted Stage
(Rush: Beyond the Lighted Stage, 2010)Documentário - 107 min.
Direção: Sam Dunn e Scott McFadyen
Roteiro: Sam Dunn e Scott McFadyen
Confesso que nunca fui fã da banda canadense Rush. Talvez por enxergar uma excessiva preocupação com cada nota e cada pedaço de som que me causava um aborrecimento antes mesmo de ouvir a banda. Confesso também que minha opinião vem mudando um pouco com a idade com a percepção de que não existe uma auto-indulgência no som produzido por Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart e que a banda conseguiu criar um som único imitado e reproduzido (com qualidade inferior) por diversas bandas.
O documentário dirigido por Sam Dunn e Scott McFadyen (os mesmos de Metal, Global Metal, Flight 666) é inteligente ao não tentar explicar a música da banda, mas conhecer e apresentar quem são os músicos por trás da banda e como suas personalidades influenciam suas canções, seguindo muito de perto a linha do que o diretor havia feito em seus dois primeiros documentários e deixado de lado no terceiro, onde a música e a tour do Iron Maiden eram o foco de seu filme.
A banda é apresentada como uma das únicas - em sua geração - bandas geeks/nerd do planeta. Geddy Lee e Alex Lifeson se conhecem desde a escola e Neil Peart sempre foi o garoto estranho da escola e juntos criaram o som "intelectual" que caracteriza a banda até hoje.
O mais interessante na dupla (Lee e Lifeson) é que em nenhum momento eles parecem ser rockstars, pelo contrário. A cada nova cena o "anti-estrelismo" da dupla é reforçado, o que faz do Rush uma banda de caras comuns, talvez uma das explicações da identificação de seu público com a banda. Longe de narrar história de bebedeiras, acessos de raiva e violência sem sentido, Beyond the Lighted Stage apresenta cada elemento da consolidação da banda e o resultado do que cada um desses personagens soma ao caldo produzido pela banda.
Os fãs famosos se fazem presentes com depoimentos muito verdadeiros - em especial Billy Corgan, ex-Smashing Pumpkins - que revela sua paixão pela banda e como utilizou a música do Rush para tentar comunicar-se com seus pais.
O único problema do filme - até esperado - é que pela quantidade de informações, cada álbum da banda é apresentado sem grandes detalhes, com paradas estratégicas em momentos importantes, criação de hits, discussões sobre a sonoridade de determinado álbum e repercussão junto ao público e crítica. Mas Dunn faz isso de forma orgânica e mesmo com informações de menos (ficamos querendo saber mais sobre o processo de composição da banda, por exemplo) o filme não perde em ritmo e continua sendo um documento importante sobre o relacionamento da banda e fãs e da criação da música do Rush.
O grande destaque do filme surge quase em seu final e narra os episódios envolvendo o baterista Neil Peart. Fugindo do óbvio sensacionalismo e do "close no olho, porque ele vai chorar", mostra as tragédias de sua vida sem apelar, com bom gosto e mesmo assim, ainda demonstrando emoção sobre as dificuldades que Peart teve de superar nesse difícil período de sua vida.
Sam Dunn vem demonstrando grande talento para a direção e seu background como antropólogo o faz saber como lidar com as histórias de seus filmes que são ancoradas em personagens interessantes, que precisam ser ouvidos sem preconceitos. Dunn presta um grande serviço não só aos fãs das bandas e estilos que documenta, mas a música e a sociedade por não abordar seus assuntos com camadas de preconceito ou com receios de apresentar seus personagens como homens e mulheres perfeitos. A esperar o próximo passo do diretor, que vai consolidando-se como um dos mais criativos e importantes de sua geração.
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